CAPÍTULO 5

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           Assistir o sol nascer pela janela do quarto, minha cabeça latejava a cada segundo, por não ter dormido, as perguntas me atormentavam e os pensamentos não paravam por um minuto se quer. A cena do meu pai pendurado sobre a corda no meio da sala se instalou como uma foto e sempre que fechava os olhos, o via com aquela expressão de dor e tristeza. Não conseguia raciocinar em nada direito a não ser na morte dele e nas perguntas sem respostas que eu mesma me enchia. Mamãe entrou em um estado catatônico olhando para o nada e chorava sem acreditar que papai realmente nos deixou, mas assim que vovó, Annie, chegou em seu fusquinha cor de rosa, seu olhar que outrora era alegre, fez com que mamãe caísse na realidade de vez e seu choro se tornou um grito no meio de uma crise de raiva e desespero, vovó a dopou antes que ela se machucasse.

Do lado de fora uma chuva tranquila e suave banhava a cidade, quando o corpo de papai chegou, logo formos presenteando com uma chuva de granizo que a três anos não passava por esta cidade miserável, deixando tudo muito frustrante, pois ele adorava quando granizo caía do céu e sempre falava umas constatações malucas, mas muito engraçadas sobre, ele tinha uma alma leve, uma criança no corpo de um adulto, um grande coração que ajudava todos ao seu redor. E, de fato, eu não tinha ânimo para nada, meu cérebro e corpo está no modo automático, nesta merda que aconteceu. Tudo está confuso e me culpo sempre que as imagens da noite retrasada passam por minha cabeça, a expressão que fez quando me afastei... O olhar triste que lançou a mim...

Droga!

Mamãe estava novamente no modo catatônico, não comia, bebia e nem se quer falava.

Era deteriorante ver-lá desta forma.

Depois de tanto pensar e me perder neles até sentir minha cabeça latejar. Levantei-me do sofá e subi os degraus da escadaria. Caminhei pelo corredor e vi a porta entreaberta do quarto da mamãe, a empurrei, chamando a atenção dela que me olha com os olhos cheios e vermelhos de tanto chorar. Só precisava dela, seus braços quentes e um caloroso beijo e que ela me disse que ia ficar tudo bem.

Mas...

— Não... saia!

Assenti e fechei a porta, uma lágrima sorrateira desceu em meu rosto e me frustei ao perguntar se ela realmente me culpava por isso? Como eu também me culpo! Sem a resposta, paro de frente a quarta porta daquele andá ainda no corredor e bato na madeira, minha avó abriu e me fitou.

- Oi! - Disse em uma fiada de voz, antes de deixar toda a dor sair junto das lágrimas. Ela não disse nada, apenas envolvendo-me em seus braços calorosamente. Annie tinha um cheiro de erva doce, sinal que havia saído do banho, puxou-me para dentro daquele espaço ainda em seus abraços e bem ali me deixou chorar até que eu adormecesse, com ela sussurrando que tudo ia ficaria bem.

E, devo admitir, tive apenas sonhos bons com meu pai, estava feliz como sempre, jogando seu jogo favorito de tabuleiro.

Não havia preocupação ou desespero.

Não tinha a dor do luto.

Era apenas nós, felizes como sempre deveriam ser.

Até que trovejou alto e o céu ficou escuro. O vento estava forte e espalhava meus cabelos. O cenário que era azul, branco e ensolarado, onde os pássaros cantavam, ficou estranho, logo meu pai me prendeu em seu braços, gritando que era minha culpa, cuspindo em meu rosto como um maniaco. Então, gritei, chorando de angústia, ao sentir uma enorme dor no peito, braços me apertaram suavemente, aninhando-me calorosamente, por um minuto pensei que fosse mamãe, mas o cheiro de erva doce chegou em minha narinas assim que puxei o ar.

- Tá tudo bem, Shh, Tá tudo bem! Foi só um pesadelo! - Disse vovó suavemente.

Suspirei, pois nem percebi que tinha prendido o ar.

CITY MALLORY: O PREÇO DA MENTIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora