Capítulo 4: A nuvem, Haras.

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Sua cabeça doía.
Seu braço esquerdo doía.
Na verdade, seu corpo todo estava em um estado insistente de dor.
Era assim.
Era assim que Sarah se encontrava.
Deitada em um leito de hospital.

9:00 horas da manhã, esse era o horário atual.
O pai, e os irmãos de Sarah já tinham ido embora.
Como sempre, apenas sua mãe ficou.

Sarah estava lendo e relendo o bilhete que recebera de Jorge.
Era seu mais novo tesouro.
Agora, Jorge era capaz de usar magia através de pedaços de papel.
Ela passou a admirar o irmão.
Desejou poder fazer o mesmo.
Prometeu a si mesma que tentaria.

Sarah mostrou seu bilhete a Haras e suas amigas.

" - Olhe Haras, olhe o que Jorge me deu!"

Estava feliz.
Mas não pelo bilhete em si.
Não pelas palavras nele escrita.
Mas sim, pelo fato de ter descoberto que Jorge, seu irmão, também podia fazer mágica.
Estava orgulhosa.

" - Tenho muito a ensinar, lhe falta prática."
Ela pensou.

Sarah tinha a certeza de que seria uma ótima professora.
Ensinaria tudo a Jorge.
Ensinaria o poder mágico das palavras.
Muito mais do que isso, lhe ensinaria a não limitar suas palavras a pedaços de papéis.
Ensinaria a Jorge, o poder das palavras faladas.

A garota abriu seu livro, abriu em sua página preferida.
A página 1.
A página onde se encontrava escrito: "Era uma vez, uma garota..."
Para Sarah, essa era sem dúvidas, a frase mais especial do livro.
Essa frase não dizia muito, mas é por ela, que tudo começa.
Foi essa frase que fez com que todas as outras fossem escritas.

Antes do "Fim".
Antes do "Viveram felizes para sempre".
Antes do herói salvar a menina do lobo.
Antes do lobo sentir fome.
Antes da menina sair pela floresta sozinha.
Antes de sua avó ficar doente.
Antes de tudo.
O "Era uma vez", foi escrito.

" - O começo de tudo", Sarah dizia. " O começo, é o mais importante, é ele quem dá vida as outras palavras, ao resto da história. Algo que não possuí um começo, nunca será nada, além de nada."

Sarah amava o começo das coisas, pois assim, sentia que podia amar completamente, o meio, e o fim de tudo.
Sarah amava, por completo, tudo o que se propusera amar.

Foi na primeira página de seu livro, que a garota guardou seu bilhete.
Aquele bilhete.
Aquelas palavras.
Seriam o começo de uma nova história.
A história que Jorge e Sarah escreveriam juntos.

" - Juntos..."
Em meio as lágrimas que surgiram em seus olhos, foi assim que Sarah disse a si mesma.
Baixinho.
Nem Haras a ouviu.
Nem mesmo seu parceiro cilindro.
Apenas ela ouviu.

" - Espero que essas lágrimas, sejam as mesmas do papai. Elas são boas..."
Ainda baixinho, disse a si mesma.

Não demorou muito, logo sua mãe chegou.
Dessa vez sem o médico, para felicidade de Sarah, sua mãe voltou sozinha.
Aparentava estar preocupada, Sarah tinha a certeza que estava.
Talvez se dissesse que estava bem, que foi apenas uma queda, talvez ela ficaria melhor.
Se talvez mostrasse o bilhete, ela ficaria feliz junto com ela, pelo fato de Jorge também ser um mágico.
Talvez, apenas talvez, poderiam descobrir juntas, que todo o resto da família também sabia fazer mágica, até mesmo o preguiçoso do Bartolomeu, com seu miado.
Sarah pensou, pensou em todas essas possibilidades.
Mas não conseguiu tornar em fala nenhuma delas, pois sua mãe a interrompeu.
De fato, ela estava preocupada.

- Sarah, sei que sua cabeça dói, por que mentiu ao médico?
- Não menti mamãe, eu não menti.
- Sua cabeça está doendo?
- Sim...
- Então você mentiu, Sarah.
- Se eu disser que não sinto dor, ela então, ficará com vergonha de ficar, e irá embora!
- Mas isso não existe Minha filha, não é assim que funcionam as coisas.
- Mas é claro que é mamãe, acreditar em algo, é uma forma mágica de torná-la real.
- Mas, Sarah...

A garota do manto vermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora