Como de costume e livre e espontânea pressão, vou à igreja todos os domingos. Minha ex namorada não tinha uma boa experiência com igrejas e eu era obrigada a ouvir seus comentários corriqueiramente. Da mesma forma, já tinha em mente que neste relacionamento a igreja seria novamente um dilema.
Havia conversado com Jade, e como muitos da comunidade LGBTQ ela também tinha traumas voltados à religião. Conversamos sobre, e sua reação foi imediatamente de negação a visita à minha igreja. Porém, em mim literalmente, a esperança é a última que morre.
Após algumas semanas de conversa e um relacionamento se solidificando, durante uma tarde de domingo a convidei novamente. E para minha surpresa ela aceitou. Sob alegação de que faria qualquer coisa para estar ao meu lado.
A companhia dela era de muito apreço, a desejava muito. Fiquei extremamente feliz, pois teria quem eu amo comigo. Fui muito mais feliz naquele dia, apesar de um nervosismo ter tomado conta de mim, pois minha mãe conheceria Jade.
As 18h passamos para pegá-la, eu estava muito entusiasmada, tentei me conter ao máximo. Tê-la comigo, ali, me trouxe o sentimento de proteção. Senti que nosso relacionamento tinha realmente um futuro, pedi profundamente o cuidado de Deus. Me senti acolhida por ela e por Ele. Me senti completa.
Na volta para casa tentei explicitar como sua presença foi memorável e intimamente necessária, queria que se repetisse.
Nossa rotina se perpetuou, o sentimento em mim apenas crescia exponencialmente.
Como disse, Jade é uma pessoa fechada, demorei para que ela conseguisse se abrir comigo. Até que então...
Jade havia alguns problemas pessoais bem complexos e quando fiquei sabendo meu mundo se abalou. Aconteceu algo fora de meu controle e que poderia piorar. Fiz o que pude para protegê-la. Naquele dia ela veio para um encontro semanal das pessoas da igreja. Mesmo com tudo o que ocorrera de ruim, aquela noite foi estranhamente boa.
A ilustre presença de Jade me trouxe nervosismo, por mais que eu tivesse tocado e cantado dezenas de vezes, a mulher que eu amava me ouviria pela primeira vez. Minha voz tremia, minhas mãos também, mas me contive.
Naquele dia descobri o prazer que tenho em cantar para ela, nem um show com milhares de pessoas supriria o sucesso de cantar para ela.
Suas feridas se tornaram minhas, nossas vidas haviam se unido naquela noite, algo selou o nosso relacionamento, só não sei se ela sabia.