UM

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TUDO DANDO ERRADO.

Eu não esperava pegar um plantão em plena noite de Natal em meu serviço. Não, não mesmo. Pois em hipótese alguma eu gostaria de trabalhar na delegacia quando os piores tipos de delinquentes parecem querer se reunir em um lugar em comum.

Posso não ser considerada a virtude ou a paciência em pessoa, contudo, é praticamente impossível se manter neutra quando um bando de bêbados fedendo a álcool mais que um posto de gasolina, te despem descaradamente com os olhos, disparam cantadas ridículas ou testam a sorte de tentar colocar as patas sujas sobre você só porque é mulher.

Mas no final eles sempre acabam aprendendo uma boa lição. Pergunte ao último engraçadinho que brincou comigo em sua prisão. Ele quase passou a sua primeira noite na cadeia com um braço quebrado e um olho roxo.

Otário.

Há outro grupo também que me tira a paz e que aparece aos punhados por aqui na delegacia, os problemáticos encrenqueiros, que adoram dar dor de cabeça a nós policiais, que apenas desejamos nos entupir de café e rosquinhas, sobreviver até o final de nossos turnos, e depois ir embora para nossas respectivas casas.

Esse grupo em específico deixa qualquer oficial de serviço de cabelos em pé. Deve haver algo, ou algum ser que possui o corpo desses indivíduos, porque é a única explicação lógica para o comportamento anormal que eles apresentam.

Os encrenqueiros em sua maioria, acham que podem resolver tudo na base da violência e da pancadaria, e é por esse motivo que os mesmos vem parar aqui. Só que, para a infelicidade geral da nação, esses imbecis acham que podem continuar se comportando do mesmo modo quando colocam os pés aqui.

Ledo engano, delinquente! Aqui não é a casa da mãe Joana não. E para que o indivíduo não pense que pode fazer o que bem entender, é nossa obrigação como agentes da lei, coloca-lo em seu devido lugar. Veja bem o que aconteceu a mulher que me golpeou a costela na semana passada, ela quase quebrou o nariz por isso.

Idiotas.

E por último e não menos importante, ocupando o primeiro lugar da lista negra de seres humanos para se odiar na noite de Natal (e talvez pelo restante do ano também), estão os intrometidos, babacas enxeridos, bicos de chaleiras ou como você preferir chamar aí na sua região.

Esses são os piores. Um grupinho impertinente, atrevido e...

-Rou, rou, rou... papai noel ainda não passou, mas já vejo um lindo presente embrulhado em farda.

Sampaio graceja esboçando um enorme sorriso ao exibir sua perfeita fileira de dentes brancos e me fita de alto a baixo com seu par de olhos escuros.

Irritante.

-Me diga, Silva, como está sendo sua noite de Natal ao saber que terá uma companhia tão agradável e boa para os olhos quanto a minha? -ele questiona debruçando-se sobre a mesa que ocupo no momento, e se inclina em minha direção enquanto passa uma mão pelo queixo livre de pêlos.

Rodrigo Sampaio até poderia ser considerado um homem muito bonito mesmo sem barba em outras circunstâncias, porém seu jeito prepotente e abusado de ser, sempre acaba ofuscando totalmente sua beleza.

-Tão prazeroza quanto rolar sobre um espinheiro ou um campo de urtigas. Veja! Estou até arrepiada de emoção. -digo cinicamente com os olhos arregalados apontando o dedo indicador sobre meu braço como se meus fios estivessem mesmo eriçados com a notícia.

-Ei, vai com calma aí, Capitã Estresse. Não precisa demonstrar tanto amor assim, logo nos primeiros minutos que me vê cruzando essas portas.

Ele ri como o bobalhão que é.

-Aposto que toda essa tensão que está emanando de si é falta de beijar na boca. Por acaso você já beijou hoje, Silva? Eu tenho quase certeza de que não, ou essas faíscas que estão saindo das suas orelhas neste instante e que poderiam iluminar a árvore de Natal da delegacia, não estariam tão visíveis a olho nu.

-Está se voluntariando para a tarefa, Sampaio? Pretende apagar meu fogo? -questiono em um misto de ironia e deboche, entretanto o tiro parece sair pela culatra quando Sampaio é mais rápido ao rebater com uma resposta espertinha.

-Eu não me importaria nenhum um pouco, mesmo sob o eminente risco de ser mordido pelas afiadas presas da tigresa bravinha.

Ele pisca um olho de um jeito que na cabeça dele deve ser considerado sexy, e eu reviro os olhos em órbita com tanta força, que por um momento acho que irão pular do meu rosto e cair no chão.

-E nesse caso eu não estaria em função de apagar seu fogo, Capitã Estresse. -Sampaio sussurra forçando a voz para que alcance um tom rouco e artificial. -Eu seria aquele que colocaria ainda mais fogo em você, essa é a verdade. -ele diz convencido passando a língua pelos lábios e eu acompanho o gesto com o cenho fechado, e as sobrancelhas franzidas quase numa monocelha de tão unidas.

-Cara, vai prender alguém ou fazer um boletim de ocorrência, que você e o mundo ganham mais. -eu o dispenso sacudindo uma mão no ar em direção a saída.

-Eu já disse uma dezena de vezes que  prefiro me algemar a você por uma noite inteirinha, Silva, mas você nunca aceita o convite, o que devo fazer então? -ele dá de ombros e eu cerro os dentes espumando de raiva por suas palavras impertinentes e de sentido dúbio.

Como eu quero matar esse homem!

-Apenas me deixe em paz, Sampaio. Vá para um canto e me deixe sozinha no meu. -resmungo impaciente encarando-o com seriedade no olhar. -Teremos uma longa noite pela frente, muita de dor de cabeça e vários problemas a vista até o final do plantão. -eu me exaspero. -O meu Natal já está perdido de qualquer forma, então por favor, trate de não piorar ainda mais.

🎄🎄🎄

Hello, pinheirinhos de Natal! Tudo beleza reluzindo como pisca-pisca? Digam-me o que estão achando da história! Ah, e não se esqueçam de deixar suas estrelinhas ou um gato irá derrubar sua árvore de Natal! hahaha
Beijinhos lambuzados de panetone 😘😘😘

Não Temos Neve [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora