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  —E então? Pra onde levaram você? —questiona Bill que coloca a mão sobre seu ferimento no braço. Estamos sentados no mesmo canto que antes, um ao lado do outro.

  —A questão aqui é pra onde levaram você. —digo com as sobrancelhas levantadas. —O que fizeram?

  —Um cara tentou me matar, mas eu acabei matando ele. —ele diz calmamente.

   Fico em silêncio e engulo em seco. Olho para o chão e respiro fundo.

  —Eu quero sair daqui. —digo e noto minha voz saindo grossa.

  —Ok... Não faz nenhum mau sonhar. —diz o rapaz ao meu lado rasgando a borda de sua blusa. Com delicadeza, ele envolve o ferimento com o pedaço da blusa e faz um nó sem precisar de minha ajuda. Eu fico o observando enquanto ele faz o ato.

  —Há quanto tempo você está aqui? —questiono curioso.

  —Muito tempo. —diz ele se colocando de pé. Ele abre um sorriso e começa a fazer flexões rápidas.

  —Você não acha que fazendo isso, vai vazar mais sangue pelo seu ferimento? —questiono. Ele solta uma simples risada, coloca o braço ferido nas costas e continua as flexões com um só braço. Solto uma risada. —Convencido. Quantos anos você tem?

  —Sinceramente... Eu não tenho certeza, mas quando cheguei aqui, eu tinha 17 anos. —diz ele ao parar as flexões e se sentar de pernas cruzadas.

  A grande porta se abre, um dos três homens que parece, deixa duas bandejas próxima de nós e sai. Assim fechando a porta outra vez. Olho para bandeja e vejo comida. Vejo o arroz, um pouco de carne moída, e um copo com água. Bill pega sua bandeja, a culher que há na mesma e começa comer com vontade. Eu estou com fome, mas eu não posso comer. Eu sou vegetariano, o arroz estava misturado com a carne. Comer seria uma péssima ideia. Pego o copo de alumínio com água e começo a beber pra matar a maldita sede.

  —Derrick, você não vai comer? —questiona Bill quase com a boca cheia.

  —Eu vou passar mau se eu comer isso. Não quero sujar esse chão que já está muito sujo. —digo afastando a bandeja. —Eu espero que não seja esse tipo de alimentação todos os dias.

  —E... Não é mesmo. Às vezes é só arroz e água. —ele diz após engolir. —Bom... Já que você não come carne, eu vou ter meu alimento em dobro hoje.

  Abro um sorriso curto pra ele e bebo o resto da minha água. Eu não consigo para de pensar em Victoria e meu irmão, eu estou louco para saber como eles estão, quero muito vê-los, quero muito nos tirar daqui.

  —Será que tá dia lá fora? —questiono.

  —Pra ser sincero, não faço a mínima. —diz Bill terminando sua refeição. Ele olha para a bandeja cheia de comida que era para mim e faz uma cara esquisita. Parece enjoado.

  —Você está bem? —pergunto notando a expressão do rapaz.

  —Não. Nem um pouco. —responde o rapaz se colocando de pé.

  —O que você tá sentindo? —me coloco de pé.

  —CALA A BOCA!!! —ele grita extremamente alto e joga a bandeja contra a parede. A mesma de alumínio fica amassada na borda. Ele se encosta na parede e deslisa as costas até se sentar no chão. Suas mãos estão sobre a cabeça e os joelhos  encostados na testa. Vejo que ele está tremendo, eu escolho não me aproximar, ele pode tudo não estado em que ele se encontra. Sua respiração alta me incomoda, estou com medo por ele, eu quero muito fazer alguma coisa, mas não faço ideia do que eu posso fazer.

  Fico de pé com as costas na parede, fico o observando seriamente e extremamente preocupado. Mas o que caralhos está acontecendo com ele?

   De repente levo um susto com a porta se abrindo e os homens adentrando o recinto. Fico apenas observando os dois homens pegando pelo braço do rapaz e o erguendo enquanto ele grita em desespero. Ele está se debatendo tanto, mas tanto, que quase só esses dois estranhos não está sendo o necessário. Com todo aquele alvoroço, escolho me arriscar sair correndo do recinto, aproveitar a abertura sem proteção da grade porta. Minha respiração já está ofegante, acaba ficando mais ainda por eu ter a grande coragem de correr do local apressadamente. Me deparo com os grandalhões, mas consigo esquivar deles e começar correr sem rumo pelos corredores.

  Viro uma esquina, vejo um amontoado desses homens, viro para o outro lado sem pensar duas vezes. O maior azar que não posso ter agora, é tropeçar e cair. Muito provavelmente que eu não consiga me levantar por conta do desespero. Continuo correndo sem olhar para trás, só posso ouvir o barulho dos meus pés tocando o chão com intensidade. Com esse maldito desespero, acabo deixando as lágrimas embaçarem meu olhos e descerem pelo meu rosto.

  De repente vejo em uma boa distância os homens vindo em minha direção, não penso duas vezes e abro a porta de madeira que quase ultrapassei. Só sinto a queda imensa e o medo cruel me dominar. Não demora muito para cair em um rio de puro sangue. Eu consigo prender a respiração a tempo antes de mergulhar no rio de sangue. Fico me debatendo no fundo, sinto meus pés encostando na lama, aproveito para dar impulso para chegar na superfície, mas acabo escorregando e parece que fui mais a fundo. Mas que porra... Uso os braços, dou impulso e começo a chegar na superfície. Assim que chego, libero minha respiração e sinto o alívio dominar meus pulmões, mas o cheiro forte de sangue contaminou no ar. Olho em volta e vejo a borda dessa poça de sangue. Não está tão escuro aqui em baixo pelo simples fato desse lugar parecer uma caverna e a porta que eu havia aberto está aberta deixando a luz entrar. Há dois homens olhando para baixo e parecem estar tentando me ver, mas parecem não conseguir. O que não compreendo é que não ouvi nenhuma voz emitida por nenhum deles.

  Preparo-me para ir até a borda, mas sou puxado novamente para o fundo. Sinto a mão segurar pelo meu tornozelo e me puxar com tudo. Não é possível ver, é impossível abrir os olhos no meio de todo esse líquido vermelho.

  Continuo afundando até sentir a lama do fundo. Esforço para nadar de volta à superfície, mas sinto uma mordida na panturrilha que me faz abrir a boca para gritar de dor. Eu não posso acreditar que vou morrer assim. Balancei minha perna com força, senti o que me mordeu me soltar e com o movimento, acabo acertando uma parte da coisa que me mordeu. Começo nadar para tentar salvar minha vida, logo sinto um empurrão me impedindo de continuar subindo. Mas que porra. Não estou mais conseguindo prender o ar. Aflição não é o suficiente para explicar como me sinto. Sinto mais um empurrão e um arranhão na coxa. Estou perdendo as esperanças de chegar até a superfície vivo. Sinto ser puxado mais uma vez, acabo desistindo de me debater. Sinto ser meu fim e nada pode ser feito.

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