Rua dos Bastardos

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— Três meses, no mínimo. — A voz de Jungkook ecoou pelo pequeno apartamento de Yoongi com um veredito final ofensivo aos ouvidos do ferido.

O quê? — Jimin indagou ao mesmo tempo que o dono do apartamento murmurou para si mesmo, roendo um canto de unha:

Só isso?

— Você levou um tiro que no peito, Jimin-ssi — continuou o Jeon, sua voz soando comicamente séria para um garoto de dezoito anos. — Não perfurou um dos pulmões porque os Santos tiveram piedade de você. Precisa de bastante tempo para se recuperar, o ideal mesmo seria de três à cinco meses...

— Eu não tenho tempo para ficar de pernas 'pro ar esperando minha recuperação ser um sucesso — resmungou o homem de cabelo rosa, pouco se importando com os olhares análiticos em cima de si.

— O DeChamp não vai aparecer novamente nem tão cedo, você sabe. — Namjoon relembrou. — O seu tempo de recuperação vai acabar coincidindo com a volta dele para o Beco, eu aposto.

— Se é que ele realmente foi embora. — Hoseok palpitou e sua voz continha um quê de irritação agora que sabia que Yoongi havia sido baleado por causa do homem que devia muitos daqueles presentes na sala. — Aposto que 'tá escondido como o rato de beco que ele é.

— Não se trata apenas do DeChamp. — Jimin explicou, esfregando as mãos pelas madeixas tingidas e no rosto abatido. — Eu também preciso trabalhar 'pra me sustentar, tenho dívidas 'pra pagar e não posso deixar o Tae sozinho no Zagini.

Para sua explicação ninguém teve resposta. Jungkook quebrou o silêncio passando as instruções sobre como tratar do ferimento outra vez e confirmou que passaria no apartamento para ver Jimin três vezes na semana. Ele e os outros saíram em silêncio do local, deixando o clima pesado com a suposição de que Jimin continuaria ali, mesmo ele não tendo nenhum motivo para ficar.

— Três meses, então. — Yoongi repetiu em um tom ameno que Jimin não sabia o que significava. O ombro do mais velho estava consideravelmente melhor após sete dias do acidente e ele tinha, inclusive, voltado a trabalhar três dias depois que Jimin acordou.

— Você sabe que eu não vou ficar aqui esse tempo todo. Só estou esperando o Hoseok trazer o Taehyung aqui e aí vou voltar com ele.

— Não seja estúpido — rebateu, sentando-se na outra ponta do sofá onde Jimin estava. — Se você voltar para sua gangue agora, todo mundo vai saber que você está vivo. Inclusive o DeChamp.

— Eu não posso ficar aqui.

— Por que não? Eu estou oferecendo.

Jimin virou-se na direção de Yoongi, os olhos pequenos e firmes, fixos no rosto neutro do Min. Ele gostaria de levantar bruscamente e dizer "o que você quer de mim, Yoongi?", mas não conseguia dar um passo sem sentir todo seu corpo doer e também nunca conseguia ser ignorante com o mais velho.

— Porque eu vou ficar te devendo algo que não tenho como pagar depois. — Optou por responder, os olhos já longe da figura do outro.

— Eu não estou cobrando nada, Jimin.

— Nada no Beco sai de graça, Yoongi. — E abrindo um sorriso amargurado, completou:

— Achei que você tinha entendido isso três anos atrás.

-

A primeira vez que Min Yoongi viu Park Jimin, ele estava empoleirado no telhado de uma casa abandonada.

O Min caminhava pela Rua dos Bastardos, uma das melhores ruas do Beco para ser assaltado ou morrer esfaqueado sem nenhum motivo coerente. Era a rua emparelhada ao rio Namhan e tudo ali cheirava a fumaça, gordura e dejetos humanos. Ele não deveria ter entrado naquela rua, mas estava tão bêbado que acabou confundindo os caminhos e agora tremia de medo e frio no sobretudo grosso, implorando a qualquer santo que estivesse ouvindo para não ser assaltado ou morto naquele lugar deplorável.

Na mesma moedaWhere stories live. Discover now