0. 𝗟𝗢𝗨𝗖𝗔

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Louca.

Você é louca.

Eu sou diferente. Eles dizem que sou louca. Eles me chamam de anormal. Não é porque eu cresci em um orfanato, é por causa da voz.

Louca.

A voz apareceu primeiro nos meus sonhos e pesadelos, me chamando de louca. Eu ignorei por um tempo, mas ela dominou minha vida. Eu ouvia ela o tempo todo. Ela me chamava de louca, nada mais.

Louca.

Com treze anos, me levaram para um psiquiatra. Ele disse que era minha imaginação, que a voz não era real. Mas ela continuou me chamando de louca.

Louca.

Continuei com o psiquiatra por um tempo, até que fiz quinze anos. Foi quando surtei. Eu não me lembro direito do que aconteceu, mas vi a voz assumindo um corpo. Uma mulher loira.

Você é louca, Camila.

Eu gritei, começando a chorar em seguida. Eu não era louca. Queria que isso parasse. Queria que ela fosse embora. Naquele mesmo dia, fui colocada em um sanatório.

Louca.

A voz diminuiu quando fiz vinte anos. Eu a ouvia com menos frequência, mas eu estava mais calma. Foi nessa idade que descobri quem eu era. Eu era uma das 43 crianças milagrosas. Eu tinha o poder de mudar de forma. Eu podia mudar meu corpo. Mas isso não explicava a voz.

Louca.

Eu não saí do sanatório. Eu tenho trinta anos agora. Eu não posso sair. Por quê?

Eu sou louca.

É o que todos dizem.

𝗠𝗔𝗗 𝗠𝗜𝗡𝗗 ᅳ HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora