1995 || reddie au; ⭐

a virada do ano

<Dia vinte e quatro de dezembro de 1995, Prédio Dormitório número 4 da Universidade do Michigan, 14:35 - Ann Arbor, Michigan>

Eddie acordara suado na cama de seu quarto, o peito buscando por ar enquanto ele tossia de maneira ansiosa. Sentiu uma mão apertar a sua, e percebeu os cachos de Richie logo acima dele. Eddie tremia, e se sentia gelado.

— Rich! A Coisa, Rich, ela está aqui! Rich — ele chamou o amigo, Richard, que era mais que seu amigo àquele ponto. Richie fez uma cara confusa; ele sabia o que havia acontecido, não sabia? Que a Coisa havia invadido o quarto de Eddie e feito-o acreditar que aquele era Victor. Ele sabia, não sabia? Ele tinha certeza que Richie sabia, mas Richie apenas parecia confuso olhando para um Eddie que havia acabado de acordar.

— Aqui, Eds, usa a sua bombinha, você tá assoviando já — Richard disse, colocando a bombinha na boca de Eddie e apertando o gatilho. Eddie engoliu, sentindo a sensação ruim passar aos poucos enquanto ele podia voltar a respirar novamente — Já está tudo bem. Você desmaiou mas já voltou aos seus sentidos. Tá tudo bem agora.

— Hã? Que? Como assim, tá tudo bem? Rich — ele disse confuso, procurando com os olhos ao redor do quarto; Victor estava caído na cama, desmaiado, o nariz sangrando. Flora estava sentada numa cadeira ao lado, dedilhando as próprias mãos em nervosismo, esperando que Victor acordasse. Eddie estava confuso — Rich, Flora, a... A Coisa...

— Eddie. Ele entrou no seu quarto e... — Rich começou a explicar, coçando a cabeça — Eu... Acabei com a raça dele, Eds, quando te vi desmaiado. Não soube o que fazer. Na hora que eu consegui entrar, foi quando você apagou. Ele estava em cima de você. Ele ia... Ele ia fazer algo muito ruim com você se não tivesse interferido.

Eddie estava sem entender direito. E a Coisa? E tudo aquilo que ele ouvira a Coisa dizer para si, sobre o senhor Bob Gray? E as mãos dele apodrecendo e o cheiro de carne podre e esgoto e os olhos laranja e os pompons e tudo que eles conversaram no quarto logo depois? E a Coisa?

E tudo que aconteceu depois que ele ficou sem ar? Depois que Victor quebrou sua bombinha?

— Nós... Eu e a Flora entramos. Precisamos arrombar a porta. Sua bombinha estava quebrada e ela tentou colocar outra na sua boca, mas você já havia desmaiado.

— E... Não sei se você se lembra, mas o Victor estava completamente fora de si. Estava bêbado... E ainda por cima usou drogas — Flora disse com a voz embargada — Eddie, nós... Nós sentimos muito, não imaginávamos que algo assim aconteceria justo na véspera de Natal. Estávamos preparando uma surpresa...

— Espera. O que vocês estão me dizendo? Estão me dizendo que eu imaginei tudo aquilo? Que eu sonhei tudo aquilo? — Eddie perguntou, e então Richie pareceu mais confuso ainda.

A cabeça de Richie estava a mil por hora. Ele não entendia o que estava acontecendo com Eddie, só sabia que havia o salvo de algo horrível quando entrou em seu quarto sem aviso, há poucas horas. Viu Eddie desfalecer no chão, enquanto Victor subia sobre ele, o olhar mais assustador que Richie já vira em toda a sua vida, exceto por um olhar amarelo que ele não se lembrava exatamente; talvez o do lobisomem adolescente, aquele filme velho ridículo. A adrenalina tomou conta de seu corpo quando ele entrou com pressa e segurou Victor pelo colarinho, dando um murro no maxilar do rapaz. Richie se lembrava de ter gritado algumas palavras desconexas para Victor, enquanto Flora corria para levar Eddie de volta à cama. Richie estava fora de si, e gritava com Victor que tinha o olhar mais vago de todos. Por fim, ele levou um murro no nariz que provavelmente quebrou todos os ossos e fez com que ele desmaiasse ali mesmo, nas mãos de Richard. Flora tentava acordar Eddie com a bombinha, mas nada funcionava. Richard apenas se culpava por tê-lo deixado sozinho. Se eles não tivessem aparecido, Victor podia ter feito muito mal ao Eddie, e foi isso que eles explicaram ao Kaspbrak, deitado em sua cama, que agora tomava um chá encarando o Victor desmaiado na cama da frente, parecendo tão podre quanto ele o vira há algumas horas.