Aos Limites

- 04 -

  —... Ei... Derrick. Acorda, Derrick. —a voz de Bill soa em minha mente. Parece falhar suas palavras. Abro os olhos e vejo o rosto do rapaz mas está tudo turvo.

  —Bill...? —minha voz quase desaparece.

  —Oi... Bem vindo ao mundo das alucinações. —ele diz dando tapinha na minha cara.

  —Como assim? —tento me sentar.

  —Ei... Não se levante agora, seu idiota. —ele me empurra.

  —Ok... Mas... como eu voltei pra cá? —pergunto juntando as sobrancelhas.

  —Derrick, você não saiu daqui. O que você teve foi uma alucinação. Eu também tive e foi horripilante. Parecia tão real, achei que iria morrer.

—Eu também achei que eu iria morrer. —tento me levantar mais uma vez.

  —Que merda. Fica deitado. —ele me empurra com mais força para o chão. —Tô tentando deixar você bem. Todo mundo que chega aqui, passa por isso uma vez. Com o tempo se repete e é mais intenso. São os efeitos daqueles líquidos azuis.

  —Líquidos azuis?

  —Sim... Uma vez eu fui levado para um sala onde havia diversas pessoas presas em correntes presas no chão. Eu fui uma das pessoas que teve que ferir outras pra sair inleso de lá. Depois do que fiz, me seguraram e injetaram em mim uma substância azul claro. Eu fiquei tão sem noção com aquela coisa que tive alucinações.

  Fico olhando o teto e ouvindo Bill falar. Ele dá uma olhada no ferimento que ele recebeu da última vez e me olha quase sorrindo.

  —Sequestraram você sozinho? —questiona ele quebrando o silêncio que havia habitado.

  —Não. Minha namorada e meu irmão, estavam comigo. —digo puxando o ar e fechando os olhos. Solto o ar e abro os olhos lentamente. Meu peito está doendo e fazendo isso parece dar uma aliviada.

  —Unh... Se tiver sorte, eles ainda podem estar vivos.

  —Eles estão vivos. Eu sei que estão. —me levanto e encosto as costas na parede. —Mas... e você?

  —Eu... Eu estava passeando de bicicleta no asfalto dos pinheiros quando eu vi um senhor sentado no chão pedindo ajuda. Eu me aproximei e ele me deu uma pedrada na cabeça. Aí eu acordei aqui.

  —Você estava muito longe de casa?

  —Não muito. Era uns três minutos longe de casa. Se eu sair daqui, eu juro por Deus que não vou confiar em ninguém. Eu estou tanto tempo aqui, Derrick, eu nem sei como eu não estou na situação do surtados.

  —Eu quero sair daqui o mais rápido possível. —digo colocando as mãos no rosto.

  —Eu também queria isso. —Bill se coloca de pé, olha para o teto e logo para mim.

  —O que foi? —questiono.

  —Nada. Como é sua namorada?

  —Ela tem cabelos longos e ondulados. Seus lábios são bem vermelhos, parece que ela está de batom. Os olhos dela são grandes, tem um tom de azul bem claro.

—Espera, eu a vi. Eu acho. —Bill me faz esbugalhar os olhos. Me coloco de pé e encaro o jovem.

—Você a viu?! Você falou com ela?!

  —Eu a vi. Ela estava de joelhos do meu lado. Ela olhava para cima e deixava as lágrimas descerem. Ela usava uma camisa de força... Ela sussurrava algo como "Por que não estou morta?"