eu quero vomitar

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se deus quem me tornastes eu,quem o tornastes deus?não existe democracia no céu?se sim, o voto é de papel?vos falo, irmãos,enganaste e a mim?não sinto-me anjoestou a cair

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se deus quem me tornastes eu,
quem o tornastes deus?
não existe democracia no céu?
se sim, o voto é de papel?
vos falo, irmãos,
enganaste e a mim?
não sinto-me anjo
estou a cair.
e cair.
e cair.
e
cai(m).

meus sonhos estão todos de partida, eu os vendi a um precinho de dar dó. agora não durmo direito, sinto vontade de sumir e dor física às vezes me dá prazer pelo simples fato de eu me sentir vivo. não quero ser um fantasma, mas cadê eu mesmo? fiquei invisível de uma hora pra outra, que está acontecendo? quero morrer de cirrose, beber tanta ambrósia que quero ver o sol quadrado. quadrado e depois triângulo e enfim losango. eu estou despedaçando. há lascas de mim em cada canto que vou e cansei de tentar catar tudo pra depois colar em mim. eu estou sumindo, estou ficando desbotado. minha pele é desbotada. meu cabelo é desbotado. minha vida é desbotada. vou me colorir outra vez. vou me colorir. será que se eu me jogar no mar vou ficar azul? sempre gostei de azul.

me tire daqui, estou choramingando. quero desenhar nos meus pulsos com uma adaga. vou fazer uma serpente. será que assim eu vou pro inferno? sinceramente, o inferno está vazio. os demônios somos nós. tomamos conta do universo. tomamos conta, agora é nosso. meu senhor não ia gostar se soubesse que escrevi isso. deus vai me castigar por eu ter escrito isso - sei que vai. sei que irá me chamar, sou anjo mau, vai me castigar. mas eu não entendo. por que ele, não eu? não há democracia por aqui? falamos tantas línguas, não entendemos o sentido de "impeachment"? acho que estou sangrando. sim, eu estou sangrando. dizem que sou anjo, mas não consigo ser anjo. não consigo fingir felicidade. eu não sangro, mas estou sangrando.

me enrolaram em lírios, me empurraram harpas, me ensinaram a tocar. eles são loirinhos e cacheadinhos. então que há de errado nos meus ralos fios negros? não sei quem sou, o que sou, pra onde vou. estou despedaçando. sinto-me pesado, acho que vou cair do céu. sou estranho, deslizo por aqui sem estar de fato aqui. às vezes sinto que sou um erro. por que fez-me com tantos defeitos, vosso criador? és tão amado, quero um pouco disso também. pintaram minha cabeça de amarelo. meu deus, que há de errado comigo? os anjos fingem também ou sou o único? anjos morrem? quero morrer. sim, eu quero me desfazer.

enfiaram lentes em mim, agora meus olhos são azuis. me encaixaram no padrão, me sinto uma mercadoria. meus olhos secos ardem, estou pensando no que fazer. rir e voar são tarefas chatas de se fazer quando tornam-se habituais. quando é noite e todos descansam, eu choro de dor em silêncio para não descobrirem. minhas lágrimas quentes não brilham, eu não sou como os outros anjos. por que me enganaram? estou a gritar: por que me enganaram?

usaram de mim. usaram de mim. os anjos, todos eles ali. usaram de mim. que estou fazendo aqui? tropeço na felicidade, despenco na bondade, chuto a honestidade. este lugar pega fogo nos meus olhos, pois estão me tirando daqui. se deus quem escrevestes meu destino, odeia-me. sou frágil, uma porcelana brega que ninguém precisa mais. fui só um hospedeiro, me sugaram, agora não querem mais. ninguém me quer mais. não me quero mais. nunca me quis. minha criação foi um erro. todos se espantam. desacreditam de mim, deus não comete erros. deus não comete erros. então quem criou-me senão o próprio?

meu peito inflama, as vistas rolam. sinto-me um nojo. quero vomitar. estão me cuspindo. quero vomitar. o sangue escorre de mim, mas ninguém me golpeou. chamama a mim de traidor por eu não trair a minha dor. não traí a mim mesmo, mas sinto que sou mau para mim mesmo. para onde vou, longe do céu? quem estabeleceu as regras? não teve voto? não faço parte daqui, mas sem isso não sei mais quem vou fingir ser. eles disseram, vocês disseram, todos disseram. eu não era um anjo? eu não era parte de vocês? eu não era um anjo?

estou despedaçando. estou caindo, caindo, caindo, caindo. minhas asas não ruflam. eu não sou um anjo. vocês me enganaram. eu não sou um anjo. caindo, minhas lágrimas queimam e derretem minha pele e eu viro cera e despenco líquido para as lambidas lascivas das línguas ardentes de fogo que me esperam: vocês me enganaram. eu não sou anjo, eu não sou anjo. por que não consigo voar? por que mentiram pra mim? eu não sou anjo, eu vou queimar. estou assustado, eu vou queimar. já queimei. e vocês me respiram na forma gasosa e dizem que é ar fresco, pode apostar. vocês me enganaram, agora vou enganar teus anticorpos. vou fazê-los vomitar. vou fazê-los vomitar. céus, como eu quero morrer! eu quero tanto vomitar! eu não sou mais um anjo. e percebi que, com ou sem mim, vocês são anjos. vocês são anjos. vocês são uns anjos.




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— um brinde às pessoas que
nos abraçam, alega sermos
morada, depois nos chutam
da tua vida como se não
fôssemos mais nada.
um brinde!
um brinde!

fallen angel ~。☆Onde histórias criam vida. Descubra agora