Capítulo 6

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Não se desconcentre, Kyouka.

Um único erro... controle-se.

As batidas de seu coração continuavam rápidas e fortes. Ela sentiu o suor escorrer pela testa e os earphones tremerem.

Mantenha-se fria.

O primeiro movimento da luta foi dado por Jirou. Ela enfiou os plugues de seus earphones no chão, ampliando a potência de seus batimentos cardíacos e provocando ondas sonoras poderosas na direção de seu oponente. Ela tentava desesperadamente se acalmar, caso contrário as batidas de seu coração machucariam Kaminari mais que o desejado. Ela não podia machucá-lo. Não sabia o porquê de ter tanto cuidado com ele assim, de repente. Mas ela tinha, isso que importava no momento.

Kaminari havia sido abalado pelas ondas sonoras geradas por Kyouka, mas apenas tampou os ouvidos como pôde e concentrou as descargas elétricas em suas mãos.

Por que... essa sensação estranha no seu peito... logo em uma hora tão inconveniente...
A visão de Kyouka começou a embaçar, e logo depois veio a tontura e a dor de cabeça.

Kaminari jogou uma descarga elétrica pelo chão, aproveitando as ondas sonoras criadas por Jirou e eletrocutando-a a uma voltagem não fatal, fraca o suficiente para não dar curto circuito em seu cérebro. Mas, antes que o choque a atingisse, a garota já havia desmaiado.

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Jirou abriu os olhos lentamente. Sua cabeça latejava e as suas pálpebras demoraram a abrir completamente.

- Finalmente! Estávamos ficando preocupadas! - era a voz de Momo.

Jirou olhou em volta e percebeu que não só Momo, como também Uraraka e Tsuyu estavam em volta de sua cama, assim como Hatsume.

- Os meninos acabaram de sair, tivemos que insistir muito para a Recovery Girl nos deixar ficar até você acordar - disse Uraraka.
- O que ela disse que eu tive?
- Um desmaio desencadeado por desidratação e excesso de estresse e nervosismo, minha querida. - a própria Recovery Girl respondeu enquanto entrava no quarto - Fora a descarga elétrica que recebeu do seu colega logo depois de desmaiar. - ao dizer isso, ela ergueu o lençol pelo qual Jirou estava coberta e apontou para algumas queimaduras em seu antebraço - Mas você já está bem. Lembre-se de beber bastante água e procurar não ficar estressada. O segundo período de aulas após o almoço vai começar dentro de alguns minutos, mas eu quero que você continue aqui até que se recupere totalmente.

Ela dirigiu um olhar sério - porém  gentil - às outras garotas, que entenderam aquilo como um aviso para que voltassem para a aula.

- Eu encontro vocês no jantar! - Kyouka disse antes de suas amigas fecharem a porta atrás de si.

Jirou ficou sozinha no quarto depois que a Recovery Girl também saiu para cuidar de outros alunos debilitados. O que fora aquilo? Como se deixara levar pelo nervosismo com tanta facilidade? Por que ficara nervosa? Não era do seu feitio falhar por aquele tipo de coisa em provas práticas tão simples.

"Os meninos acabaram de sair"

As palavras de Uraraka continuavam a se repetir em sua mente, que insistia em encaminhar seus pensamentos para um certo menino em particular. Será que Kaminari ficara preocupado? Claro que não, por que ficaria? Foi um desmaio desencadeado por desidratação, acima de tudo.

Kaminari era bem idiota. Fazia piadas sem graça que, exatamente por serem sem graça, faziam todo mundo rir, fora que não era muito esperto. Por que ela não conseguia parar de pensar nele? Seria por causa do seu temperamento gentil? Por causa do sorriso sincero, que se espalhava não só pela boca, mas pelo rosto todo? Seria por causa do cabelo loiro macio?...

Por que estava pensando naquelas coisas?

A resposta era óbvia, mas não queria admitir aquilo para si mesma.

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Logo depois do fim das aulas da tarde, Kaminari foi para o seu alojamento e se jogou na cama.
Ele fora para a enfermaria logo depois que Jirou desmaiara e recebera o choque. Na verdade, a carregara do ginásio para lá, depois de Aizawa avaliar a situação e ver que não era nada muito grave - pelo menos nada que a Recovery Girl não pudesse resolver em algumas horas.

Mesmo desmaiada, sua amiga era linda. O cabelo negro de corte repicado jogado para trás da cabeça  e os olhos fechados transmitiam um estado de tranquilidade em que, agora ele sabia, Jirou não estava. Ao erguer a cabeça para desferir o seu ataque, ele vira as bochechas pálidas e os olhos vidrados da menina logo antes de desmaiar. Com certeza ele dissera algo que não devia para ela. Como sempre, ele estragara tudo. Mas agora ele não conseguia pensar em nada que não fosse o cheiro de lavanda que Jirou emanava. Ela não usava perfume, mas seu sabonete cheirava muito bem. Se assustou com si mesmo ao imaginar como seria cheirar seus cabelos macios e acariciar a pele alva de seu pescoço.

Não.

Ele não podia pensar aquele tipo de coisa sobre Jirou, que agora considerava uma amiga querida. Ele tinha que a respeitar. Mas... será que ele não queria mais do que uma amizade? Ele gostava demais dela. Muito mais do que gostava de Mina, sua amiga. Muito mais do que considerava Kirishima, também seu amigo. Não. Seus sentimentos por aquela garota eram diferentes.

Ele se lembrou da conversa que tiveram naquela manhã antes do duelo, e também nas inúmeras conversas que tiveram ao longo das três semanas em que se encontraram quase todos os dias, nem sempre por causa do relatório que Aizawa havia pedido. Quanto mais conversavam, mais e mais ele se interessava pela incógnita que era (ou fora) Kyouka Jirou. Mais ele queria conhecê-la, ficar junto dela.

A partir daquele momento, foi o novo objetivo que Kaminari impôs a si mesmo: conhecer a figura pela qual, inconscientemente, desde o primeiro diálogo trocado, estava se apaixonando.

Somebody to love - KamijirouOnde histórias criam vida. Descubra agora