Minha cabeça já estava doendo pelo choro, estar sozinha com tudo dando errado, sem o apoio da família e com amigos falsos, eu afundava meu rosto no travesseiro abafando o som do meu próprio choro.

Beep Meu celular vibra.

Bia❤️: Oiiii

Não deixo de sentir um pequeno alívio ao ver a notificação.

Não quero responder, ela provavelmente vai me ligar.

Meu celular toca.

Não vou atender.

1...
2...
3...
10 chamadas perdidas.

— Desculpa — digo sozinha.

Não posso dizer para ela o quanto eu a queria aqui e o quanto eu queria o abraço dela, não posso atender e desabar no celular com ela tão longe, seria cruel deixá-la me ver sofrer sem poder fazer nada.

— Desculpa — repito.

Minha mãe me disse isso quando me expulsou de casa por amar o gênero errado, por pecar e condenar a mim mesma a queimar no inferno. Meu pai perdeu o controle e jogou um porta retrato das nossas férias na praia em direção a parede. Me lembro da minha alma ter ficado em pedaços como o porta retrato. Meu irmão me defendeu, mesmo sendo mais novo sempre cuidou de mim, meu pai veio na minha direção quase explodindo de raiva quando meu irmão entrou na minha frente, ele estava chorando mas não por medo e sim por raiva, meu pai recuou e pediu para que eu saísse de casa. Foi o que eu fiz.

Meus natais têm sido assim dês de então, mas Bia não sabe, ela acha que eu ainda passo o Natal com a minha família e que eu ainda tenho muitos amigos.
Espero que ela não descubra a realidade.

                               ***

— Lilian por favor me atende — digo pela 25325 vez.

Ela não fica longe do celular e nunca me ignora, estou preocupada com ela, pode ter acontecido alguma coisa. Qualquer coisa.

— Atende, atende, atende — o bip continua.

Desisto de ligar e as mensagens ainda não foram vistas.

— Bia, temos visita — minha mãe diz na porta.

Manda embora.

Tô indo mãe! — digo mais alto do que deveria ainda olhando para o celular.

— Beatriz, desça agora — não estou pedindo.

Ah que saco.

Levanto e a sigo até a sala de estar.

A primeira coisa que vejo é um homem alto, terno cinza alinhado, cabelo impecável. Ele deve demorar mais do que eu para se arrumar.

Leonardo, essa é a minha filha Beatriz — meu pai diz como se eu fosse um de seus carros.

Leonardo me olha e oferece um sorriso gentil.

— Olá Beatriz, eu sou filho de um dos amigos do seu pai — ele estende a mão para que eu o cumprimente.

Ele parece outro fantoche dos pais, coitado.
Aperto a sua mão sorrindo.

— Olá — é a única coisa que quero dizer. Então minha mãe continua.

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⏰ Última atualização: Dec 29, 2019 ⏰

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