[PRIMEIRO]

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Atualmente… 2020

Jardim Santo Xavier, Minas Gerais

Ariella

Colo mais um palito de sorvete em cima do outro, para começar uma nova fileira em aumentar o tamanho da prateleira em formato de hexágono que estou confeccionando. Assim que termino, ergo para ver como ficou e sorrio, estou ficando cada vez melhor para uma artesã novata. Levanto e pego um pincel e um frasco de verniz, aprendi que nem tudo eu preciso pintar, o natural já fica muito belo. Termino de passar na terceira face do adorno geométrico e escuto os pés baterem no chão.   

— Mãe! — Leonardo grita do portão na entrada da propriedade. — Oh mãee! Eii mãe! — Ele continua a sinfonia conforme vai se aproximando do quintal dos fundos, balanço a cabeça e continuo meu trabalho com o pincel. — Manhê! — Faço uma careta para a apelação, eles sabem que odeio esse manhê

— O quê?!! — Exclamo de volta, escuto a porta bater e logo ele chega no meu cantinho entre as árvores frutíferas e a piscina.

— Mãe? — Leo murmura puxando a respiração, recuperando fôlego pós corrida. 

— Diga. — Falo passando o pincel no último lado, coloco para secar e o encaro, todo descabelado e com o rosto vermelho, tava andando de bicicleta, tenho certeza. 

— A Mannuela está lá na casa do seu Erasmo! — Ele conta com os olhos arregalados em um tom que enganaria qualquer um com preocupação, mas eu não, Leonardo está aqui somente para fazer fofoca e ver a irmã ser castigada. 

— E o que tem, uai? — Pergunto para vê-lo duvidar se foi uma boa idéia vir contar. — O que ela está fazendo lá?
 
— Mexendo nas flô! — Ele volta a contar todo seguro. 

— Leonardo, — Chamo seria e ele me olha com expectativa e meio temeroso. — o que foi que eu te disse sobre fazer fofoca? 

— Que é muito feio e fazer com meus irmãos é pior ainda. 

— Justamente, filho! — Murmuro sorrindo, ele faz besteira e depois se arrepende. — Fofoca é feio porque pode prejudicar muito a pessoa, entende? — Meu pequeno acena arrependido. — Então, quer que sua irmã fique toda avacaiada? 

— Não. — Ele finaliza. — Desculpa, mãe. 

— Tudo bem, vamos lá ver o que sua irmã tá aprontando. — Digo levantando, pego em sua mão, deixamos a casa de ferramentas atrás do pomar, passamos pela estrada entre as casas, a do caseiro nos fundos e que se tornou nossa moradia e pela lateral o casarão. 

Chegamos a rua e logo que estreito os olhos para ver mais além, vejo Mannuela saindo da casa azul bem cuidada do nosso vizinho, Erasmo, ele é um bom senhor mas não gosta nenhum pouco de criança intrometida, mas eu sei, a Mannuela ele suporta porque ela gosta de flores assim como ele. A amizade deles não tem perigo, ele a vê como neta e ela vê ele como avô, sem contar claro que ultimamente ela anda numa rebeldia fora do limite, fica perguntando do pai inútil dela e eu não aguento ouvir nem o nome dele, quando ela está com Erasmo e as flores ela fica tranquila. Minha filha acena sorrindo para Erasmo e ele acena de volta com a cara de paisagem de sempre. 

Mannu carrega duas mudas de flores, uma em cada mão, sorri como as flores que tanto ama, quase todo dia ela vai buscar mais e mais mudas para plantar, aprendeu com ele claro, porque eu mesma não sei. Sua atenção com as plantas muda para Bernardo que corre até ela com uma tela em mãos. Ela mostra suas novidades e ele a mesma coisa. Leonardo ao meu lado pula e acena para os dois contente em vê-los, mesmo com toda a implicância de irmãos, é assim desde que ele percebeu que infelizmente Gael não ia voltar pra casa no final das tardes.

Rica RelâmpagoOnde histórias criam vida. Descubra agora