A rotina se torna cada vez mais cansativa e isso é simplesmente inevitável, mas é infinitamente pior quando o cotidiano repetitivo vem acompanhado da insegurança e do medo, medo de que algum dia a pessoa que você mais ama não volte pra você, de que machuquem seu maior tesouro, de que tirem o que mais importa de você. E era isso que eu vivia todos os dias: uma rotina vazia e um medo constante.
Admito que ser casada com um ninja não é fácil, é até um pouco assustador na minha opinião. A cada missão, a cada risco que seu amado precisa correr o frio na barriga e medo de que ele não volte é inevitável, principalmente quando não se tem mais ninguém pra chamar de seu... E era assim comigo, em todos os meus dias, sem nenhuma exceção, o medo que me assombrava e insistia em me perseguir sempre estava ali, era meu pavor de perder a única coisa que ainda importava, de que tirassem Kakashi de mim.
Estava imersa em meus pensamentos naquela madrugada de um silêncio ensurdecedor em Konoha, meu corpo virava-se de um lado para o outro na cama enquanto minha mente seguia em um turbilhão intenso, porém acabei sendo afastada de todos meus devaneios logo que algo finalmente irrompeu o silêncio noturno: o som da fechadura que finalmente fora destrancada após cinco dias estando completamente só, o som que anunciava o retorno de Kakashi e o fim da tamanha saudade que fervia em meu peito. Ao chegar a porta recebi um marido cansado, porém tão feliz em me ver quanto eu já que não tardou em me prender com firmeza em seus braços, que eram meu cantinho de aconchego, e que eu tinha certeza de que era só meus. Envolvi-o num ósculo intenso e repleto de sentimentos e volúpia, com a saudade e alívio em vê-lo novamente aqui, vivo e completamente inteiro para mim.
Toda minha angústia convertia-se na mais pura alegria em estar totalmente protegida nos braços de meu esposo, do meu Kakashi. Finalmente eu me sentia completa de novo.
O tempo parecia correr quando eu estava com meu marido, eram dias inexplicavelmente agradáveis simplesmente porque ele estava aqui, porque minha solidão tinha ido embora por algum tempo. Isso foi mais perceptível quando era hora de ficar sozinha de novo já que Konoha precisava de seu melhor ninja — modéstia a parte — para mais uma missão. Confesso que me sentia honrada em assistir o prestígio de meu esposo, mesmo tendo que passar a maior parte do meu tempo sozinha.
— Me promete que vai tomar cuidado?
— Você sabe que eu sempre tomo, S/N. Afinal, eu preciso voltar pra você.
— Eu te amo muito. — Encerrei com um selar nos lábios de Kakashi, sorrindo boba enquanto o assistia indo embora mais uma vez. Era dolorido, mas eu sempre tentava pensar que ele logo voltaria pra mim e estava sempre confiando em sua promessa de voltar para casa em segurança, de voltar pra mim estando inteiro, estando bem.
A solidão vinha me consumindo e machucando de forma avassaladora mesmo que tivessem se passado apenas alguns dias, mas era muito estranho cozinhar só pra mim, dormir sozinha naquela cama tão grande e passar tanto tempo sem ninguém era simplesmente desagradável. Seria natural já ter me acostumado a ficar sozinha, estar somente eu rondando por aqueles cômodos tão quietos, mas eu não conseguia simplesmente aceitar — e nem queria — estar sem Kakashi.
Meus medos começavam a aflorar à medida que o tempo continuava a correr e nada de meu marido voltar pra casa, não podia ouvir sua voz anunciando que estava de volta, que estava bem e o fato de não estar abrigada em seus braços me trazia uma dor imensurável, que ia me destruindo por dentro. Esses pensamentos me conduziram ao sono mais perturbador que eu já tive, toda uma noite girando em torno de uma constante repetição de pesadelos terríveis. A morte de Kakashi vinha acompanhada de um riso demoníaco e aterrorizante, que me fazia pensar que me renderia a um completo delírio a qualquer instante.
Acordei assustada com meu coração mais acelerado do que nunca, a boca seca e gélida enquanto todo meu corpo suava frio fazendo-me sentir à beira de um desmaio ali mesmo. Lágrimas incontroláveis desciam por minhas bochechas, tornando meus olhos inchados e de uma vermelhidão absurda. Agora meus medos pareciam próximos como jamais estiveram.
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O medo vive na porta ao lado.
Short StoryUma missão mal sucedida lhe traz notícias terríveis. E então, o que você faria se seu maior medo se tornasse realidade? Qual seria sua reação se no fim perdesse a última coisa que tem? Esta história em um único capítulo apresenta caráter imersivo e...