O início de tudo - parte II

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MAKTUB

Quatrocentos anos haviam se passado e finalmente estávamos pensando em voltar para casa. Nossa vida na Índia foi algo de muito aprendizado, nossa cultura se mesclava na daquele povo de forma interessante e eu aprendia cada dia mais com Gihyeon e os outros.

Enquanto estivemos lá, meu amigo começou a dar aula de filosofia em alguns centros de estudos e assim íamos ganhando a vida, na frente das pessoas eu era seu animal de estimação e à noite éramos dois amigos aprendendo sobre o mundo. Nessa época tive a oportunidade de conhecer Syeonu e Hyeongwon – que devido a modernidade da língua coreana passaram a se chamar Hyunwoo e Hyungwon, respectivamente -, e ouvi suas histórias e como foi difícil o mundo humano para si. Ao ouvir aquilo algo bom se apossava do meu coração, eu não me sentia esquisito, sentia-me parte de algo maior e especial.

Mas então uma guerra estranha surgiu, algumas nações que eu só conhecia por nome se juntaram para lutar umas contra as outras, chamavam-na de guerra mundial. Hyunwoo e Hyungwon foram os primeiros a irem embora, precisavam ajudar e em seu sangue corria essa obrigação. Logo depois Kihyun – o novo nome de Gihyeon – foi convocado pelo conselho da guerra de um desses países a contribuir com suas estratégias.

- É muito arriscado levá-lo junto caro amigo, não posso garantir sua segurança e temo que eles te capturem para coisas piores – me disse com pesar – Volte para casa, tenho um amigo que está cuidando de lá e já deixei instruções para o receber.

Kihyun afagou minha cabeça e me abraçou.

- Prometa que vai se manter a salvo. Quero revê-lo – disse meio abafado.

- Eu também – disse sincero – Quero rever todos vocês.

Nos despedimos no cais e dentro de uma jaula esquisita, voltei para minha casa, que agora se chamava Coreia.

1914

Quando minhas patas pisaram o solo coreano senti minha cabeça doer e um zunido forte invadir minha audição, mas estranhamente meu corpo estava em paz, eu sabia que pertencia aquele lugar e voltar para casa trazia uma sensação indescritível dentro de mim. Tudo estava diferente, as ruas estavam lotadas de modernidade e tecnologia, mas nada tirava o sabor adocicado de 'lar' dos meus lábios.

Fui levado por um carro até uma região mais afastada da cidade, e sorri ao perceber que nossa casa ainda era numa região mais nativa, porém estranhei quando o veículo seguiu montanha acima. Pararam um pouco abaixo do topo onde uma escadaria levava até uma mansão. Havia um casarão central e mais dois posicionados nas laterais, a frente das casas estava um belo jardim com um lago artificial recheado de carpas. Dois rapazes fortes me levaram até a entrada daquele local e saíram sem dizer uma palavra.

Olhei para a porta aberta e avistei a silhueta de um homem na casa dos quarenta que caminhava calmamente até mim, este usava um conjunto de roupas brancas simples e segurava um colar de contas. Ele parou em frente à minha jaula e cuidadosamente a abriu, fazendo uma reverência de noventa graus.

- Seja bem-vindo, mestre.

Sai receoso observando o homem ainda curvado e pigarreei, não sabia se deveria falar ou não.

- Por favor mestre fique à vontade, Gihyeon-nim me deixou a par de toda a situação – foi o suficiente para me deixar relaxado.

- Ah, obrigado. Acho que você pode se levantar – prontamente o ancião me obedeceu e pude enfim vislumbrar seu rosto, este que não me parecia estranho – Nós já nos conhecemos antes?

Vi os olhos do homem ganharem um brilho vívido quando este encarou os meus.

- Estou lisonjeado que recorde de minhas feições, mas não nos conhecemos antes mestre. O senhor conheceu minha ancestral, na verdade o senhor a salvou.

Matthew - Série O Conto dos Seres CelestiaisOnde histórias criam vida. Descubra agora