24 de Dezembro de 2012
Véspera de Natal, caminhando na rua, sozinho. É muito difícil lidar com esse dia. O dia em que meus pais morreram. Rua deserta, escuridão densa e eu caminhando sem rumo, sem vontade de voltar pra casa. Pra superar o frio uso um moletom verde escuro, calça jeans e all star. Sento no banco da praça cabisbaixo. Ergo a cabeça procurando alguém na rua, olho e vejo um mendigo, encolhido com frio, no escuro a me olhar. Não tinha como fingir que ele não existia e continuar ali, sentado, lamentando a sua falta de sorte. Assim como ele, eu também não tenho ninguém. Me levanto do banco e vou até ele. Não preciso do meu moletom, mas, ele sim. Tento ser simpático.
- Vejo que o senhor precisa de um amigo?
-...
- O senhor está com frio. Pegue esse moletom.
Estendo a mão com o moletom oferecendo ao mendigo. Ele se inclina para frente para alcançar o moletom e mostra parte do seu rosto, principalmente os olhos. Seu olhar raso de lágrimas estava fixo em mim e isso me chamou a atenção. Não era emoção pré-natal. Quando reparei bem fiquei emocionado. Ficamos nos encarando, estáticos. Ele não mexia um músculo, sequer. E eu também não. "Eu conheço esse mendigo." Pensei e o meu coração disparou.
-Pai?
Ao invés de pegar o moletom, ele segura a minha mão para se levantar. Depois de ficar em pé ficamos cara a cara. "Não pode ser... Ele está vivo? Vivo!" penso repetidas vezes. A única coisa que eu quero, agora, é abraçar meu pai. Meu pai não estava morto e eu não estava mais sozinho. Um delírio? Não sei. Ele está do mesmo jeito, tirando à roupa de mendigo. A mesma altura, a mesma cara... Meu pai abre os seus braços pra me abraçar, pareceu adivinhar meus pensamentos. Seus olhos brilhavam tanto quanto seu sorriso. Então abro os meus braços para receber meu maior presente. Meu pai. Já de braços abertos começo a me aproximar. Agora só preciso de alguns centímetros pra fechar o abraço... O olhar do meu pai que estava fixo, e cheio de lágrimas se desviou e o abraço ficou pra outra hora, se der tempo. O sorriso largo desaparece dando espaço uma palavra. Ele repete a palavra, mas não ouço. "Parece estar sem voz?" reflito. Segurando os meus ombros começou a gritar, mesmo sem voz. Me concentro é algo importante, urgente. Olho e na sua boca a única coisa que eu entendo é "Demios!". "Demois!"? "Deminios!"? Como eu não estava entendendo ele, desesperado girou meu corpo em 180°(graus) para que eu veja o que ele queria dizer. E, a poucas distâncias, vejo coisas que já tinha visto em pesadelos quando era criança. Não era "Deminios", que ele gritava. Era...
-Demônios!
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O Anel do Demônio
Horror"Meu nome é Rafael Menucci Belmiro tenho 19 de idade, mas sou órfão desde os meus 14 anos. Meus pais não morreram de acidente, nem de doenças. Seus órgãos vitais, simplesmente pararam. Um mistério, para ser franco. A morte deles não teve explicação...