Capítulo 2 - Escolhas

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CENA 1

Germano está sendo contido pelos demais atores, enquanto Ellen, pelo Afonso.

Germano: Olha o que você me fez, sua prostituta!

Ellen: Prostituta é tua mãe. Lava a sua boca imunda antes de falar de mim.

Erick tenta se meter...

Erick: Você bateu em um dos exímios dramaturgos desse Brasil!

Ellen: Eu tô nem aí... Mesmo se ele fosse o papa, escaparia da surra que eu vou dá nele!

Germano: Mas é uma selvagem! Você é mulher. Não tem a mesma força que eu.

Ellen: (sarcástica) Percebi na hora que caiu... como uma jaca podre.

Germano: Agora vai levar uma!

Afonso intervém a briga...

Afonso: (esbraveja) Calma, porra! Parem de brigar como se fossem dois feirantes, caralho!

Germano: (espantado) Nunca vi você falar com esse linguajar vulgar.

Afonso: Até parece, que cê nunca falou 'porra' na sua vida!

Ellen: Eu vou ir embora, mas ainda  vou te reencontrar, seu velho rabugento.

Ellen vai embora do teatro...

CENA 2

Clarissa chega em casa na hora exata que o telefone toca e resolve atender.

Clarissa: Alô, quem fala?

A pessoa responde que é um dos produtores do filme 'Carrie A Estranha'.

Clarissa: (animada) Ah, não acredito!... Eu consegui passar pro próximo teste!... Vai ser amanhã?... Está bem...

Desliga o telefone.

A animação de Clarissa chama a atenção de sua mãe Elisa que pergunta o que há com a filha, que a mesma comenta sobre a notícia que passou no primeiro teste para o filme 'Carrie A Estranha' que chegará aos cartazes em 1976.

Clarissa: Tem alguns produtores estadunidenses que estão chamando atrizes brasileiras para o papel de Carie. Eles estão realizando alguns testes por aqui.

Elisa: Que bom, minha filha!... Mas seu pai não vai gostar disso, não. Cê sabe que ele foi e é relutante com a sua carreira de atriz, e espera que você se case com algum homem.

Clarissa: (sarcástica) Eu quero me casar... mas daqui a uns vinte anos (ri muito).

Elisa: Não fala isso nem de brincadeira, minha filha!

Clarissa: Mãe, primeiro eu quero poder consolidar minha carreira de atriz. Depois eu penso em casamentos.

Elisa: Só peço pra tomar cuidado, Clarissa. Cê sabe como o seu pai é.

Clarissa: Eu sei, mãe. Por isso que eu nem toco no assunto da minha carreira, porque eu sei qual vai ser a reação dele. Eu vou lá no quarto estudar pro papel do teste.

Elisa: Tá bom. Mas por via das dúvidas, tranca a porta do seu quarto pra ele não saber disso.

Clarissa: Tá bom...

Clarissa sobe para o seu quarto.

CENA 3

Ellen vai para a sua casa em uma vila na qual se encontra na área mais humilde da cidade de São Paulo. A 'Vila Rainha', onde ocorre um grande número de assaltos.

Ela chega e se encontra com a sua mãe Valéria, que está corrigindo algumas provas da escola onde trabalha.

Ellen: Oi, mãe...

Valéria: Teve sorte, filha?

Ellen: Até agora, nada... Às vezes penso em desisitir, sabe?

Valéria: Calma, Ellen. É assim mesmo. Vida de pobre é de pura batalha, principalmente pra quem é... negro.

Ellen: Eu sei, mãe. Mas eu já fui em um monte de lugar, mas ao menos teve um homem que queria meu telefone pra poder ligar caso houver alguma vaga em aberto.

Valéria: É um sinal... Mas eu te falei, filha. Quem vai dá um posto de roteirista a uma negra, e ainda mulher!

Ellen: Mãe, eu sou capaz. Não estudei algo que gostava à toa. Sempre gostei de filmes, e sempre quis escrever um. É por isso que estudei Cinema.

Valéria: Eu acho que cinema é pra quem realmente tem dinheiro pra bancar algum filme. Minha filha, você não tem condições de dirigir um.

Ellen: Você pensa que é fácil. Eu me viro. Arrumo patrocinadores, pessoas que realmente podem arcar com os custos do filme.

Valéria: Só não quero que você se decepcione... Eu sei o quanto é duro mostrar o valor de uma mulher no mercado de trabalho. Ainda mais em plena ditadura militar.

Ellen: Mãe, eu já tive tantas batalhas na minha vida, que já até perdi as contas. Essa vai ser apenas mais uma batalha que tenho que lutar até os meus últimos limites. Eu acredito em mim, mãe... Acredito.

Valéria segura nas mãos de Ellen...

Valéria: Filha, também acredito em você. Mas eu te garanto que essa batalha vai ser brutal, e você vai ter lutar com todas as forças que tiver.

Isso faz com que Ellen fique pensativa.

CENA 4

Clarissa fica de frente ao seu espelho decorando a fala para o teste de amanhã quando de repente, escuta alguém batendo em sua porta. Ela abre e é seu pai Severo que acabou de chegar do trabalho.

Clarissa: Oi, pai. Cê quer alguma coisa?

Severo: Sua mãe está te chamando pra jantar, mas queria aproveitar pra te  dizer uma coisa...

Severo entra no quarto de Clarissa e senta na sua cama.

Severo: Eu sei que você trabalha naquele teatrinho. E vim te dizer pra parar com isso! Chega de ficar brincando de teatro! Essa palhaçada acaba por aqui.

Clarissa fica espantada.

CENA 5

Está anoitecendo. Ellen está indo para seu quarto enquanto de repente escuta tiros e os vidros das janelas de sua casa quebrando. Ellen corre para uma das janelas para conseguir ver quem é o causador.

E observa os militares trocando tiros com os rebeldes subversivos na vila onde mora. Isso a assusta. E de repente uma pessoa a aborda e põe a mão em sua boca, se espantando. Quem será essa pessoa?...

EMPODERAMENTO - 1°Temporada Onde histórias criam vida. Descubra agora