Pule, Kim Seok Jin

Capítulo 1 - Como começar uma história

  A ironia não passava despercebida.

  - Sim, eu entendo que não é exatamente seu ramo, mas veja, Verônica, o autor solicitou especificamente você. Ele é um grande admirador de seu trabalho.

  Nossa protagonista segurou um palavrão, porém deixou que uma careta se formasse.

  - Ele não entendeu nenhum de meus livros, então.

  - Vamos lá, querida - sua editora ignorou o comentário. - Pense bem, vai ser ótimo para você.

  Depois de desligar, nossa bela protagonista se jogou em sua cama. Ela se pegou pensando na cena tão clichê que se encontrava: a mocinha do YA irritada, se tacando no colchão e bufando de braços cruzados. Mas era inevitável. O asno daquele autor (que já havia entrado em contato algumas vezes...) não entendia que não fazia sentido contratar como ilustradora para seu novo livro logo ela, a criadora da série Como Não Criar Um Personagem.

  Resolveu desestressar - se é que aquilo era possível - no Twitter, esperando encontrar alguns vídeos de seus amados meninos. Se surpreendeu ao ver a timeline flodada com tuites da @portocomportobr.

  Ana, sua soulmate, sempre fora descontrolada no twiters, isso nunca incomodou Veve, pelo contrário, achava divertido acompanhar os surtos da amiga.

  Entretanto, faziam alguns meses que seu filhotinho andava quieto nas redes sociais, devido à correria de iniciar sua carreira nos palcos pra valer. Ela pulava de teste em teste como macaco pula de galho em galho. Sempre animada, sempre exausta, sempre Nhoque Charles.

  Verônica, então, estranhou a presença da amiga no site, soltando comentários vagos que variavam entre "ai meudeus que MERDA eu fiz agora" e "putamerda tô nervosa AAA".

  O que mais se destacou foi um simples "é hoje." O ponto final significava algo sério, e a falta de capslock deixava tudo mais surtado (sim, vai entender essa menina...), de acordo com a leitura precisa de Beronika.

  De repente tudo se encaixou em um clique na cabecinha da moçoila.

  PUTAMERDA ERA HOJE.

  Sem hesitar, ligou para o Filhotim.

  - Alô?

  - Putamerda, amiga, é hoje, não é??

  - Oi, Vê - ela saudou, desanimada.

  - Fala logo, criatura, é hoje que sai o resultado, não é?

  - Sim - e mais silêncio do outro lado da linha.

  - Por que você tá desse jeito? Você já... - uma sensação ruim invadiu seu estômago. - Você já viu? Não deu certo?

  - Não, ainda não saiu. Pelo menos não apareceu nada no meu e-mail nos últimos setenta e quatro F5 que eu dei.

  - Então, por que você tá assim? Sabe, ficar na espera de uma notícia é melhor do que receber uma ruim logo de cara.

  - Eu sei, eu só... tô tão nervosa. É tipo meu breakthrough. Eu quero tanto, mas tanto esse papel. Fora que é a única chance de eu participar de um Dorama - ela riu sem muito humor.