- Sabe, criança, preciso voltar - a velha sorria à garota que piscava a sua forma, entre o semblante de menina e a silhueta de uma adulta.
- Quando eu vou poder vê-la? - a criança indagou querendo tocar na mulher que o tempo já trabalhou - Vovó, eu não quero que vá.
O ambiente tortuoso e vazio; deserto. Os dois corpos, acaso três, frente a frente preenchiam o horizonte. Imediato foi o momento singelo de despedida, a avó tocou o peito da infante, dessa maneira, revelou-se novamente a maturidade.
- Este não é lugar seu, eu a trouxe aqui. Não me resta tempo, nem memória o bastante. Você é em quem eu acredito - sentiu a face da grande neta enquanto tinha chance - Quero que realize seus desejos, você pode alcançar toda a felicidade do mundo, transforme o desespero de um pesadelo em esperança...
- Não, você ainda tem tempo, nós ainda nos encontraremos - chorava a cada difícil palavra que de sua boca saía - Você é a única pessoa que me restou.
- Há de conquistar mais. Até breve.
A ventania ecoou, soprando forte os vermelhos fios daquela genealogia. Os céus daquele deserto mostravam sua agressividade em cinza e azul, a tempestade levava a avó para longe da neta.
A menina despertou no leito, os marcadores apitavam, o coração de sua avó parava de pulsar. Acionou o botão de emergência aos prantos, sendo retirada do leito antes de ser capaz de iniciar qualquer ato a fim de salvá-la. Ficou ao aguardo na ala de espera, os segundos se tornavam horas, minutos pareciam dias esperando a solene resposta, que já tinha quase por confirmado o parecer.
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Dreamcatcher
Short StoryCat, em seu sono, percebe que mexia em um sonho que não era seu.