[PRÓLOGO]

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2018

Ariella

"Os militares acabam de receber a ordem! O prefeito e o governador junto com o presidente, decidiram que irão invadir e tomar posse do Morro do Fidalgo, aqui mesmo no norte do Rio de Janeiro!"

— Misericórdia! — Dona Veronica exclama entrando no quarto em que passo roupa. Ela é uma senhora muito simpática para quem eu trabalho à longos quinze anos. Veronica e Carlos são meus patrões, eles são médicos e tem dois filhos Giovanna e Diego. Faço um pouco de tudo aqui nessa casa, limpo, às vezes cozinho, limpo mais um pouco e assim vai. Tiro os fones de ouvido, a música fica abafada, coloco o ferro quente na tábua e a encaro. — Minha filha, você ouviu? 

— Ouvi o que, Veronica? — Pergunto voltando a passar a camisa branca de Carlos. 

— Acabei de ouvir no rádio, agorinha mesmo vindo pra casa, a polícia vai entrar lá onde você mora! — Ela me conta e sinto a sua preocupação com a notícia tomar conta do meu corpo, engulo em seco, passo a mão no peito sentindo um aperto forte. A senhora dá uns passos em minha direção e pega o ferro da minha mão. — É melhor você ir! Vai ver como está seus pequenos, eu vejo na tevê que quando isso acontece é bem perigoso. 

Solto um suspiro de alívio, quando lembro de repente, que Camille, minha irmã mais nova está olhando meus filhos. 

— Não! Tudo bem, Veronica! — Murmuro tentando sorrir, minha mãe sempre me disse que em caso de preocupação e sufoco é só sorrir e não forçar seu coração com mais angústias, tento levar isso em diante todo dia. — Minha irmã está cuidando dos meninos hoje e também, estou quase acabando aqui. 

Veronica me olha por um instante e então suspira mais aliviada, fico muito grata por ela se preocupar com meus filhos, não poderia pedir uma patroa melhor. Ela começa a tirar seus saltos e então solta o cabelo, eu a acho tão elegante, Veronica ainda consegue ser formosa em seus 53 anos enquanto cuida de seus pacientes em cima de saltos gigantes e com um sorriso. 

— Tudo bem então, — Ela diz por fim, tira algumas notas da carteira e coloca na cômoda. — Compra uma pizza para as crianças, sempre digo ao Carlos que nas sextas tudo pode! — Veronica me sorri e começa a se retirar. — Termine isso e quando for embora, tranca tudo, vou tomar um banho, cuidado na volta pra casa querida! 

— Obrigada, Veronica! — Exclamo guardando o dinheiro no bolso do uniforme. 

Uma hora depois eu estou no ponto de ônibus, já é seis horas e dezoito minutos, tudo escuro demais e sem nenhuma iluminação, imediatamente eu lembro de Beni, meu filho ainda não superou seu medo de escuro. Penso em pegar o celular na bolsa mas acabo levando em conta que se eu for assaltada, não vou ter como pagar por outro aparelho. Dois minutos depois eu pego o ônibus que vai até o metrô, pesco o celular na bolsa e ligo pra casa, toca, toca, toca e ninguém atende. Franzo a testa, normalmente a Mannu corre para atender e era para ter acontecido, nem que fosse qualquer outro que atendesse mas tinha que ter alguém em casa. 

Durante os sessentas minutos em que fiquei dentro do metrô o telefone só chamava e ninguém atendia, comecei a ficar angustiada na segunda ligação. Passo pela catraca e saio da estação, ainda com o telefone no ouvido eu atravesso a rua, a multidão alvoroçada, todo mundo frenético correndo pelas calçadas dão início a minha comunidade, o Morro do Fidalgo está um completo caos. Chego até a viela por onde sempre corto caminho e vejo uma senhora ser amparada por um jovem, parece ser uns dois anos mais velho que o meu Gael, quando estão passando por mim, a bolsa da senhora cai e eu a pego, lhe entregando. 

— Ei, aqui… — Estico a bolsa e ela rapidamente agradece e se vai. 

Termino de subir um último escadão, que dá para a pequena rua de somente cinco casas, incluindo a minha, onde eu moro com meus quatro filhos, o mais velho, Gael de doze anos, os gêmeos Bernardo e Mannuela de oito anos e o meu caçula, Leonardo de quatro anos, além da minha irmã mais nova, Camille, ela tem 33 anos e é sambista, ela dança profissionalmente para a escola de samba aqui da comunidade. 

Corro pelo asfalto ruído e antes de entrar na casa com a pintura verde descascada, vejo Jonas o filho da vizinha, um garotinho um ano mais novo que Gael descer o escadão no final da rua, abro a boca pra gritar para ele ir pra casa, quando o zumbido e estrondo do tiro passa muito perto daqui, Jonas se joga no chão e cobre a cabeça, jogo a bolsa para dentro do portão de ferro enferrujado e corro até ele, pego o menino no colo bem na hora que ouvimos mais uma leva de disparos bem na rua de cima, corro com ele até em casa, fecho o portão. Já dentro de casa, coloco ele sentado no sofá e arrumo meu cabelo. 

— Tá tudo bem, Jonas? — Pergunto, ele continua sentado, junta as pernas perto peito e ainda calado. Começo andar pela casa e chuto o chinelo de Camille que acho no meio da sala. — Gente!? — Grito na cozinha, volto por onde vim e entro no quarto de minha irmã e de Gael, nada. — Gael! Filho?!! Camille!! — Entro em meu quarto, divido com os gêmeos e com Leo, vejo as camas desarrumadas. Escuto os tiros um atrás do outro já aqui na rua, gritos de raiva e ódio, insultos e xingamentos vem junto com os disparos. — Mannuela? Bernardo? Leonardo?!!! — Meu coração bate tão forte que parece estar gritando em desespero, assim como estou agora. Passo por Jonas e o silêncio deste menino está me agoniando mais ainda. Paro em frente o banheiro e seco as lágrimas bruscamente, tento abrir a porta e então respiro aliviada, trancada. — Podem abrir! É a mamãe! — Aviso e dou cinco toques ritmados na madeira, segundos depois Bernardo abre a porta e se agarra as minhas pernas, chorando. Abraço sua cabeça e me abaixo, Mannuela chega junto com Leonardo de trás do box e choram assustados como o irmão. Pego Leo no colo e o acalmo. — Tudo bem… Vai ficar tudo bem, gatinhos. — Olho em volta, além de Jonas, nada. — Cadê o Gael? E sua tia? 

— Oh mãee!! — Mannuela chora copiosamente, tento acalmá-la, até que ela respira mais calma.

— A tia saiu! — Bernardo conta engolindo o choro por um instante mais ainda com lágrimas molhando seu lindo rostinho, as seco com as pontas dos dedos. — E o Gael também! 

Meu sangue some do rosto e todo esforço que fiz para chegar em casa, finalmente pede a sua conta, minhas pernas fraquejam e eu me apoio na parede mais próxima imaginando meu filho no meio de todos esses tiros. 

— Eu vi… — Escuto a voz miúda de Jonas pela primeira vez desde que chegou, levanto e caminho até ele. — Ele tá lá, jogado! — Jonas conta e aponta para a rua de cima, de onde vi ele correndo, seu choro tão triste e desesperado quanto os dos meus filhos. — Desculpa tia… A gente não fez nada demais! A gente tava soltando pipa e aí eles veio e, e, e… 

— Escutem! — Aviso sentindo minha força e coragem serem repostas. Puxo Jonas pelo braço e o empurro para dentro do banheiro junto com meus filhos, Bernardo me olha alarmado. — Filho, escuta, pode deixar a luz acesa mas não abra essa porta pra ninguém! Vão lá pro box! — Mannuela puxa Leonardo e o coloca embaixo do chuveiro, depois volta e empurra Jonas. Olho para os meus bebês e beijo suas cabeças. — Vou buscar seu irmão! Pode trancar. 

Prendo o cabelo e saio para o espaço minúsculo que chamamos de varanda, vejo quando o último homem desce o escadão por onde vim e então saio, saio em busca do meu filho, do meu Gael. Naquele momento, eu nunca imaginei que quando eu chegasse na rua de cima, o que iria encontrar arrancaria um pedaço do meu coração e da minha vida! Eu nunca, em momento algum, em sequer um segundo da minha jornada valente e corajosa imaginei que iria encontrar o corpo frio e sem vida do meu filho! 

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FALA GALERINHA DO WATTPAD!

Gente, chego hoje com a minha mais nova história, conta a história de Ariella, Daniel e o erro milionário que os uniu, espero que gostem!

Muitos beijos!

Rica RelâmpagoOnde histórias criam vida. Descubra agora