Ele estava envolto em uma manta azul, sentado perto da lareira, a neve começou a cair selvagem das nuvens, os jardineiros foram dispensados mais cedo por conta do grosso forro branco que estava surgindo.Ele não chegou a perguntar para os "pais" o que era a coisa no labirinto, nem o que era aquela figura retratada no quadro e o porquê de essas duas coisas estarem dentro de um mausoléu no meio do labirinto, muito menos o que a placa no túmulo queria dizer. Ele terminaria de beber seu café e iria para a biblioteca, lá talvez ele pudesse descobrir algo.
Ele levou sua xícara para a enorme cozinha deserta e logo partiu em direção a colossal biblioteca, conforme andava ficava cada vez mais apreensivo, as formas e pinturas rococó pareciam agora uma mata doentia, as formas pareciam se mexer, como uma mata fechada, habitada por seres carnívoros e horrendos.
Ele já estava a algumas horas na biblioteca, a noite já estava manchando o céu e Stephen não havia encontrado nada a respeito de nada, era difícil procurar algo naquele mar infinito de livros, ele poderia passar a vida inteira procurando e ainda sim não leria tudo que a habitava, ele desceu para o primeiro andar e logo começou a retornar pelo mesmo caminho que havia feito, quando passou por um quadro que ele não havia percebido, ele retratava o que parecia ser o céu noturno, com o estilo de pintura parecido com o de Van Gogh, parou e começou a analisar a obra, ela era basicamente um quadro pintado de preto, mas então ele percebeu que as linhas e contornos produzidos pelo pincel não apenas imitavam o estilo de Vincent, eles ao todo formavam a silhueta de um ser que ele vira mais cedo em outro quadro, com muito esforço era possível ver os braços de louva-a-Deus, a cauda de cobra, as asas.
Ele ficou encarando-o confuso, o que aquela coisa significava? Talvez possuísse relação com a figura do louva-a-Deus espalhada pela casa, escondida em detalhes estruturais, em grades, até mesmo em alguns locais o piso formava sua figura. Talvez ele estivesse ficando paranoico, porém era inegável o fato de aquele quadro estar escondendo a figura daquele ser nefasto, ele começou a andar rapidamente para longe de lá, passou pela lareira que agora estava apagada e começou a subir as pomposas escadas para ir até seu quarto, ele passou pelo quarto dos dois, estava com a luz acessa mas não parecia haver ninguém dentro, quando ele ouviu a voz de Deimos, no início parecia apenas uma conversa normal, contudo Stephen ficou paralisado quando ouviu seu conteúdo.
-Você tem certeza que ele está na biblioteca Anneliese?
-Absoluta.
-Ótimo, acho que ele viu a primeira, isso é muito bom.
-Não foi nada bom, ela sempre foi a mais cruel e voraz de todas, acho que ela o atacou.
-Mas em breve ele terá que vê-la, terá que ver todas, em breve nós seremos uma também.
Stephen olhou pela fresta da porta e viu ele a abraçando, ele estava sem as roupas de cima, eles se viraram para a janela e suas costas despidas fizeram o jovem na porta tremer. Sua pele parecia estar cheia de insetos gordos, pois as vezes ela borbulhava como se houvesse algo dentro dela, essas protuberâncias grotescas seguiam andando pelos braços e as vezes desciam pela pernas.
-Onde você está colocando a Massa?
-Está na Ala Fechada.
-Essa sua ideia foi ótima, senão ficaríamos parecidos com a terceira ou até mesmo a primeira.
-A ideia não foi minha, a segunda teve este conceito, porém utilizou bem menos Massa.
-Porém nenhuma delas possui um Pedaço de Estrela, diferente da nossa.
-Isso é verdade, bom, talvez assim nós conseguiremos... Como traremos a segunda para cá? Digo, a primeira e a terceira não tem dificuldade... Mas e a segunda, ela é muito...
-Depois nós vemos isso, temos que pensar em coisas positivas, pense que em breve seremos a grande COALESCÊNCIA.
-Verdade.
Eles começaram a se beijar, Stephen já estava correndo até seu quarto, o que era tudo aquilo que eles estavam conversando? Massa, Pedaço de Estrela, COALESCÊNCIA... Tudo aquilo era muito estranho, ele tinha certeza que possuía alguma relação com as coisas do mausoléu, mas ele não sabia explicar como uma coisa estava ligada a outra.
Ele trancou a porta e se embolou na enorme manta, ficou sentado em seu forte de tecido por muito tempo, até que, no meio da madrugada uma ideia brotou em sua mente. Ele começou a caminhar lentamente, seus pés descalços ardiam quando encontravam o chão gélido, ele passou pelo quarto do casal,encostou o ouvido na porta e pode ouvir a respiração leve dos dois, então começou a andar mais rápido, ele desceu a enorme escada e logo foi em direção a cozinha.
Ao entrar as silhuetas negras das panelas e utensílios pendurados pareciam morcegos gordos e mortais, ele caminhou às cegas até achar um cutelo repousado na bancada, ele hesitou por um momento mas então o pegou, a enorme faca era mais pesada do que ele imaginava, contudo tinha o poder de quebrar ossos e cortar carne que nenhuma outra faca possuía, ele voltou rapidamente para o quarto, ao chegar começou a observá-lo por inteiro, procurando um lugar para esconder o enorme utensílio retangular sem correr o risco de nenhuma faxineira encontrar, ele começou a tatear o chão mas nada, nem nas paredes, o teto muito menos, ele abriu o enorme guarda roupas e começou a tocá-lo, quando sua mão escorregou por baixo de uma gaveta no que parecia um pequeno pino, ele o puxou e em seguida ouviu um tintilar baixo, levantou a gaveta e encontrou um local secreto, ele colocou o cutelo lá dentro, o fechou e fez a ação inversa, ouvindo o som novamente. Ele retornou para a cama e se deitou, não queria usar a faca, porém estava receoso e aflito, naquela noite pesadelos terríveis assolaram sua mente.
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COALESCÊNCIA
HorrorUm conto de horror que acompanha o jovem Stephen, um garoto solitário que vive em um orfanato desde que nasceu, sem esperanças de que será adotado, ele passa a maior parte de seu tempo sozinho desenhando em seu caderno, contudo, um casal o adota e l...