único.

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“Podem haver tempos mais bonitos, mas este aqui é nosso .”

— Jean-Paul Sartre

agora;

O pensamento invade sua mente no momento mais inesperado.

Um pequeno vilarejo próximo à Plumeria estava necessitando de suprimentos, então era dever da rebelião ir e ajudar. Trabalho fácil, já havia se tornado rotina. Adora nunca diria em voz alta mas— às vezes, ela sequer notaria o tempo passando, a lua se pondo alto e baixa no céu e palavras que saiam de sua boca à estranhos que ela nunca veria novamente. Adora—não, She Ra— aparecia e então havia o choro de alegria para a guerreira lendária que salvaria a todos. Um título grande demais para uma pessoa grande demais que ela deveria ser e demais e demais e dem—

— Você poderia nos dar sua graça, princesa?

Ela vira, pisca. Duas garotas, fios coloridos e sorrisos brilhantes, encarando-a. E tem algo nisso, algo que ela não consegue nomear exatamente. O jeito como a de cabelo curto esbarra os dedos nas mãos da de cabelo comprido; o jeito como elas se olham, e então para Adora, e então se olham novamente porque é como se isso fosse a única coisa que elas podem sequer pensar em olhar. E Adora se lembra de Glimmer dizendo que She Ra costumava curar as pessoas, dar a elas sua graça e elas nunca seriam vítimas de qualquer coisa maligna que o mundo teria a oferecer.

— Sim, claro — É o que sai de uma boca, mas ela não tem certeza de como fazê-lo. Será que usa sua espada? Será que há o risco de uma delas aparecer com asas? Talvez as mãos— sim, é, isso parece certo. 

As meninas entrelaçam os dedos e Adora quer ficar cega apenas para não invadir algo que parece tão, tão—

Qual o nome disso?

— Eu as dou minha graça. — Ela diz, colocando a própria mão sobre a das meninas, e elas sorriem entre risadinhas e correm, mãos dadas e tem algo, em algum lugar do fundo de sua mente sobre o porquê de haver esse sentimento estranho e diferente e esmagador em seu peito e—

Ah.

Sua boca seca de repente. Ela não diz, nem se deixa pensar a respeito. Mais tarde, quando ela menciona as duas meninas sorridentes que queriam receber sua graça juntas para Glimmer, sua resposta se pendura pelo ar com facilidade, como se fosse um simples quadro na parede da princesa.

— Elas devem estar juntas. Tipo, juntas, juntas, e querem ficar assim pra sempre.

Ah.

Glimmer não percebe.

antes;

Catra ronca. 

E não é algo que Adora necessariamente desgosta, mas, em dias como esse, ela só quer que tudo desapareça. 

Quando Catra perguntou mais cedo o que havia dado nela, Adora havia fechado a boca e ido treinar, murmurando algo sobre ter que ir tão rápido que sequer pode lembrar agora. Mas o que ela poderia fazer? Não era como se essas coisas fossem normais. Se fosse, obviamente alguém já teria dito algo. E, de certa forma, já tinham dito, na verdade: se você está se sentindo mal, não ligue para isso, não contamine os outros e treine. Não diga nada para ninguém. E é isso que ela fez, o dia inteiro — treino, treino e mais treino. Seus músculos estavam doloridos no final do dia, suas mãos doendo tanto que não poderia nem pensar em segurar a barra.

Quando Adora chegou no quartel, todos já estavam dormindo. Catra estava, surpreendentemente, em sua própria beliche hoje, provavelmente chateada por mais cedo. E— bem, não é como se algo dissesse que ela não poderia dormir sem Catra. Então, ela deitou na beliche de baixo, mas—

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