The Beginning

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História escrita em co-autoria com @CorujaLerigou

Ela era bem cheirosa, andava sempre chamando atenção, uma garota altamente sonhadora, daquelas que pode dar um passo para trás mas que em pouco tempo acaba dando dois para frente; seu nome era Petúnia, não era satisfeita com a vida a que foi destinada pois morava em um interior, onde a Luz pegava só a noite e a água somente buscando nos rios/riachos. Além disso, dona Aparecida, sua mãe e dona de casa, não a deixava em paz, vivia dizendo-lhe que precisava de um homem para viver e ainda mais que a via se dando muito mal em tudo que era destinada a fazer enquanto suas outras duas irmãs se davam bem em tudo e por cima, prometidas a casar com charlatões ricos e com um bom nome na região mas, mesmo assim, a amava de todo jeito porque acima de tudo, sua mãe a admirava por ter algo de especial que ela ainda não sabia.

No entanto, Petúnia não era muito fã de seu pai, seu José Silva. Odiava o modo como ele tratava sua mãe pois queria mandar em tudo porque por achar que era a única fonte de renda da casa, a sua esposa teria que ceder a qualquer um de seus caprichos, e a si mesma, pois ele achava que Petúnia não se daria bem na vida, não arranjaria marido e não seria uma mulher inteligente por não parecer com suas irmãs (Alice e Marlene).

(***)

Enquanto isso, na periferia, a jovem Narcisa almejava, a todo custo, sua ascensão na sociedade.

Crescera naquela favela. Desde sempre, esteve exposta à criminalidade e à violência daquele lugar. Perdera a conta de quantas vezes, dentro de sua própria casa, teve que se deitar no chão por conta dos tiroteios.

Sua mãe dava graças a Deus por Narcisa não ter se envolvido com o tráfico de drogas — oportunidade não faltou. Ela, no entanto, se arrependia disso quando as coisas apertavam demais. Pensar na quantidade de dinheiro que poderia estar trazendo para dentro de casa num negócio como aquele...

Sua mãe a criava sozinha. Todo o sustento da casa vinha dos trabalhos de Lourdes, uma mulher aparentava ter muito mais idade do que realmente tinha. Passava o dia inteiro trabalhando: de manhã num emprego, de tarde em outro. Os dois salários, no entanto, pagavam apenas o necessário. E, dependendo da inflação, às vezes faltava. Mas tudo bem. Quem precisava de um café da manhã, afinal?

Narcisa diversas vezes expressou seu desejo de ajudar na renda familiar, mas sua mãe sempre foi muito estrita: deveria focar nos seus estudos. Isso enfurecia a jovem. Por que estudar? Estudar o quê? Mal havia aula em seu colégio, os professores faltavam, a escola caía aos pedaços. O que ela faria com a droga de um diploma? Aquele pedaço de papel ia trazer dinheiro para sua casa, por acaso? Não poderia esperar por vários anos. Precisavam agora!, ela argumentava, antes de levar um tapa no rosto pelo tom de voz atrevido usado para com a mais velha.

Só restava àquela jovem a conformidade. Se conformar de que sua vida seria assim, de que ela não poderia fazer nada e que, para ter o que queria, só se contasse com um milagre.

Os dias se seguiram em sua normalidade: pobreza, perrengue e criminalidade.

Até que um dia, aos seus dezessete anos, tudo mudou.

Narcisa pensou que aquele seria só mais um dia: foi à escola, matou todas as aulas e voltou para casa quase à noite, sabendo que chegaria antes da mãe.

Houve, no entanto, um imprevisto naquele fim de tarde. Os sons de tiro atemorizaram a jovem assim que ela entrou em casa. A primeira coisa na qual pensou em meio ao desespero foi trancar a porta e, logo em seguida, deitar-se no chão, com as mãos nos ouvidos.

Mesmo assim, ouviu alguém tentar arrebentar a porta. Ouviu o grito abafado de uma mulher em meio ao estouro das balas.

E quando a confusão cessou e Narcisa abriu a porta, perguntando-se onde estaria sua mãe àquele horário, encontrou-a morta aos seus pés.

O Buquê do HarémWhere stories live. Discover now