Luz da Noite -21

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Tinha escurecido não fazia muito tempo. Saí com o carro, dizendo aos meus pais que ia só fazer um passeio, e porque John não tinha o costume de pegar muito no meu pé, não me perguntou aonde ia e que horas voltaria, apenas Amy me perguntaria... mas estava ocupada demais com as crianças. Fui à casa de Steven e dessa vez, ao invés de ficar no carro, optei por caminhar um pouco pelo bairro. Quando retornei, olhei para o chão e percebi que próximos aos pneus havia vários cacos de vidro, alguns de tamanho médio e alguns maiores. Não havia reparado neles na hora que desci do carro. Os encarei por alguns segundos, me perguntando qual seria a origem deles, e foi quando vi o reflexo do rosto de uma pessoa neles – Amy. Diante do susto, soltei um gemido sem fôlego e me virei imediatamente. Não tinha ninguém atrás de mim.

Naquela noite, tive um sonho. Eu estava deitada em minha cama, embora o quarto estivesse totalmente escuro, conseguia visualizar tudo como se tivesse visão noturna.

Não era do meu costume dormir de camisola (nem mesmo no verão, de qualquer forma deixávamos o ar condicionado ligado direto), muito menos dormir sem calcinha. Mas por algum motivo, naquela noite, eu dormia de camisola e sem nada por baixo. Talvez estivesse com Steven, e ele se levantou para ir ao banheiro ou para tomar água e já iria voltar... não seria isso divertido? Rolando na cama de um lado para o outro, no meio de uma crise de insônia, vejo Amy sentada no pé da cama, imóvel, me observando. Fecho os olhos, pois não quero que ela saiba que estou acordada. Espero alguns segundos e olho de novo. Ela continua lá, na mesma pose, totalmente imóvel. Deito de lado e fecho os olhos novamente. Talvez se os mantivesse fechados pelo tempo suficiente, ela iria embora. O meu cobertor soltou, de modo que metade dos meus pés estão para fora. Em um movimento lento e cuidadoso, Amy se inclina para tocar o meu pé direito com as pontas dos dedos e ao invés de manter a mão nele, ela começa a subir, indo para debaixo do cobertor, e seguindo pela minha perna até... não. Não!

– Pare! – berrei. E quando me dou conta, estou acordada sentada em minha cama após acordar com um salto. Segundos depois, escutei a voz abafada de John chamando meu nome, seguido do choro de Melody. E não demorou, ele abriu a minha porta como se achasse que o meu quarto estivesse em chamas.

– Satsuki! Você está bem?

Ultimamente, ando tendo muitos pesadelos. Neles, um homem que não conheço me persegue. Continuo sendo a moça ruiva de olhos azuis, mas não estou mais com Steven e muito menos em um lugar sereno. Essa é, porém, a primeira vez que acordo gritando. Me virei para John. Sinto um nó na garganta, de modo que a minha voz sai sofrida e abafada, quase como um sussurro.

– Pai.

– Querida... teve um sonho ruim? John se aproximou, e parecia um pai querendo consolar uma criança de quatro anos após um pesadelo. Naquele momento, eu me sentia vulnerável e carente como uma. Ele se sentou e enrosquei meus braços ao redor de seu pescoço, abraçando-o com força.

– Está tudo bem – ele me acalmava, afagando meu cabelo. – Está tudo bem.

Ele me perguntou se eu queria voltar a dormir ou conversar sobre. Falei que não queria conversar, que estava muito cansada e que queria tentar voltar a dormir.

Eu não estava cansada, meu coração batia rápido. John me cobriu, me deu um beijo na testa e se foi. Passei o resto da noite inteira sem pregar o olho.

No dia seguinte, aproveitando o tempo bom e a temperatura agradável, fomos todos ao lago, uma prainha colada à Rollins University. Contemplando a água azul turquesa à minha frente, eu estava sentada em uma cadeira embaixo de um guarda sol enquanto John brincava com Melody na areia, Hudson usava o paddle board e as crianças brincavam de pega-pega à beira d'água. Porque não fazia muito tempo que havíamos chegado, Amy ainda usava sua saída de praia – um vestido azul. Eu ainda usava a minha também, nova e igual à de Amy, com a diferença de que tinha um sutil detalhe vermelho pouco abaixo do ombro direito. Amy tinha terminado de passar o protetor, quando pegou uma cadeira, a colocou perto da minha e se sentou.

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