Eu estava desesperado quando pedi ajuda para minha mãe. Eu sei que poderia ter encarado as coisas sozinho, porém, com todos meus pensamentos rodopiando dentro de mim e minha insegurança revirando no meu estômago, eu preferi ignorar tudo e fingir que minha mãe seria a única saída para o impasse que eu me encontrava.
Bati na porta do seu escritório e entrei a passos excitantes dentro daquele ambiente com cheiro forte de café. Mamãe estava com os olhos castanhos vidrados em frente ao computador, enquanto batucando os dedos com força no teclado como se estivesse com raiva deles.
- João Vitor, estou trabalhando, não posso falar agora - disse sem direcionar um olhar para mim. Fechei a boca com força. - Você sabe que meu prazo está acabando.
Ela me falava isso todo dia quando tomávamos juntos o café da manhã. Ela ficava puxando os fios do cabelo castanho - às vezes arrancando alguns sem querer - enquanto resmungava e reclamava o quanto o prazo era apertado demais para ela conseguir finalizar o romance que estava escrevendo. Eu não falava nada, só deixava ela jogar todas as palavras para fora. Esses momentos eram tensos e sensíveis demais para dizer qualquer coisa.
E naquele dia, quando ela me olhou, seus olhos estavam muito vermelhos e ela parecia prestes a explodir. Talvez não tenha sido uma boa ideia atormentá-la naquele momento delicado, contudo, se eu esperasse por mais alguns segundos que fosse, seria a minha vez de explodir.
Mexi no meu cabelo crespo enquanto respirava fundo uma última vez antes de dizer a ela:
- Eu sei, eu só preciso de ajuda para resolver um problema. Eu queria que você depois lesse algumas cartas de tarot para mim. - Ela parou de escrever. O ar pareceu ficar mais denso ao redor de mim. - Não é nada demais.
Na verdade era.
Eu não costumava pedir muito para que lesse cartas para mim. Na verdade, isso quase nunca acontecia. Só quando eu estava muito desesperado por resposta - como estava naquele momento.
Ela era minha única esperança.
Mamãe me olhou com curiosidade, parando de batucar os dedos no teclado. Eu estava fazendo com que ela parasse de escrever para me ajudar com minhas dúvidas dramáticas.
- O que aconteceu?
Eu precisava de respostas.
Resmunguei enquanto contava a ela sobre quem tirei no amigo secreto da escola. Ela sorriu na mesma hora quando eu disse que foi o Vinícius. Eu nunca contei diretamente a ela antes sobre meus sentimentos por ele, mas minha mãe era boa demais em desvendar as coisas - ainda mais em descobrir sobre meus sentimentos - e eu era péssimo demais em escondê-las. Não sei ainda como Vinícius não percebeu.
- Não entendi como isso é um problema - Ela me perguntou ao levantar da cadeira e andar em minha direção. - É só a gente comprar um presente para ele.
Se não tivesse sentimentos envolvidos, eu teria feito isso sem nenhum problema. Mas foi só olhar o nome dele escrito no papel que as coisas voltaram com força para fora de mim. Todos os sentimentos que eu fazia o meu melhor para enterrar bem fundo do meu peito, mas que nunca adiantou muita coisa.
Eu tive que me controlar muito para não dizer nada a Vinícius que pudesse entregar quem era tirei. Foi torturante seguir as aulas na escola normalmente como se aquilo não fosse nada demais. Como se eu não estivesse prestes a explodir em mil pedacinhos. Merda, por que eu fui tirar justo ele?
- Ei, bruxo, quem você tirou? - Vini me perguntou quando comíamos o salgado da cantina na hora do recreio naquele dia. - Se for ruim a gente pode trocar.
Forcei um sorriso e terminei de mastigar o salgadinho, enquanto ele esperava pela minha resposta com a testa franzida. Seus dedos em todo momento iam em direção a sua franja que já estava tampando a visão de seus olhos. Eu sempre gostei delas grandes desse jeito.
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Com amor, seu bruxo
Romance[Conto escrito para o embaixador secreto] João Vitor tem um amor secreto pelo seu melhor amigo, mas ele nunca tem coragem de se declarar, com vários medos e inseguranças impedindo-o. Quando o Natal chega e sua turma decide realizar o amigo secreto...