awkward silence.

1.0 - eu não aguento mais.

— Changbin.. Changbin... Chang, Bin. Changbin!! – O menino de madeixas loiras escurecidas, meio encaracoladas gritou com um menino que tinha um boné preto cobrindo o rosto, enquanto se mantia deitado aos pés de uma árvore na sombra fresca e acolhedora na segunda quarta-feira deste verão. — Nós vamos nos atrasar para a aula e eu tenho certeza que não quer levar bronca da senhora Schutz.
— Aquela velha bruxa que dá as aulas de coreano? eu não quero participar da aula dela.. Não quero ter que ouvir ela roncando e ressonando, enquanto senta naquela cadeira de couro que faz uns barulhos estranhos somente quando ela 'tá sentada ali. – Disse segurando o boné preto com os dedos pela aba, olhando frio para o garoto que parecia bem alto do seu ponto de vista, ditando as palavras de forma sincera.
— Changbin! não chame a senhora Schutz de bruxa e muito menos diga que ela ronca ainda acordada! se bem que é verdade.. E é meio nojento... – Tocou os lábios enquanto tinha uma visão horrível da professora já idosa sentada na maldita cadeira de couro, enquanto ela roncava observando os alunos. —  Mas mesmo assim! ela é a nossa professora e merece seu respeito.. – Disse cruzando os braços vendo o mais velho se levantar ajeitando a blusa feita de jeans preto e mangas de moletom.
— Acabamos de descobrir que você concorda comigo e, com certeza também não quer ir para a aula dela e só está insistindo por que você precisa das notas por culpa do seu pai. – Pegou a mochila da grama e pela alça menor a jogou nas costas a segurando com a mão. Jogou o braço livre nos ombros do amigo e a mesma mão ali, fez uma carícia na bochecha alheia. — Vamos Chan.. Eu sei que mais tarde você vai ficar "piando" no meu ouvido, e eu não vou gostar nadinha disso...
Chan sorriu e foi andando daquele jeito com o amigo, quando chegaram a sala correram para seus devidos assentos e ficaram calados junto a todos os outros alunos quando a senhora Schutz entrou na sala. A moça tinha uma aparência envelhecida. A pele flácida e uma verruga em seu queixo, lábios pintados com um batom vermelho escuro e um óculos meio engraçado e fora de moda, preso a cabeça dela por uma corrente fininha preta que o segurava para que não fosse de encontro ao chão.
— Alunos.. Hoje iremos dar as boas vindas para o intercambista, Lee Felix, que ficará o mês inteiro aqui na nossa escola recolhendo informações para a sua formação como professor. – Disse a mulher baixa, com a voz meio grave e rouca que aos pouquinhos ia se clareando mais. — Se apresente aos alunos Felix.
— Bem, como a professora já disse eu me chamo Lee Felix. Eu venho da Austrália, tenho vinte anos, e estou cursando línguas para poder me tornar professor. – Falou tranquilo, com um coreano meio embolado e um sotaque americano, soltando logo em seguida um sorriso praticamente incandescente na direção dos alunos.
Changbin que usava o celular parou então apenas para prestar atenção no outro garoto. Ele tinha cabelos alaranjados, covinhas que detalhavam o sorriso branquinho e limpo, além das sardas que pareciam constelações. Ele é uma gracinha.. Mas nah, não vale a pena, foda-se. O menino deu de ombros e voltou a olhar a tela do dispositivo que tinha seu brilho no mínimo, para não chamar atenção da "Bruxa" –o apelido carinhoso que ele havia dado para a professora–.
— É um prazer conhecer todos vocês e eu espero, que possamos criar um bom vínculo neste mês que eu vou estar aqui, observando as aulas. – O australiano não pode então deixar de notar que um menino de sorriso encantador com covinhas e bochechas fofinhas estava com a mão erguida. — Deseja falar algo jovem?
O guri de cabelos encaracolados de forma leve, como os de um anjinho se levantou e ajeitou as roupas. — Meu nome é Bang Christopher Chan senhor, eu sou o representante de classe e o represente escolar. Eu queria lhe dar as boas vindas pela turma e, também queria dizer que caso sinta que necessita de algo ou estiver perdido pelos corredores, basta vir a minha procura e eu irei o ajudar! – Falou na sua língua nativa, o inglês e viu o rosto do mais velho impressionado.
Felix se sentiu lisongeado que havia um aluno naquela sala, fluente em inglês. Com certeza iria confiar em Christopher para guia-lo pela escola, e provavelmente o ajudá-lo ao entender o coreano.
— Christopher, já que ofereceu ajuda ao professor, por que não tira um tempinho do seu intervalo para apresentá-lo o cardápio, tenho certeza que nesse meio tempo podem se conhecer e então, pode apresentar tudo a ele. – A professora meio carrancuda ao ver o sorriso do menino, se pronunciou para cortar logo aquela conversa.
— Por mim tudo bem! – Disse e olhou o outro australiano.
— Então, por mim tudo bem também. – Felix sorriu e sendo "liberado" com um aceno de cabeça da professora, ele foi se sentar numa cadeira, logo atrás de Christopher que, quando a professora se virou ao quadro começando a passar a lição, aproveitou os alunos se falando e conversando animadamente entre si, e se virou para Felix o olhando.
— Oi senhor Felix! – Disse com um acento australiano preso em sua língua. — Assim como você, eu também sou australiano acho que posso te ajudar bastante quanta ao coreano aqui na escola. – Bagunçou os cabelos.
— Oh claro! vai ser um prazer ter a sua ajuda.. – Ia ditando enquanto tirava um caderno e um lápis da mochila que trazia consigo.
— Ah! – olhou o amigo que havia posto os pés sobre a mesa e abaixado um pouco o boné. — Esse aqui é o Changbin, ele é meu melhor amigo e com certeza ele vai adorar te ajudar também.
Rosnou enquanto virava os olhos e estendeu a mão ao professor que a segurou a apertando com calma. — É um prazer conhece-lo senhor Felix.
— Também é um prazer Changbin.. Mas não deveria estar sentado corretamente e com o caderno aberto? – Disse erguendo uma sombrancelha, querendo "ajudar" o aluno.
— Nah, eu não me ocupo em fazer as lições daquela bruxa roncorosa senhor Felix. – Abaixou as pernas e voltou a mexer no celular.
— Bruxa? Roncorosa? – Disse sem entender bolhufas do que o menino, vestido com roupas escuras disse o vendo tirar o boné revelando o cabelo raspado dos lados.
— Vai entender assim que ela sentar naquela cadeira.. – Sorriu meio amargo.
— Vira pra frente Changbin! rápido!
— Quem está virado p'ra trás olhando a conversa dos outros é você Chan. – Riu e abaixou minimamente a cabeça, cubrindo a boca se preparando para segurar o riso.
Assim que a professora se sentou na cadeira, foi possível ouvir algo como um famigerado "peido" estalando por toda a sala. Com os alunos segurando o riso a professora se moveu na cadeira causando novamente o barulho grave e engraçado.
— Do que tanto riem? – Ela disse séria e os alunos pararam imediatamente.
Perceberam que ela fechou os olhos e começaram a rir silenciosamente, quase todos morrendo por um infarte, principalmente Changbin, Felix e um outros dois alunos da sala, Jackson que era um repetente um tanto idiota e Mark Tuan que era seu namorado e havia chegado dois anos depois dele na escola.
Changbin sem querer bateu na mesa com deveras força e a professora abriu os olhos fazendo os alunos travarem nos lugares com cara de paisagem.
— Hum.. – A mulher olhou o quadro e todos se arrumaram, vendo ela voltar a olha-los e começar a roncar com a garganta.
Felix já havia visto todo tipo de coisa nojenta quando estava fazendo um cursinho de enfermagem, mas a garganta daquela mulher se mexendo em pequenas e curtas ondas enquanto ela roncava fazendo um barulho asqueroso era pior que tudo! O menino mais velho que cada aluno daquela sala, deitou a testa na mesa e chorou baixinho com a imagem presa na cabeça.
— Deus por que fez isso comigo. – Resmungou baixinho e Chan e Changbin, entendendo do que ele falava começaram a rir baixinho, deitando as cabeças na mesa também.
— Chan e Changbin. – A professora que já havia se aproximado rapidamente dos dois em silêncio os chamou vendo eles pararem de rir e Felix parar de profagar. – Vocês, junto ao professor Felix. Venham me acompanhar a diretoria.
E agora, finalmente, uma bomba que eles já haviam acendido o pavio a um tempo, havia estourado. E tudo por que eles haviam falado do ronco da professora para Felix e o outro havia clamado a Deus para que posse um balde de candida a sua frente para que pudesse limpar as imagens do cérebro.

Já de tardezinha, na hora do intervalo Chan junto de Changbin e o novo professor Felix, riam, na fila para a compra do lanche ou self-service dos alunos e professores; na diretoria eles haviam entrado numa mínima encrenca, já que o diretor da escola entendia eles quanto ao motivo das risadas, rindo com eles depois da professora ter saído da sala. Normalmente eles entrariam numa péssima confusão, porém por Chan ser um ótimo aluno, Changbin ser sobrinho do diretor e Felix um intercambista de uma das melhores universidades de Jersey o diretor Seo resolveu deixar tudo pra lá.

Chan, junto de Changbin mostrou em inglês, cada prato e opção dos lanches disponíveis para comprar no cardápio da escola. E como o outro não comia nenhum tipo de carne, mostraram para ele os outros pratos do self-service, apresentando cada um dos ingredientes ali. Quando terminaram de comprar e pegar seus alimentos, se dirigiram a uma mesa juntos e ficaram ali jogando conversa fora, pra lá e para cá, até acontecer o que sempre acontece.
— Channie~! – Uma menina de cabelos curtos e olhos, grandes e fofos disse enquanto vinha de passos pulados na direção de Christopher com outras duas garotas. — Oi docinho! como está sendo o seu dia?
— Oi Jihyo... – O menino falou começando a ficar constrangido.
— Quem é essa menina?... – Felix sussurrou para Changbin.
— O nome dela é Jihyo... É uma das meninas interessadas no Chan.. Que pena que ele não gosta de nenhuma delas, ele só tem olhos pra uma pessoa, e ela sabe bem quem é- — Changbin foi cortado pela garota olhando para ele, com os olhos afiados como uma faca pressentindo morte.
— Oi Changbin. – Disse firme pondo medo na espinha do menino. – Olá senhor Felix! – Imediatamente o tom de voz mudou para um mais suave e tranquilo.
Felix apenas acenou para ela e Changbin pegou o celular, passando a mexer nele sem a mínima intenção de conversar com menina. Essa doida varrida, meu amigo nunca, iria ficar com alguém como ela, pensava o Seo.
— Então o que você faz aqui Jihyo?... Está querendo conversar sobre algo? – O loirinho escurecido, disse se encolhendo minimamente.
— Eu queria saber Channie.. Se você quer sair comigo hoje a noite depois da escola.. Só eu e você... – Se aproximou, bastante enquanto enrolava o dedo na gravata do uniforme dele.
Christopher reprimiu os lábios enquanto se encolhia no banco de couro liso e novo, vermelho, tentando se afastar dos peitos daquela menina o máximo que podia se afastar para garantir a própria segurança mental.
— Eu não sei se vou querer sair com você não Jihyo... – Disse repreensivo quanto a reação da menina.
— Mas por que você não pode Christopher? – Ela disse começando se alterar — Você está dizendo um não para mim!? você já arranjou outra garota não é!?
— Meu deus do céu.. – Felix falou olhando tudo com cara de paisagem não entendendo necas de pitibiribas do que estava se passando a sua frente.
— Garota, tem como você sair dessa mesa e deixar o meu amigo em paz? eu não aguento mais ouvir essa sua vozinha ridícula. – Apoiando as mãos com força na mesa, já irritado, falou Changbin.
A menina, como sempre esnobe, jogou os cabelos curtos na direção do Seo e suspirou baixo saindo da mesa sem dizer uma palavra sequer. Ambos os três adolescentes já estavam acostumados com isso, Jihyo sempre tentava chamar a atenção de Chan, Changbin sempre o ajudava e Jihyo, ignorava o menino meio gótico apenas indo embora.
Da próxima vez, Changbin jurava que iria enfiar as mãos na cara de Jihyo.