Do vale dos sonhos, à cama de espinhos...

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Nessa noite não consegui dormir nada. Quando olhei para o relógio era já de madrugada, dava voltas e mais voltas na minha cama e esta, que parecia sempre suave e macia, e que me deixava todos os dias no vale dos sonhos, nessa noite não o conseguira. Parecia uma cama de espinho a querer atormentar-me.

Derepente eram já cinco da manhã e à minha volta no quarto, começavam a entrar alguns raios de luz entre alguns dos buracos dos estores. As coisas que olhava durante o dia e me pareciam insignificantes, pareciam naquele momento mais belas. As paredes que durante o dia eram brancas e gélidas, eram naquele momento cor de laranja e quentes, aquele tom raiva em todo o quarto fazendo-o parecer parte do sol.

Durante toda aquele deslumbramento, entrou de repente a minha mãe no meu quarto que a partir desse dia começaria a trabalhar as seis da manhã, e perguntou-me:

- Não conseguiste dormir?

-Não mãe, a cama suave e macia que dantes me deixava todas as noites no vale dos sonhos não existe mais, agora é apenas uma cama de espinhos que me atormenta.

-Sabes,- disse-me com tom de censura -às vezes as camas suaves e macias, precisam de se tornar em camas de espinhos, para não nos deixar dormir e fazer-nos  pensar na vida, no mal que já fizemos e no mal que nos fizeram e, tentarmos de alguma forma, remediarmos as coisas pelo qual passamos. 

Depois de me dizer isso deu-me um beijo e saiu do meu quarto. E eu continuei ali deitada a tentar dormir. Depois do que acontecera nesse dia não iria as aulas. Não estava pronta para as perguntas que me iriam fazer depois do que aconteceu. Pois o acidente que o meu irmão teve passou no jornal da noite e já toda a gente devia saber o que acontecera.

Dei voltas e mais voltas a cama, mas depois consegui adormecer mas logo me surgiu um sonho, ou melhor um pesadelo. Nesse pesadelo eu estava ao pé do Max no hospital, durante algum tempo eu observa-lo a dormir, mas de repente ele acorda e agarra-me com muita força pelo braço e diz que a culpa de ele estar assim é minha, e só minha e, que eu era a culpada de tudo. Depois eu acordei aos gritos e a chorar aquele sonho tinha sido horrível. Não consegui continuar naquele sitio deitada por isso fui tomar um banho e arranjar-me, para depois ir visitar ao hospital o Max.

Mais tarde quando cheguei ao hospital e entrei no quarto dele pus-me a pensar no que tinha sonhado e se seria possível aquilo acontecer na realidade. Depois entrou uma enfermeira no quarto e eu perguntei se era possível o meu irmão acordar repentinamente. Ela afirmou-me imediatamente que não, ele estava em coma induzido, por causa das lesões e as dores que tinha e os médicos ainda não lhe tinham baixado a dose para ele poder acordar.

Quando me disse isso fiquei tranquila, mas depois também me  avisou que estava na hora da visita do médico e pediu-me que saísse e que se o quisesse voltar a ver para passar mais tarde.
Voltei para casa sem saber ao certo o caminho a percorrer acho que simplesmente me deixei levar pelo meu instinto, quando cheguei a casa nem sabia como o tinha feito. Fui direta para a cozinha pois, já era uma da tarde e tinha de ter o almoço feito quando a minha mãe chega-se a casa às duas e meia.

Quando chegou a casa vinha com um ar triste o que dava a entender que o dia lhe tinha corrido mal, então comecei assim como ela fazia comigo a fazer-lhe algumas perguntas.

-E que tal correu a tua manhã de trabalho? Vejo que estás um pouco desanimada.

-Correu tudo normalmente e nada de mais- e pôs um sorriso amarelo nos lábios para me tentar convencer.

-Está bem se não me queres contar o que se passou tudo bem, não és obrigada a contar e também não sou tua mãe.

-O  que é que fizeste durante a manhã?- perguntou desviar o assunto.

-Fui ver o Max ao hospital mas também não tive lá muito tempo porque depois apareceu uma enfermeira e avisou-me que ia começar a hora da visita dos médicos ao pacientes, mas disse que se quiséssemos podíamos passar lá mais tarde. Vais querer ir agora de tarde?

-Talvez, não sei acho que não estou muito preparada para ver o teu irmão naquela situação.- disse-o com um ar de pesar.

-Ok! Mas depois diz-me alguma coisa, porque se fores eu vou contigo.

Ela acabou por decidir que íamos visitar o Max. Quando chegámos e entrámos no quarto do Max ao lado dele estava um médico, que depois nos avisou que mais tarde ia diminuir o sedativo e que em pouco tempo o Max voltaria a  acordar. Quando o médico nós informou disso, deu-me um aperto no peito tão grande que achei que fosse desmaiar, e voltei a lembrar-me do que tinha sonhado nessa manhã. Nesse momento pensei por quanto mais tempo esse pesadelo me ia continuar a atormentar, visto que o Max estava naquela maca de hospital sedado e indefeso e provavelmente paralitico. 

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