Deus não tem piedade dos sodomitas

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Havia um motivo simples para Phillip, um jovem que ainda estava estudando para entrar no clero, tivesse um cômodo exclusivo no mosteiro. Os outros monges não suportavam a presença do loiro por muito tempo, o seu otimismo era dito como irritante e incômodo na maior parte do tempo e nenhum deles gostava de como Phillip, quando ia para a cidade, se ajoelhava perto de uma daquelas crianças famintas e lhe dava o pedaço de pão que seria o seu almoço.

Na primeira vez que fez isso, poucos anos atrás, foi castigado e ficou três dias sem receber comida – o que não adiantou de nada, pois Damien trouxe o que comer – com a justificativa de que não era grato pela comida e pelo abrigo que tinha sem que precisasse fazer nada além de os estudos.

Os monges pareciam esquecer que era Phillip que ficava o dia todo limpando o mosteiro, cuidando dos animais e só tinha realmente tempo para estudar de noite a luz de velas, em um quarto afastado e sem porta, na parte mais distante de onde estava localizada a igreja.

Ao menos a vista da janela era a mais bonita, apesar de a queda perigosamente alta e íngreme se olhasse para baixo, onde no fim ficava a floresta.

A vela queimava lentamente e Phillip escrevia no papel com a pena e a tinta, em uma mesa que ficava na frente da janela e oposta a porta. Estava fazendo uma cópia da bíblia, um trabalho que deveria ser apenas de monges experientes, porém tinha sido castigado por não limpar bem o chão do salão comum e deveria terminar as mais de mil páginas em vinte dias.

Phillip sabia que não conseguiria e os outros monges também, ninguém jamais conseguiria em tão pouco tempo, mas esse era o propósito, o jovem sabia que o objetivo era que falhasse.

Suspirou cansado e olhou para a janela, a lua e as centenas de estrelas estavam tão bonitas aquela noite, ao mesmo tempo que fazer a cópia do livro sagrado não era exatamente a coisa mais divertida de se fazer.

Até que a chama na vela tremulou levemente, mas não havia corrente de ar alguma. Virou o corpo na cadeira de madeira e deu um sorriso ao perceber que não estava mais sozinho:

Damien!

Levantou-se da cadeira e andou rapidamente para abraçá-lo, conseguindo apenas passar os braços ao redor do tronco do anticristo. Os dois tinham praticamente a mesma idade, mas ele era bem mais alto que Phillip. E maior. Sentiu aqueles braços ao redor do corpo, retribuindo o gesto carinhoso.

— Eu também senti a sua falta, Pip. — O abraço não durou muito tempo e viu Damien com um pequeno sorriso quando se afastou alguns centímetros. — Perdi muita coisa?

O anticristo ficou ausente por mais ou menos sete dias inteiros, para resolver alguns assuntos com o pai dele, Satanás. Contrariando o bom senso, aquilo nunca realmente assustou o loiro.

— O monge me colocou para escrever a cópia da bíblia como punição por não ter limpado o chão do mosteiro direito.

O moreno franziu as sobrancelhas ao ouvir a nova informação, parecia incomodado.

— Eu poderia matar se tu pedisse, você sabe disso...

— Mas esse não foi o nosso acordo, Damien. — Sorriu tranquilamente apesar de a sugestão de assassinato, já acostumado com os comentários sádicos. Ele nunca havia feito nada que falava à Pip, pelo menos não na sua frente. — Ao invés disso, eu aceitaria ajuda com o livro.

Foi encarado por cinco segundos inteiros antes que o demônio revirasse os olhos vermelhos. Ele chegou a abrir a boca para começar a falar, mas não teve a chance:

— Porém, eu acabei de terminar cento e cinquentas páginas. — Sorriu sem jeito. — No momento, um descanso soa como uma ideia agradável.

— O que você quiser, Pip. — Damien ficou visivelmente mais satisfeito por não precisar encostar no livro sagrado imediatamente.

Santo SacrilégioOnde histórias criam vida. Descubra agora