Submundo antigo

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— Tem trabalho novo 'pra você. — Foi assim que Park Jimin foi alertado da nova enrascada para qual estava sendo convocado: Taehyung invadindo seu quarto minúsculo sem bater, escorado no batente e observando o melhor amigo com os olhos brilhando.

É claro que Jimin não sabia que era uma enrascada na época, assim como também é claro que ele não ficou irritado com o Kim entrando sem avisar, porque a noção de privacidade era algo que não existia entre os Zagini. O prédio da gangue era uma instalação velha e mal reformada, espremida entre outras duas instalações igualmente precárias e simplesmente não havia espaço suficiente para o conceito de privacidade existir. Os membros mais bem sucedidos não moravam ali (isso é, aqueles que faziam os serviços mais sujos), embora passassem grande parte de seus dias nos andares debaixo bebendo, conversando e negociando trabalhos. Fosse como fosse, o local estava sempre cheio.

Jimin era um daqueles que morava ali por não ter outro lugar para onde ir: entrou para os Zagini há três anos e entre as dívidas que precisava pagar e outras necessidades pessoais, não sobrava dinheiro para investir nem mesmo no aluguel de um quarto, quem dirá em uma casa própria.

— Se é você vindo comunicar, tenho certeza que é algo podre — respondeu sem levantar os olhos do livro que lia.

— É o DeChamp. Disse que dessa vez precisa de mais do que suas habilidades de coruja.

— Em nome da nossa amizade, presumo que você tenha mandado-o à merda? — questionou Jimin, irritado com a cara de pau de DeChamp aparecer querendo contratá-lo mais uma vez, com tantos pagamentos de serviços antigos atrasados.

— Fiquei tentado a acertar um murro na cara dele, confesso, mas ele foi mais rápido e propôs pagar o dobro do que lhe deve. De uma vez, caso você aceitasse esse trabalho.

Jimin suspirou, finalmente deixando o livro de lado e ponderando. A quantia que DeChamp lhe devia não era absurda, mas dívida era dívida e o dinheiro fazia falta. Se ele recebesse o dobro, conseguiria quitar um pouco das próprias dívidas com o líder dos Zagini e, quem sabe, começar a pensar em alugar um quarto para si e sair daquela vida violenta que era a sua — mas sua vida era assim muito antes de entregar em uma gangue.

Se Jimin pudesse começar a juntar dinheiro para alugar um quarto, chamaria Taehyung para ajudá-lo. Eles tinham afinidade suficiente para dividir um cubículo e se empenhariam em treinar todos os dias, Taehyung com o teatro e Jimin com a dança. Quando o próximo circo tivesse o desprazer de chegar àquela cidade esquecida por todo os Santos, poderiam se candidatar como funcionários e, porque o Park tinha certeza que eles eram bons, seriam recrutados para atravessar o país em trens de ferro, cada noite uma cidade e um público diferente, todos famintos por um espetáculo que lhes tirassem da monotonia que era ser rico e não ter preocupações.

Comida nunca mais seria um problema e eles finalmente poderiam ter paz.

— O que ele quer, afinal?

— Que você derrube um membro do Chacoals. O Dongsun.

— Ele 'tá ficando maluco? Não posso simplesmente derrubar um cara que 'tá no mesmo acordo que nossa gangue, porra.

Taehyung deu os ombros, inabalado. Começou a descascar a tinta que já estava pelas metades da porta, e argumentou com fatos que o Park já tinha ciência:

— Você sabe que esse acordo é uma farsa. Conversei com o Byul sobre a proposta do DeChamp, e ele disse que se você 'tiver afim é só ir em frente, porque ele já 'tava planejando tirar os Zagini do acordo, de qualquer forma.

Gae Byul era conhecido por ser o líder dos Zagini e por ser um dos líderes de gangue mais benevolente. Sua benevolência, no entanto, era uma fachada: Byul sempre procurava por membros novos entre as pessoas mais desesperadas e necessitadas. Enquanto as outras gangues faziam testes com assassinos e atiradores para medir suas qualidades, Byul investigava o passado das pessoas. Foi assim que ele encontrou Taehyung, Jimin e vários outros dos seus capachos.

Na mesma moedaWhere stories live. Discover now