Ela costumava ficar apavorada em meio a brigas de família, às vezes sentava e tapava os ouvidos só pra não escutar o som dos gritos e xingamentos agressivos. Pobre garota, a cada lágrima doce que escorria de seus olhos podia sentir o doce sabor da tristeza sob seus lábios levemente rosados, que vira e mexe estavam em carne viva por conta de um vício que estava mais para mal costume. Conforme crescia aquela garota tomou gosto pela arte e pelo modo como podia ser seu refúgio, talvez até um possível esconderijo da sua deprimente realidade ofuscada. Mal sabia ela que mais tarde a arte seria sua sentença de morte. A guilhotina que decapitaria sua cabeça. A fumaça que a mataria sufocada.
Foi o que aconteceu.
É oque acontece quando você usa a coisa que mais ama como válvula de escape, talvez a arte não devesse ser isso. Não devia ser apenas a dor. A agonia. A tinta escorrendo da pele e descascando a porcelana. Deveria ser os bons momentos. Sorrisos. Abraços. Histórias clichê de romance sem final catastrófico.
Acho que apesar de negar para si mesma aquela amante da arte mudou. Agora ela escreve seus textos narrando em terceira pessoa para esconder que a menina da qual tanto fala é o seu próprio reflexo no espelho.
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Meu Doce Refúgio
PoetrySeja bem vindo ou bem vinda ao meu refúgio, acomode-se e beba uma xícara de café ou chá se preferir.