Capítulo 2

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As ruas decoradas não alegraram a moça nem por um segundo se quer, ao contrário, eu diria, a deixaram mais triste. Fazia a lembrar do Natal passado, quando saiu para esquiar com os amigos em algum lugar da Grã-Bretanha, havia beijado Christopher nessa época, aquela velha história de amigos que descobriram o amor e quando consumiram no mais sagrado alento, ela julgava que eram abundantemente felizes, caso ele não tivesse dado um fora nela depois de terem dormido juntos. Essa e mais um par de humilhação que ela se lembrava de ter passado, de forma tão vivida que parecia que acabara de acontecer.

Passando por um restaurante, Diana encarou os jovens que comiam comida japonesas, eram jovens, bonitos. Uma vida inteira pela frente, talvez. Não que Diana fosse velha, ou que sua adolescência tinha acabado quando um infeliz resolveu expor sua intimidade a pouco mais de doze meses, é só que Diana não tinha mais tanta alma e natureza adequada para sair daquele jeito.

A mulher, um bar adiante, encarando as vidraças, tentando ver se tinha espaço para mais alguém lá dentro viu quem ela não queria ver. Eram os amigos de Chris, aqueles que estavam na viagem junto com ela, aqueles que deixaram as informações de que Diana Since teria realmente dado para Christopher Miles. Andando o mais rápido que conseguia, Diana fugiu daquele lugar como se ele estivesse cheio de vampiros sedentos pelo sangue dela.

Ela nunca fora de sentir ódio por ninguém, nesses seus 22 anos de existência. Ponderou algumas vezes matar um ou outro, mas nada de ódio. Ira talvez, raiva sempre, ódio jamais. Contudo, Chris não tinha o perdão dela, estava longe disso. Muito, muito longe. E isso pesou no coração da ruiva.

⸺ Ho, Ho, Ho. ⸺ Surgiu um bom velhinho atrás da mulher que pulou de susto, o senhor aparecera no beco escuro da esquina que ela estava prestes a atravessar. Com o peito no coração e os olhos arregalados, Diana perdeu a fala. ⸺ O que tu tens, filha minha? ⸺ Perguntou o homem barrigudo.

⸺ Você me assustou. ⸺ Disse Diana com tom óbvio, até porque era óbvio.

⸺ Não estava me referindo a isso. O que tu tens, filha minha? ⸺ Voltou a questionar.

⸺ Nada. ⸺ Respondeu diretamente.

⸺ O que desejas, filha minha? ⸺ O papai Noel da escuridão mudou a pergunta, encostou-se na parede para melhor ouvir a ruiva.

⸺ Beber. ⸺ Respondeu ela, seca e direta.

⸺ O que desejas, filha minha? O que queres? ⸺ Voltou a perguntar.

Diana sem aguentar em si a raiva que estava daquele homem, foi até ele pronta para brigar, se fosse preciso. O senhor, vendo o que ela queria, já levantou os braços em redenção.

⸺ Eu quero ter a merda de um Natal sossegado sem ter a sensação que o mundo precisa que eu seja aquilo que eles querem. Eu quero uma noite tranquila, pelo menos hoje.

⸺ Por que, minha filha?

⸺ Porque eu estou cansada! Can-sa-da! ⸺ Replicou ela.

⸺ Não sei se coloco seu nome na lista dos bons garotos ou nos garotos levados... ⸺ Disse o Klaus.

⸺ Não vou nem dizer onde você deve enfiar essa lista. ⸺ Diana disse por fim, apontando o dedo na cara do Noel com raiva e um pouco de derrota.

Ela precisava muito beber, e se sentir bem consigo, e ter uma boa noite. Dane-se a ordem, era isso que ela queria.

Andando em passos rápidos e olhando com cara feia a cada elfo, ninfas, ajudantes do Noel ou enviados do Polo Norte (seja lá onde diabos fica o Polo Norte), a ruiva entrou no primeiro bar não-tão-lotado-assim que vira, as batidas do coração desreguladas pela caminhada e pelas lembranças que agora a torturavam. Sentou-se em um banquinho de frente ao barman que lançou lhe um belo e aberto sorriso. A moça se sentira acolhida com o gesto, era com um certo tipo de abraço de alma que ela recebera, o primeiro do ano, devo acrescentar. O ambiente estava quente, então assim ela retirou as luvas e o casaco que escondia o seu sobretudo; os flocos de neve caindo sobre o chão, iam derretendo em contato com o piso marrom, enquanto ela tentava ficar de modo confortável na banqueta.

⸺ Tequila, por favor. ⸺ Disse a mulher para o loiro do balcão.

Enquanto o barman preparava o drink que lhe foi pedido, recebeu uma comanda com alguma ordem impressa. Diana não estava prestando atenção no homem para saber do que se tratava. Olhava para o garçom com atenção, era o típico homem nórdico que você pode ver minimamente retratado em filmes ou algum assim. Os ombros largos, a camiseta justa, os olhos tão azuis quanto o céu de verão. O barman, vendo toda aquela tensão sobre ele, suspendeu o olhar e encarou os olhos amendoados de Diana, o sorriso aberto mostrava interesse, não de modo ruim, mas sim, do modo de que Diana merecia naquele momento.

⸺ Dia ruim? ⸺ Questionou o homem soando casual.

⸺ Quase o pior?! ⸺ Diana retrucou lançando um sorriso de lado que expressava tudo, menos alivio.

⸺ Quase? ⸺ Retrucou o homem sorrindo mais da careta que a ruiva o lançara. ⸺ Foi demitida? ⸺ Perguntou o garçom dando a moça o shot que ela pedira e duas fatias de limão. Pouco segundos depois foi posto na frente da mulher um bom e velho martine.

⸺ Eu não pedi a outra bebida.

⸺ Você não pediu. Mas, me mandaram entregar.

⸺ Quem? Quando? ⸺ Questionou a mulher levemente preocupada.

⸺ Quando você passou pela porta e trouxe metade da neve de Londres em suas botas e no cabelo. ⸺ Disse sorrindo de lado. ⸺ Não se preocupe, você não vai pagar por ele e ele não tem drogas ou algo do tipo.

O sorriso do homem foi tão genuíno que logo Diana se limitou a balançar a cabeça negativamente, partira para virar o álcool de modo tão rápido e ligeiro como havia chegado naquele bar. O grunhido que ela soltou foi o motivo principal para que ela tivesse sobre si, toda a atenção que o barman-nórdico-mais-que-bonito poderia dar lhe.

⸺ Pegou o Papai Noel e a Mamãe Noel viu? ⸺ Continuou suas perguntas.

⸺ O que? ⸺ Disse gargalhando. ⸺ Seu pervertido! Ew! Não!

⸺ O presente veio errado? ⸺ Perguntou rindo com a moça.

⸺ Ainda não é Natal para receber presente, é só a véspera.

Diana virou-se na cadeira e buscou alguma coisa na arquitetura e decoração do bar que não gritasse Santa Klaus Me Vomitou, os tons pasteis de marrom e amarelo eram bonitos e rústicos, as luzes eram calmantes e a música era da melhor qualidade que ela já vira em um bar que cheirava testosterona. Até que ela viu a jaqueta preta se esticando nas costas de um homem, ele estendia-se para lançar um pequeno dardo, suas costas ficaram ligeiramente marcadas pelos movimentos que fazia. Diana desceu o olhar para mais abaixo e encarou as pernas do homem, não negava que era uma bunda exclusivamente deliciosa, os sapatos, por sua vez, eram deploráveis. Mas havia algo naquele estranho que era conhecido.

Extremamente conhecido.

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