Na segunda-feira, Henrique chegou ao escritório antes das nove.
Tinha um encontro importante com um importador e precisava estudar a
proposta que ele lhe fizera.
Sua secretária colocara algumas cartas abertas sobre a mesa, incluindo
uma que, por ser pessoal, ela não abrira. Henrique apanhou o envelope
manuscrito e, não reconhecendo a letra, olhou o remetente e estremeceu:
PIERRE LEGRAND
O carimbo era de uma prisão em Lyon. Revirou a carta entre os dedos,
pensativo. A carta fora enviada de uma prisão. Pierre estaria preso? Por que
lhe escreveria?
Curioso, rasgou o envelope, apanhou a folha de papel dobrada, abriu-a
e começou a ler. À medida que lia, seu rosto foi enrubescendo e seu cenho
foi se fechando. Quando terminou, estava pálido.
Então era isso? Maria Eugênia chegara a apaixonar-se por aquele
patife? Entregara-se a ele, traindo sua confiança?
Talvez Pierre estivesse mentindo. Mas como duvidar, se ele sabia que
Maria Eugênia não estava grávida? Só podia ter descoberto isso se tivesse
mesmo tido intimidade com ela.
Henrique passou a mão trêmula nos cabelos, como para afastar
aqueles pensamentos dolorosos que o deixavam arrasado.
Maria Eugênia mudara muito depois do nascimento de Dionísio. Mas
essa história escabrosa ocorrera antes, quando ela se mostrara insensível,
fútil, revoltada.
Algumas lágrimas corriam pelo rosto de Henrique, e ele não se
importava em enxugá-las. Ele fora um marido fiel. Aceitara relacionar-se
com Marina para ajudar Adele e também, por que não dizer, pela
possibilidade de poder ser pai, o que de outra forma seria impossível.
Maria Eugênia teria feito isso para vingar-se dele? Quando em Paris,
ela deixara transparecer sua revolta por ele haver aceitado a proposta de
Adele. Mas Pierre dizia que ela estava apaixonada; que, quando ele estivera
no Brasil tentando reconquistá-la, ela só não foi com ele para não deixar
Dionísio.
Henrique reconhecia que ela, de fato, apegara-se muito ao menino.
Essa justificativa era perfeitamente provável. Nesse caso, ela não o amava
mais. Preferia o amor daquele patife desclassificado ao dele, que sempre
fora um marido dedicado e honesto.
Pierre estava preso, dizendo-se inocente, mas Henrique não acreditava
nisso. Além do mais, ameaçava-o, pretendendo contar essa história infeliz
aos jornais de Paris, cidade onde eles tinham uma filial da empresa, eram
conhecidos e respeitados.
Uma raiva surda tomou conta de Henrique. Se naquele momento
Pierre aparecesse em sua frente, certamente não responderia pela sua vida.
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NADA É POR ACASO - ZÍBIA GASPARETTO
SpiritualRomance Mediúnico ditado por Lucius... Uma mãe estéril, um menino indesejado, uma ligação de puro e profundo amor, reunidos em três histórias parecidas, porém com desfechos surpreendentes. Nesta emocionante história, aborda-se o tema de mulheres que...