Um doloroso e trágico espetáculo surge diante de mim: retirei a cortina da
corrupção do homem. Essa palavra, em minha boca, é isenta de pelo menos uma
suspeita: a de que envolve uma acusação moral contra a humanidade. A entendo
- e desejo enfatizar novamente - livre de qualquer valor moral: e isso é tão
verdade que a corrupção de que falo é mais aparente para mim precisamente
onde esteve, até agora, a maior parte da aspiração à "virtude" e à "divindade".
Como se presume, entendo essa corrupção no sentido de decadência: meuargumento é que todos os valores nos quais a humanidade apóia seus anseios
mais sublimes são valores de decadência.
Denomino corrompido um animal, uma espécie, um indivíduo, quando perde
seus instintos, quando escolhe, quando prefere o que lhe é nocivo. Uma história
dos "sentimentos elevados", dos "ideais da humanidade" - e é possível que tenha
de escrevê-la - praticamente explicaria por que o homem é tão degenerado. A
própria vida apresenta-se a mim como um instinto para o crescimento, para a
sobrevivência, para a acumulação de forças, para o poder. sempre que falta a
vontade de poder ocorre o desastre. Afirmo que todos os valores mais elevados
da humanidade carecem dessa vontade - que os valores de decadência, de
niilismo, agora prevalecem sob os mais sagrados nomes.
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O Anticristo
Non-FictionEste livro pertence aos homens mais raros. Talvez nenhum deles sequer esteja vivo. É possível que se encontrem entre aqueles que compreendem o meu "Zaratustra": como eu poderia misturar-me àqueles aos quais se presta ouvidos atualmente? - Somente os...