O silêncio que me cerca

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O dia em que aprendi a nadar no espaço.

Brasil, Minas Gerais – 1932

A casa de meus avós era formidável! Para meus primos e eu aquele lugar era um campo aberto para imaginação, ainda mais com 12 anos de idade, aonde tudo parecia maior do que realmente era. Aquela fazenda era o nosso refúgio de férias escolar durante o verão! Devo admitir que passava o ano letivo pensando naqueles campos cobertos por uma vegetação rasteira e verdinha, no vento suave tocando o meu corpo e me refrescando nas tardes ensolaradas de verão enquanto sentado em uma colina acompanhado de meus primos, eu apreciava a vastidão daquele pequeno mundo a nossa volta, cheio de mistérios e criaturas fantásticas que nem se quer eu poderia imaginar mais tinha em mim o desejo mais puro e íntimo de me aventurar!
Naquele ano tudo foi diferente, lembro-me dos meus pais conversando sobre uma tal Revolução Constitucionalista e que em 1930 as coisas saíram do controle ou algo do tipo e que eles precisavam lutar contra o tirano Getúlio Vargas. Algum tempo depois meu pai me levou até a casa de meus avós e disse para eles cuidarem de mim pois ele e minha mãe tinham que partir para São Paulo e quando voltassem estaríamos novamente vivendo sobre um governo democrático.
O importante era estar naquele paraíso sem as preocupações de uma mente adulta, porém infelizmente meus primos ainda demorariam uma semana para chegar.
Na manhã seguinte acordei bem cedo, decidi que iria explorar toda fazenda! Quem sabe se eu tivesse alguma sorte encontraria um tesouro mágico ou algo incrível para mostrar aos meus primos quando eles chegassem!
Meu avô me alertou para não ir muito longe e tomar certos cuidados, os campos escondiam ninhos de cobras, seria terrível pisar em um por acidente. E lá fui eu! Andei por quilômetros até perder a fazenda de vista, eu queria ir cada vez mais longe e longe! Me sentia em uma grande exploração e em minha imaginação já havia lutado com guerreiros formidáveis e inclusive derrotei um lobo encantado! O pobre animal só caiu após um bom corte de minha espada mágica. Quase não sobrevivi!

- Bom, acho que é hora de voltar para casa, meus avós devem estar preocupados. Poxa, seu meu avô descobrir que fui muito longe ele me mata!

Foi então quando tudo se transformou em nada. E o nada era tudo.

- E aqui estou eu, flutuando no espaço, apenas observando as estrelas em volta de mim. Uma mais bela do que a outra, tudo que eu mais queria era poder tocá-las e ir aonde nenhum ser jamais foi. Aliás, de onde elas vieram? Será que elas são tão sozinhas assim como me sinto agora? Pensando bem, não somos tão diferentes afinal, apesar de possuírem um brilho especial elas estão tão longe uma das outras que o brilho glorioso que elas emitem se tornam apenas pontinhos coloridos ao longe. Existe tanta escuridão aqui, sinto que minha existência está desaparecendo aos poucos, será que eu deveria ver no que vai dar? Será que vou me transformar em algo incrível?
Esquece! Eu preciso sair, eu tenho pessoas que se importam comigo, meu avô vai me matar! Mais se eu achar a saída, vou contar para os meus primos sobre este lugar, eles vão pirar.

Comecei a tentar me mover pelo vácuo do espaço, movia meus braços e pernas, mais consegui apenas ficar de ponta cabeça. Patético! Pelo menos ninguém está me vendo fazer isso.

                                ***

A quanto tempo estou aqui?
Não sinto fome, sede e muito menos cansaço. Pouco a pouco vou me perdendo na escuridão do espaço e dentro de mim sinto um vazio crescente que dói mais não sangra! Eu tentei gritar e pedir ajuda, entretanto nenhum som consegui emitir e depois de um certo tempo desejei a morte.
De repente ouvi uma voz.

- O que faz aqui garoto? Está perdido?

Era surpreendente, nunca vi nada igual!
Ele ou ela não se parecia com nenhum ser da terra ou pelo menos os que eu conhecia.
A pele dele ou dela era de cor prata que emitia uma luz resplandecente iluminando todo aquele lugar. Os seus olhos como ouro fixados em mim como se eles pudessem ver minha alma e aquilo me deixava inquieto.
Ele usava uma roupa verde esmeralda com detalhes em azul marinho, um ser divino de fato, será que é um ser sobrenatural? Um alienígena? Uma entidade cósmica? Ou quem sabe um deus?

Continua.

O dia em que aprendi a nadar no espaço Onde histórias criam vida. Descubra agora