⊱.sixteen

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    As estradas sendo iluminadas pelo um simples farol de um carro antigo. Uma melancólica música tocava, mexia com minha alma, era como uma dança lenta com a morte. Passávamos por terras desconhecidas, por cantos de lembranças de uma mente insana. Era como olhar além do horizonte e ver que não há nada do que sempre buscam, porque tudo está aqui, tudo que importa está ao seu lado. E a voz da garota tristonha, dizia: Querido, você me entende agora?

     Se fosse apenas um sonho, era tudo real demais, foi tão rápido, um passe de mágica. Carros eram deixados para trás quanto mais acelerava. Estávamos perto de algo. Era tudo questão de tempo. Parecia uma corrida contra ele. Todos diziam sempre que ele cura, mas se você guardar, esconder suas dores, ele não fará nada por você. A voz sussurrava durante a melodia: Oh, meu bem, eu sou apenas humana. Você não sabe que eu tenho defeitos como qualquer um?

— Nem fazia tanto tempo que tinha ido morar com ele — Ela disse, quando viu que Eija não estava prestando atenção. — Eu tinha esperança no começo, de alguma mudança da parte dele. Havia tempos que não o via. Mas, infelizmente, mentes de monstros não mudam. Pessoas insanas não mudam. — Não lhe falei nada, apenas a escutei. Ela tinha razão. Todos tinham razão, na maioria das vezes.

    Era como uma mulher chorando em uma rua deserta. Ninguém lhe perguntará o que lhe afligem, ninguém se importará com a sua dor. Iriam lhe julgar, mas nunca ajudar sua alma aflita. Não há alma bondosa em um mundo cheio de uma corrupta maldade.

   As pessoas são tudo o que imaginarem. Suas vidas movidas por um drama desnecessário. Cada cérebro interpreta de uma forma diferente. Existe várias situações, vários lado de uma só história, mas apenas uma pessoa que se dispõe de contar tudo, ou quase. Detalhes e mais detalhes, nem todos querem se lembrar de tudo. Você pode se perdoar, mas ainda estará escrito seu erro na história. Alguém pode lhe perdoar, mas você mesmo não esquece, não perdoa as memórias que lhe condenam a cada instante. E a voz continua: De vez em quando, eu me encontro sozinha lamentando. Algumas coisinhas tolas. Alguma coisa simples que eu fiz.

   Sempre acharemos pessoas com mais problemas do que os que exitem em nossas vidas. Às vezes, só queremos ficar perdido em pensamentos, sem ninguém por perto, sem barulho, só o silêncio e a agitação de vozes aqui dentro da cabeça, lhe lembrando, lhe infernizando, buscando o seu lado ruim a cada segundo. Você tentará fugir, mas não há como escapar de você mesmo. Não é mesmo? Estou errado?

   Em uma folha de papel branca, meio amassada, desenho um lugar que sinto falta. Nunca fui a esse lugar, como sinto falta? Esse lugar aparecia em meus sonhos mais incríveis. Eu correndo em um campo esverdeado, a cerca pintada de preto, impedindo os animais de passarem dos limites, o verde presente para todo lugar, árvores, campo e mais campo. Uma garota correndo comigo. Ela tinha o melhor sorriso. Corríamos por uma estrada de chão, nada era asfaltado ali, nenhuma presença de cidade, de uma urbanização. De longe, tinha como avistar uma casa vermelha com o telhado cinza e uma casa toda verde claro, menor que a primeira. Corríamos sem fôlego, o cachorro meio marrom, meio amarelado, nos acompanhavam. A felicidade em nossos rostos era tão visível. Eu gostava desse sonho, porque lá eu era só um garotinho correndo com seu cachorro e uma menina bonita sorridente.

— Bill? — A voz de Eija tira-me dos meus devaneios frequentes. Fico olhando seu rostinho doce. — Como estou? — Ela havia acabado de sair de um salão de beleza junto com a garota que me apaixonei. Estavam tão diferentes, ainda mais a mais velha.

— Você está ainda mais linda, angel. — Caminho até seu pequeno corpo, pegando ela no colo e beijando todo seu rosto, ignorando ela mandando eu parar entre risos. Coloco-a no chão e me aproximo da mais velha. Ela me olha, ansiosa pelo o que vou dizer, pelo que estou pensando, seu olhar diz mais que tudo. — E você... Sad Girl, o que fizeram com você?

— Estou tão horrível assim? — Fala, mordendo o lábio.

— Ao contrário, baby. — Minhas mãos adentram seus fios, antes loiros, agora ruivos. Ela suspira, inclinando o rosto em minha direção, relaxando, deixando a tensão que seu corpo emanava. Meu contato sempre a relaxa. Então, sem pensar muito, falo pela primeira vez algo que nunca falei para uma garota de traumas, mas um sorriso lindo: — Eu te amo. — Seus lábios se abrem, mostrando-me um belo sorriso. Suas mãos vão parar em minha nuca e seus lábios nos meus. — Vamos? — Ela concorda e pega na mão de Eija.

   Entro em meus devaneios de novo

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   Entro em meus devaneios de novo. Pensava em coisas como uma música, onde iríamos, se havia alguma fazenda por aqui, se havia algum parque ou circo e, principalmente, como ela se apaixonou por mim. Tento estralar minhas costas, que estava doendo de tanto ficar sentado dirigindo, mas meu corpo estava tão rígido que não consigo.

— Que tal eu dirigir de novo, Bill? — Ela diz, tirando o cinto de segurança. Paro o carro, trocamos de lugar rapidamente. Deito o banco para ficar mais confortável. — Qual seu suco favorito, Eija?

— De laranja.

— E o seu, Bill? — Ela olha para mim. Sei que ela não está perguntando por tanto interesse, só não quer um silêncio constante na viagem.

— O mesmo da Eija. — E novamente silêncio.

   Então, ela começa a acelerar o carro, em meio a gritos de excitação de Eija pedindo para ir mais rápido. Sorrio vendo a cena. Ela é boa dirigindo, gosto disso. A animação de Eija era mais que visível, a minha garotinha ria cada vez que seu corpo ia para trás, porque Sad Girl estava brincando com meu carro.

   Todo mundo é tão mole, todo mundo é tão sensível. Sim, estava pensando no mundo nesse instante. É como um clube de teatro, onde todos fingem ser coisas que não são. Mas, o mundo é assim. Um grandioso e hipócrita teatro de fantoches vivendo de acordo com um roteiro ridículo. Sim, é um clube de teatro.

— O que está pensando? — Sad Girl, pergunta-me. Olho no relógio, era de tarde. Observo pelo retrovisor, Eija estava comendo um pedaço de bolo de cenoura e a velocidade do carro já estava normal. Eu me perdia tão ligeiro na minha imaginação.

— Na verdade, em nada. — Ela desvia os olhos da estrada para olhar para mim, duvidando, mas não insiste. — Estou com um pouco de dor de cabeça. Tem como abaixar a música? — Ela abaixa o volume e eu agradeço. Bocejo, deitando para o lado, olhando através da janela o verde passando de modo veloz.

— Bons sonhos. — Esse é a última coisa que escuto antes de pegar no sono.

detention ⊱ ᵇᶤˡˡ ˢᵏᵃʳˢᵍåʳᵈOnde histórias criam vida. Descubra agora