O bom velhinho faz bicos como cupido

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O carrinho estava cheio, assim como minha memória estava cheia de informações sobre ele. O nome dele era Pedro Henrique, tinha 17 e infelizmente jogava lol. Mas ele era bonito, então dá pra relevar seu gosto duvidoso pra jogos online.

- Então você tá me dizendo que não liga pro Natal? - perguntou sem acreditar.

- Exatamente. Não gosto muito dessas gracinhas de trenó e rena mágica que voa.

- Então você não gosta de você?

- Como assim?

- É que você é uma gracinha. - sorriu.

Não é somente seu gosto pra jogos que é duvidoso, as cantadas também deixam a desejar. Mas ele é bonito, né?

- Ah, tá. Pensei que você tinha dito que eu era uma rena mágica que voa.

- Acho que na mitologia do natal você seria um duende, na verdade. O tamanho combina.

Franzi as sobrancelhas numa expressão exagerada de brava. Eu não era baixa e nem ele era tão alto, mas aparentemente ele ter uns 10 cm a mais que eu o torna um titã.

- Pra sua informação eu tenho 1,62 cm, tá? - me justifiquei por algo que não precisa de justificativa.

A verdade é que essa provocação sobre altura parecia algo de casal, e o que eu mais queria agora é que fossemos um casal. Só a parte do beijo e eu já estaria feliz.

- Por que você não me disse antes? - disse ele - Agora que você disse que tem 1,62 eu te considero um gigante.

Cruzei os braços querendo argumentar com ele sobre não ter gostado desse seu tom debochado, mas meu desejo foi interrompido pelo meu pai que virou seu carrinho no corredor segurando dois absorventes dizendo:

- Filha, finalmente te achei. Eu não entendo muito disso. Eu devo levar o com abas seco ou o com abas suave?

Pedro sorriu e sussurrou que tinha que voltar ao trabalho, saindo logo em seguida. Eu quis matar meu pai, eu nem tive tempo de pedir seu número. Absolutamente derrotada, segui meu pai até o caixa e esperei impacientemente produto por produto ser passado e colocado na sacola.

- Lola, você pode ir até ali e colocar esse dinheiro na caixa de doação? - perguntou meu pai apontando para uma caixa que estava logo ao lado de uma pessoa vestida de Papai Noel.

Peguei a nota que ele me estendeu e fui rumo a caixa, passei por Pedro que se encarregava de empacotar as compras em um caixa próximo ao meu. Ele olhou pra mim e piscou um olho, que eu retribui com um sorrisinho. Assim que ele desviou o olhar para as compras, voltei a olhar pra frente e notei que estava de frente para o Papai Noel que me encarava incrédulo.

- Você já está meio grandinha pra pedir presente de natal, mas tudo bem. O que você quer que o Papai Noel lhe dê esse ano? - perguntou.

- O que? Não, eu vim aqui pra doar dinheiro. - ergui a nota - Para as cestas de natal para as pessoas carentes, sabe.

- Ah, você errou um pouco o caminho, não acha? - perguntou rindo por baixo da barba falsa.

- É que eu me distrai. - confessei e olhei pra direção do Pedro, na esperança de estar sendo observada.

- Não me diga que quer o Pedrão de presente de natal!

Papai Noel gargalhou, mas o sua risada icônica foi substituída por um barulho semelhante a um pato engasgando. Não que eu tenha visto um pato engasgando, mas se eu visse tenho certeza que seria assim.

- Pode parar de rir, viu? - cruzei os braços impacientemente pela audácia desse Papai Noel fajuto.

- Tudo bem, tudo bem. - disse limpando lágrimas dos seus olhos - Já que aparentemente você é uma boa garota, vou te dar de presente o número do gostosão ali.

Arregalei os olhos. Ele puxou seu celular e mexeu rapidamente, antes de vira-lo pra mim. O nome "Pedrão do mercado" lia-se na tela, logo abaixo havia um número de telefone. Anotei em meu próprio celular e olhei para o Papai Noel.

- Obrigada, eu acho. - disse e me apressei para colocar o dinheiro na caixa de doações, eu queria desesperadamente sair dessa situação constrangedora.

- De nada e feliz natal. - dessa vez ele riu com a risada icônica.

Sai dali e dei um tchauzinho para Pedro. Fui até meu pai que me esperava na saída do mercado.

- Por que demorou tanto? - perguntou seguindo até o carro.

- Eu estava conversando com o Papai Noel. - respondi e dei de ombros.

- Eatava pedindo seu presente desse ano?

- Quase isso. - sorri.

Depois de ajudar meu pai a colocar todas as sacolas no carro, sentei no banco de trás e estiquei as pernas me apoiando sobre a porta. Peguei meu celular ansiosa pra mandar mensagem pra ele. Digitei algumas coisas, porém as apaguei antes de mandar. Decidi que começar com um simples "oi" era o suficiente. Desliguei o celular e tentei não ficar nervosa com a sua resposta. E se todo o meu surto sobre imaginar nosso casamento não foi correspondido? Afinal, eu sou facilmente confundida. Um simples ato de boa educação e eu já acho que devemos ter filhos juntos. Meu celular vibrou indicando uma notificação e eu rapidamente olhei querendo que fosse ele. E era ele.

Pedro
Oi, gracinha
                    11:27

Lola
Então você já sabe quem
sou eu?                               
11:27

Pedro
Claro, o Papai Noel fez
questão de me contar que
você estava desesperada
pelo meu número
                                          11:28

Lola
O que?
Esse velho tá louco
Acho que entrar por
chaminés não está fazendo
bem pra saúde mental dele
11:29

Pedro
Ao invés de chamar o
bom velhinho de louco,
você podia agradecer ele
Aparentemente o bom
velhinho faz bicos como
cupido
                                        11:32

Lola
É, talvez ele tenha acertado
no meu presente desse ano, só
dessa vez eu vou acreditar nele
11:33

Pedro
Olha que coincidência
Ele também acertou no meu ;)
                                                    11:35

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