Finding Nemo

Deep Sea.

—Estou grávida. — Liying sussurrou.

—É sério? — Marlin nunca desacreditava da esposa, mas aquela notícia era tão maravilhosa que quase não acreditou.

—Sim. É um menino.

—E qual será o nome dele?

—Hm... Que tal Nemo?

—É um ótimo nome.

Marlin e Liying se conheceram na China, ele estava trabalhando por lá durante seis meses, se apaixonou pela mulher, começaram a namorar em pouco tempo e depois levou-a consigo para Austrália. O amor normalmente é expresso em reações fisiológicas, mãos suando, pernas bambas, frio na barriga... Marlin e Liying fugiam de explicações da ciência, eram o casal perfeito, se entendiam, se amavam, praticamente liam a mente um do outro, por isso, quando descobriram que Nemo estava dentro da barriga de Liying, foi a maior felicidade que o casal poderia imaginar, estavam desenvolvendo alguém que era um pouquinho dos dois, um bebezinho que os dois fizeram... Parecia mágica.

Nemo nasceu um garoto saudável, Nemo Zhang Stanton, forte de olhos puxados e cabelo ruivo como uma chama, entretanto, havia nascido sem o antebraço direito. É, seu braço direito terminava um pouco abaixo do cotovelo. Não que fizesse alguma diferença, era uma linda criança, não tinha problemas de saúde, era perfeito e muito amado. Nada poderia dar errado dali pra frente, nada poderia desfazer a felicidade da família... Certo?

Era o que Marlin acreditava, o que havia se convencido, totalmente otimista, seu bebê recém nascido, o casamento estava ótimo e num emprego incrível. Quem diria que isso poderia acabar de um dia pro outro? Foi quando chegou do trabalho numa sexta-feira e Liying não estava em casa, Nemo chorava sozinho no quarto, e aquilo era realmente muito estranho. O pegou no colo, procurou na casa inteira, na vizinhança e então

na cidade. Nada. Nada de Liying. Estava tudo bem entre os dois, suas coisas estavam todas arrumadas em casa... Pediu ajuda a polícia, as buscas iniciaram no mesmo dia, mas nada. A pior notícia veio dois anos depois: Liying foi encontrada morta no píer de uma praia muito distante. Daí em diante a vida de Marlin foi de mal à pior. Entrou em depressão, tornou-se superprotetor com Nemo, não permitiu que seu frágil garoto descobrisse o mundo, perdeu o emprego e toda vontade de viver.

Nemo não conseguiu fazer amigos, era muito estranho que não tivesse o braço inteiro, e nunca podia sair com as outras crianças para pelo menos tentar se enturmar, "da escola pra casa, de casa pra escola, Nemo", seu pai implicava, medroso, temendo perder o filho também. A morte da esposa não foi explicada, imagens de seu desaparecimento jamais foram encontradas, havia um grande buraco no coração da família Stanton.

A primeira amizade do mestiço ocorreu no ensino médio: Nicholas Bird, o Esguicho, como era chamado, era um jovem negro e de cabelos verdes, ele corria na bicicleta mais do que ninguém, e depois partiu para a moto, ensinou Nemo a andar de bicicleta e era o único que não se importava com a deficiência do amigo, era o único com uma mente clareada e livre de preconceitos dentro daquela escola. A amizade se arrastou por anos, ambos já com dezenove anos, trabalhavam juntos no "Ferro-velho medíocre", o nome é autoexplicativo, Nemo cuidava da loja e Esguicho fazia entregas em sua moto, que ás vezes servia de táxi também, era de uma família de taxistas.

Para Nemo estava bem cansativo, na verdade, a rotina cíclica de ir trabalhar e depois pra casa, era exaustivo. Não tinha chance de ir conhecer novos lugares, novas pessoas, se divertir... Nem mesmo havia pisado numa festa, não que Esguicho não convidasse, ele convidava e até demais, o problema era Marlin, seu pai, que nunca lhe deixava ter um sabor da liberdade.

Mas não é como se tivesse tempo para pensar naquilo, não naquele momento, haviam muitos brinquedos antigos precisando de um espanador de pó, aquela era a maior prateleira, haviam muitos brinquedos, a segunda maior era a de peças de computadores. Tudo coisa inútil, quase ninguém