Único

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Era curioso como sempre que estava naquela cafeteria, seu nome vinha anotado com um sorrisinho ao lado. Discreto, mas perceptível à ele que sempre notava a caligrafia impecável do barista. O desenho na espuma de seu cappuccino também lhe chamava a atenção, no de todos os outros era nada mais que um desenho padrão, no dele não limitava-se à uma folha, era um diferente a cada dia.

— Pra viagem? — a voz suave era música aos ouvidos.

— Não, hoje pretendo tomá-lo aqui — e apontou para a mesa logo atrás, próxima à janela. Tão logo entregando o dinheiro, pegando a notinha e indo se sentar, sentindo os olhos do outro sobre si.

Esperou paciente pelo café que sabia bem que seria entregue em mãos, pelo ruivo, e tal não foi sua surpresa ao sentir aquela mão delicada tocando-lhe o ombro de forma tão sutil.

— Senhor, seu cappuccino. — A bandeja sendo sustentada pela canhota, para então a destra que estava sobre seu ombro tomar o pires e depositá-lo à mesa.Tudo naquele ruivo parecia um mix impossível entre o suave e o intenso. A cor da pele, suave. Os olhos, intensos. Os toques e a voz, suaves. A cor do cabelo, intensa. Era uma dualidade que o atiçava e o fazia ir todos os dias naquele café.

O desenho da vez era o mais ousado desde então, um coração que se esfumaçava em ondas trêmulas até a margem da caneca de porcelana branca. A troca de olhares enquanto o barista tão delicadamente segurava a bandeja inox com ambas as mãos, frente ao tórax, cobrindo a plaquinha afixada ao colete que levava seu nome; Gaara.

Era incontestável, estava entregue ao feitiço que aquele rapaz havia lançado na primeira vez que seus olhares cruzaram, semanas atrás. Estava batendo cartão ali desde então, dia após dia.Sabia muito bem que voltaria no dia seguinte, e no outro.

Finalizou a bebida, notando que sob o pires havia um número, naquela mesma caligrafia que ele tão bem já conhecia. Sorrindo de orelha à orelha, tão discreto quanto somente Rock Lee sabia (não) ser.

Ainda com um sol iluminando aquele sorriso, seguiu ao balcão, deixando claro que guardava o número no bolso, com todo o cuidado para não perdê-lo. Apoiou-se ali, pensando seriamente no que dizer, e vendo como aqueles olhos verdes tão intensos brilhavam como nenhuma esmeralda seria capaz. Não era de ser dramático daquela maneira, mas precisou levar a mão ao peito, para ter a certeza de que o músculo cardíaco não teria se jogado aos pés do dono daquele sorriso tímido que o arrebatou e o converteu àquela religião: amar.

— Nos vemos amanhã — ditou simplista, direcionando os passos para a saída.

— Já sabe o que vai querer beber?

— Sei sim. Um café com amor, por favor.

Um café com amor, por favorWhere stories live. Discover now