Novo lar

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Conforme o carro andava, sentia um vazio se estabelecendo em meu interior. Era como se a distância, de alguma forma, fizesse com que um pedaço de mim se extinguisse.
Tentei mudar meu foco para várias coisas. Notei árvores (até mesmo as mais discretas), contei casas, observei as pessoas; E isso, de fato, fez com que meus pensamentos se dispersassem: Para longe do meu lar, consequentemente, para longe da minha dor.
Foram algumas horas de viagem; Eu admito que fui, no mínimo, idiota, por não ter pego das minhas coisas absolutamente nada que pudesse ter feito com que meu tédio se esvaisse. Acho que pensei tanto em mim, em como minha vida seria horrível a partir desse dia, que acabei não pensando em coisas tão óbvias, afinal, em meia hora de viagem, a bateria do meu celular já tinha acabado.
Depois de usar de artifícios para fugir dos meus sentimentos, apelei ao sono, e dormi. Dormi bastante.
Não me recordo bem dos sonhos que tive, mas consigo me lembrar de uma sensação, um sentimento; Algo como uma esperança; uma luz no fim do túnel.
Acordei me sentindo revitalizada. Foi bom ter dormido, afinal; Acordei faltando apenas 10 minutos para nosso destino, e consegui observar a diferença deste lugar, para o qual estava antes do meu honorável cochilo; As árvores, as construções. Tudo era muito diferente. As casas tinham um ar antigo, porém com sua beleza meio que "retrô". As árvores, eram mais compridas e verdinhas.
Minha mãe estava dirigindo, bem concentrada. O que quer que seja que ela estava pensando, foi interrompido:
— Chegamos? — Eu disse.
— Ainda não. Mas falta pouco! Se quiser, eu parei numa padaria e comprei alguns salgados pra gente. Está na sacola á sua direita.
— Obrigada, mãe. Vou pegar.
— Como você está? Quanto a sair da cidade. — Ela disse, com cuidado.
— Eu não sei. Acho que vou sentir falta, dos meus amigos, da escola...Da cidade. Você sabe como eu gosto de como São Paulo, é sempre, movimentado, com muita gente, muitos prédios.
— Sei sim. E imagino como deve ser difícil pra você; Espero que você se adapte bem aqui.
— Não sei. Me parece estranho morar no interior. Cidade pequena, poucos habitantes, sem toda a agitação que eu tanto gosto. Sei lá! — Retruquei. Mas admito que estava ansiosa para conhecer mais dessa "cidade do interior". Não sabia o que pensar dela, além da estética "bonitinha".
— Não seja negativa. Não é de todo mau morar aqui; Você vai ver, tem muitas árvores, o ar é puro, todo mundo se conhece...
— É. E tudo deve virar fofoca, intriguinha! Fora que não deve ter nada pra fazer. Se eu quisesse rolar na grama e subir em árvore, ia num parque.
— Não diga isso antes de conhecer. — Minha mãe disse, encerrando a conversa.

Parece dramático, e admito, sim, é. Apesar da grande vontade de explorar aquele lugar, a minha teimosia juvenil me dizia NÃO e eu me recusava.

Depois de um tempo, minha mãe estacionou, e vi a casa da minha tia, agora minha também, pela primeira vez. Saímos do carro, empurrei a porta com força e mamãe me lançou um olhar desapontado; Não é minha culpa estar chateada! Eu me sinto como um turbilhão de coisas, como se tivesse acontecido tudo, mas ainda não tivesse acontecido nada.
Bati na porta três vezes, dei um curto espaço de tempo, e bati mais duas. Minha tia tem algum tipo de toc relacionado a estranhos batendo na porta, então meus pais me instruíram a fazer a sequência "segura". Meu pai já estava lá,  mas ainda assim, achei melhor, por uma espécie de "respeito", bater assim.
O meu pai abre a porta com pressa, e me dá um abraço apertado. Ele já tinha ido para casa de minha tia faz alguns dias, e digamos que, eu sou muito apegada ao meu pai, e ele a mim.
— Eu já estava morrendo de saudades, Mariana. — Ele disse.
— Não seja bobo, pai. Faz no máximo uma semana.
Meu pai é uma pessoa amável. Ele é gentil, carinhoso, legal. Mas também é muito coruja, é claro. Acho que se eu tivesse um namorado, ele surtaria. Ele tem cabelos um pouco mais longos do que um cara de sua idade usaria, valoriza muito seu estilo e sua estética. Pinta o cabelo todo mês para que não fique grisalho, cuida da sua pele para que não surjam tantas rugas; Gosta muito de rock, então sempre está usando alguma blusa de banda, fora alguns adereços que você só consegue imaginar uma pessoa muito rockeira usando, como por exemplo bandanas, espinhos e etc. Gosta de customizar suas roupas para que fiquem do jeito que ele prefere, e está sempre indo a shows e festas. Ele é um adulto com um espírito um quanto "jovem".
Minha mãe se apaixonou por ele numa noite de verão, num show de rock de uma banda que praticamente ninguém conhecia além dos dois. Pelo que eles falam, conversaram por meses sobre o que tinham em comum, quando o clima rolou e eu vim de surpresa. Eles estavam muito apaixonados, então foi uma grande felicidade; Acabaram acelerando as coisas e casando antes mesmo do meu nascimento. Eles sempre falam que eu posso ter vindo de surpresa, mas foi o melhor presente que já ganharam. Sou filha única, então sempre recebi muita atenção dos dois, e na minha opinião, o casal Heloísa x Marco é o casal mais fofo que existe.
Quando meu pai enfim me largou, lançou um olhar de felicidade á minha mãe, que estava na frente do carro nos observando. Ele foi correndo abraçar ela, e, de uma maneira um tanto quanto dramática, o abraço se tornou um beijo, e o beijo se tornou minha deixa para cair fora e deixar os dois sozinhos, com uma leve reação de nojo.

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⏰ Última atualização: Feb 20, 2020 ⏰

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