coisas do passado

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13 anos depois do baile

10 dias para o Natal

- Mãeeee! - O atendimento ao cliente que procurava dois panetones recheados foi interrompido pelo grito aflito de Amber.

Tyler assumiu a frente do balcão e eu corri pelas escadas do depósito da confeitaria, que era também a despensa da nossa casa, encontrando minha garotinha sentada no chão junto a algumas caixas.

- Onde você achou isso? - Perguntei apontando para o embrulho dourado com um laço vermelho que ela mantinha no meio das pernas.

- Meu presente de Natal obviamente! - Ela respondeu levando as mãos ágeis até o laço - Você o escondeu muito mal dessa vez - Fui observando os dedinhos finos desfazendo o que impedia a caixa de se abrir - Apesar de eu estar achando ela muito leve para conter um computador, pensei que talvez seja um tablet.

Meu coração apertou, eu ainda estava sem reação com a volta do meu passado assim que aquela caixa fosse aberta.

- Isso não é o seu presente! - Falei tomando a embalagem da mão dela - O FedEx ainda não entregou seu computador, volte para seu dever de francês e evite entrar no depósito com os cabelos soltos.

Os olhos jabuticaba se arregalaram em me ouvir falar tão firme. Talvez até um pouco rude.

- Tudo bem mamãe! - Ela levantou e já seguia rumo a porta, quando o destino resolveu me pregar uma peça.

A caixa velha que eu segurava simplesmente desmontou com o afroxamento do laço e fez com que o conteúdo se espalhasse pelo chão.

O urso, o maldito urso que eu evitei por 13 anos zumbia algo impossível de ser entendido após se chocar no chão. A carta amassada no que parecia um golpe de azar rolou até os pés da minha garotinha curiosa que mais que depressa abaixou para pegar.

- Me devolve isso Amber! - Falei tentando evitar que ela conseguisse ler algo do papel encardido.

Peguei o urso falante e sai correndo atrás dela, que mais que depressa se trancou no quarto.

- Abre essa porta! - Gritei recebendo um não como resposta.

O urso ainda zumbia coisas inaudíveis, o que me causou surpresa já que eu não sabia que havia um gravador dentro dele.

Naquele momento Tyler apareceu na porta dizendo que a confeitaria estava lotada mas eu precisava pegar a carta de volta.

Passados uns 5 minutos, ainda com a porta fechada, Amber passou o papel por debaixo dela, me deixando um pouco mais calma.

- Mais tarde a gente conversa! - Gritei levando o papel e o urso para dentro do cofre, era o único lugar que Amber não conseguiria mexer.

Antes de fechar a porta da caixa de metal, talvez como uma armadilha do meu coração resolvi ler pela última vez o bilhete que me causou tanto sofrimento.

" Querida Meg, eu gostaria de ter tempo para te explicar tudo. As coisas não saíram como o planejado, mas eu vou realizar um sonho. Espero que você ouça e entenda pois eu embarco depois de amanhã. Do seu Loui! "

Eu nunca entendi o que ele queria que eu ouvisse. Na verdade foi uma surpresa perceber que o urso não era apenas um urso de pelúcia inútil. Louis sabia que eu odiava pelúcias. O maldito urso deveria me falar algo ou pelo menos explicar porque Loui foi embora sem me dizer ao menos um adeus.

Fechei o cofre junto com as memórias reprimidas, não sei se realmente quero saber o que Loui tinha para me falar 13 anos atrás e voltei para a confeitaria. O Natal batia na nossa porta e as vendas só cresciam.

Antes que eu descesse as escadas rumo ao enxame de clientes, fui surpreendida pela minha garotinha, que correu para me dar um abraço.

- Desculpa mamãe! - Ela falou enquanto fazia contato visual.

- Está tudo bem meu anjo!

- Posso te ajudar na confeitaria? - Ela perguntou colocando a touca.

- Claro! Preciso mesmo de ajuda com as casas de pão de ló!

E assim nós seguimos juntas para a Meg Bakery. Rumo a mais um Natal tumultuado, mas também inesquecível.

Um urso de natal (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora