Capítulo 2: Bartolomeu, o gato.

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Sarah permanecia em frente a sua janela, onde admirava a solitária nuvem que agora, parecia lutar contra o vento para permanecer imóvel no céu. A garota começara a amar aquela nuvem, até um nome a tinha dado: "Haras", sim, Sarah ao contrário.

Para Sarah, aquela nuvem era completamente diferente dela, seu oposto, segundo ela, enquanto a nuvem parecia lutar para permanecer imóvel, Sarah por outro lado, queria lutar para poder se mexer, sair de lá.

"- Ela é livre mas quer ficar parada, estou presa mas quero sair."

Disse a si mesma, completamente confusa do porquê, as pessoas sempre queriam aquilo que não se tinham, mesmo quando o que se tem, é para o outro valioso.
Para Sarah, o valor de algo só era dado, se esse algo não lhe pertencesse, era injusto e confuso, mas para ela, era sem dúvida, uma verdade.

Seus devaneios foram interrompidos pelo ranger da porta que se abrira atrás dela, eram seus pais, seus irmãos e Bartolomeu, o gato.

A cena era muito comum para Sarah, ela se repetia todas as manhãs, com exceção dos sábados e domingos, nesses dias, só sua mãe vinha lhe ver, por isso, Sarah nunca gostara de tais dias, não entendia o que acontecia, talvez seu pai e irmãos ficavam ocupados demais para visitá-la, talvez estivessem lá fora, com os lobos, sim, com certeza com os lobos...
Como Sarah gostaria de conhecer os lobos também.

O que se acontecia a seguir era algo que Sarah já havia gravado:
Seu pai se aproximava, lhe dava um beijo na testa, lhe desejava um bom dia, e se afastava.
Logo, seus dois irmãos se entreolhavam, e diziam ao mesmo tempo, "Bom dia, Sarah.".
A garota sorria para os três, todas as vezes, e desejava um dia igualmente bom, não, um dia melhor ainda.
Seu pai então, olhava todas as vezes para o cilindro de metal que Sarah carregava, passava-lhe a mão, e Sarah podia perceber, que todas as vezes, uma lágrima escorria de seus olhos, ela não entendia, se eram lágrimas de felicidade por ela ser especial o bastante para usar um daqueles, ou se eram lágrimas de tristeza, por ele não ser especial como ela.
Preferia acreditar, que era de felicidade, de orgulho dela.

- Vamos meninos, precisamos ir...
Disse o pai, interrompendo o silêncio.

Os três se viraram, partiram em direção a porta, mas antes que saíssem, Sarah conseguiu dizer algo que a muito tempo não lhe diziam e muito menos os ouviam dizer:

- Amo vocês!

Essa frase deveria ser mágica, imaginava a garota, capaz de paralisar quem a escutava, pois causava esse efeito, toda vez que dita por ela, todavia, não tinha efeito em sua mãe, ela nunca se paralisava, ao contrário, sempre se movia, sempre em direção a Sarah, para lhe abraçar e repetir em seu ouvido: "Nós também amamos você.".
E dessa vez, não foi diferente, o mesmo se ocorreu: Seu pai e irmãos imóveis e sua mãe a lhe repetir, o que Sarah dissera.

A garota nunca ouvira de seu pai ou irmãos essa frase, talvez não sabiam dizer, talvez não entendiam de mágica, como Sarah e sua mãe...

O pai de Sarah e seus irmãos, então saíram, a deixaram com a mãe e Bartolomeu.

Sarah adorava Bartolomeu, mas quase sempre era impedida de brincar com ele, e dessa vez não foi diferente, a mãe lhe agarrou entre os braços e o levou para fora do quarto, deixando Sarah mais uma vez, sozinha.

A garota voltou para o lugar preferido de seu mundo, sua velha janela.
Através dela, pôde ver seu pai saindo com seus irmãos, e logo depois sua mãe caminhar pelo jardim, com suas ferramentas de jardinagem, ela iria fazer o que fazia todos os dias, cuidar do presente de Sarah.
Enquanto observava sua mãe, a garota teve uma ideia: Por que não sair do quarto, e brincar com Bartolomeu? Era arriscado, ela sabia, sua mãe lhe proibiu completamente de deixar o quarto sem ela, mas não tinha ninguém em casa, sua mãe estava ocupada demais para se lembrar dela, seria rápido, ninguém jamais saberia, com exceção de Bartolomeu e ela, é claro.
"- É o plano perfeito!", se convenceu.

A garota do manto vermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora