Prólogo

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Dezembro, 2019

A música mantinha o ambiente animado. Pessoas de todas as idades dançavam embaladas pelo som de Dancing with a stranger do cantor britânico Sam Smith. Era natural que uma música como esta animasse a todos - eu em particular amava. Mas, naquela noite, uma inquietude assolava meu coração. Não conseguia me sentir feliz. Por mais que eu quisesse, um sorriso meia boca se destacava em meus lábios e, para os que me conheciam, ficava fácil saber que eu não estava bem. Sentada próxima a pista de dança, levantei ajeitando a longa saia do vestido cor de creme e peguei uma taça de Champagne do simpático garçom. Olhei uma última vez para o DJ e calmamente percorri todo o salão em direção a bela varanda do casarão. A festa era de gala e estávamos ali para comemorar o aniversário de 80 anos do senhor Luiz Paulo, um homem de muita influência, mas com um coração enorme. Abri a imensa porta de vidro e, quando me aproximei da sacada entendi porque meu velho amigo havia escolhido aquele lugar para passar o resto de sua vida. A imagem era arrebatadora. Até onde meus olhos podiam enxergar, a imensidão e o som do mar, hipnotizava até aqueles que não o estivesse observando. Fechei meus olhos por alguns segundos e me permiti ouvir o barulho calmo que aquele lugar me proporcionava, as ondas se encontravam na areia em um balé perfeito. A brisa suave tocava meu rosto me fazendo sentir leve e, ao longe era possível escutar o que parecia ser um luau entre amigos. Respirei fundo e quando abri os olhos, mais uma vez contemplei a bela paisagem noturna. Me debrucei sobre a sacada e fixei o olhar na extensa faixa de areia marcada por várias pegadas. De relance, percebi o brilho na água que, insistia em chamar minha atenção. Sua luminosidade iluminava a água até onde os meus olhos podiam enxergar. Ela viera novamente. Não me permitia olhar para o céu há muitos anos. Esse era o nosso ponto de encontro e desde aquele dia, nunca mais quis encontrá-lo. 

— Ela está mais linda hoje, não acha?! - perguntou Luiz, caminhando em minha direção.

— Não sei! — respondi mantendo o olhar fixo no mar.

— Deveria olhar para ela, minha querida!

Olhei para o meu velho amigo que agora encontrava-se ao meu lado e sorri. Ele sabia tudo sobre a minha vida. Apesar de ser quarenta anos mais velho que eu, ele havia vivenciado todos aqueles anos comigo.

— Sabe que não me importo com isto!?

— Há quantos anos você não a olha?! — Meus olhos ficaram marejados. Ele sabia o peso daquela pergunta.

— Há muitos anos, Lu! 

— Sabe, eu já sou um velho e acho que com o passar dos anos consegui adquirir alguma experiência na vida. — Luiz era o homem mais puro e sincero que eu já conhecera. E me amava, assim como, um pai ama a sua filha. — Sempre tudo vai valer a pena! Nem sempre os caminhos serão perfeitos, mas se de alguma forma te fez feliz…então só por isso já valeu!

Tocando de leve meus ombros, ele sorriu e se afastou. Próximo a porta, olhou para mim mais vez e completou:

— Olhe para a lua...ele está procurando por você!



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