O dia amanhece como qualquer outro dia, pássaros canários exibem todo os seus talentos musicais lá fora. Fico um pouco deitado na cama olhando para o teto, pensando na vida, sobretudo no que aconteceu. Como o meu projeto não foi aceito? Cara fiz tudo direitinho, não faz sentindo, todos aplaudiram com fervor o meu projeto, isso não poderia ter sido apenas encenação. Há alguma coisa muita errada nessa história. Ainda bem que o Eduardo volta de férias hoje, vou falar com ele a respeito do meu projeto, ele é um homem bem sensato, aposto que apreciará meu projeto.
Paro de pensar nesse projeto, que tem tirado o meu sono e roubado minha paz durante a semana toda. Olho pro lado, ela está dormindo ainda, como dorme linda e suavemente. É como se a gravidez tivesse lhe trazido uma paz extra, que bom, saber que não foi afetada pelas minhas frustrações me deixa mais aliviado. Pois eu sei, se fosse em outros tempos estaria tão angustiada quanto eu, todavia, eu não iria lhe poupar como eu estava lhe poupando naquele momento. Durante todo nosso casamento que já dura quatro anos, aliás, durante todo nosso relacionamento do namoro ao casamento, suas preocupações eram minhas preocupações, minhas frustrações eram suas frustrações e vice versa, a gente dividia tudo, mas agora eu quis lhe poupar, afinal sua gravidez é mais importante do que meus problemas.
Ela acorda, olha pra mim e abre um sorriso.
- Bom dia, bebê - Digo eu devolvendo o sorriso junto com um beijo.
- Bom dia, amor. Dormiu bem? - Pergunta meia sonolenta.
"Não, não dormi nada bem, eu estou muito angustiado por eles terem rejeitado meu projeto. Projeto esse, que trabalhei durante meses a fio, passei noites acordado pra deixá-lo perfeito, moderno, arrojado e econômico". Era o que eu teria dito, em outrora, mas hoje o que eu responde foi:
- Dormi muito bem, vida, e você?
- Também. Amor que horas são?
- Já são dez pras sete. Pera, eu disse dez pra sete, mds tenho que correr se não chego atrasado na empresa. E hoje não dá pra chegar atrasado. - Digo pulando da cama, como se ela tivesse pegando fogo.
- Mas, por que você não pode se atrasar hoje?
- Porque o Eduardo volta hoje de férias, e quero o pegar logo na entrada se não dará mais pra falar com ele o dia inteiro. - respondo já colocando a calça por cima do pijama.
- Por que?
- Porque os puxa-sacos estarão em cima dele o dia todo, como urubus na carniça.
- Não, perguntei por que você quer pegar ele logo na entrada, o que você quer com ele? - Disse você rindo. E como é bonito seu sorriso.
- Quero apresentar-lhe meu projeto. Vai que goste, não posso desistir de primeira. - Respondi já pondo os sapatos.
- É isso aí amor, desistir é pros fracos.- Disse dando um nó na minha gravata.
- Obrigado, amor. - Lhe dei outro beijo.
- Não precisa agradecer. - Você me responde com um olhar fraterno.
Corro pro banheiro pra lavar o rosto, pentear os cabelos e escovar os dentes.Saio do banheiro, quando desço minha esposa já está na cozinha preparando a mesa do café. Chego por trás dou um abraço impressando aquele barrigão bonito.
- Ôh, seu doido, percebeu que você quase me fez derrubar o leiteira quente, rum! - Diz ela bravinha porque detesta levar susto, mesmo que seja um sustinho atoa.
- Não derrubando em mim...- Falo rindo.
- Pode crê que o resto eu jogaria em você com leiteira e tudo. Marmenino tô mole mesmo. - Diz rindo.
Pego um pão passo o requeijão e já começo a comer. Minha esposa olha com a maior cara de desaprovação. Eu a olho com a cara que "ixiii, fiz merda".
- Bernardo, quantas vezes tenho que te falar pra comer o pão no prato!!?? Aí você come assim em pé sujando todo o assoalho de falero de pão. E depois eu que tenho que limpar, né seu Jão-suja-tudo.
- Desculpa amor, é que tô com pressa. Já tô indo, beijo. - Falo enquanto bebo meu café.
Termino, vou até ela e lhe dou um beijo.
- Amor, me deseja sorte.
- Vai dar tudo certo, meu anjo. Certeza que o Eduardo irá amar seu projeto. Você é o melhor arquiteto de São Paulo.
- Suas palavras são tão reconfortante meu amor, obrigado pelo apoio. E, sobre ser melhor arquiteto, bem, de São Paulo eu não sei, mas daqui de casa eu sou sim.
- Mas eu não sou arquiteta, uai. - Fala seu entender nada.
- Por isso... - Digo rindo muito.
- Ava cagar seu bestão. - Diz rindo e me dando um tapinha nas costa.
Viro dou-lhe um beijo e saio.
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Margarina
RomanceBernardo Laurito é um talentoso arquiteto que tem como meta dar o melhor pra sua família. Casado com uma brilhante secretária executiva, Laura Laurito. Os dois formam uma família perfeita, um retrato vivo daqueles comerciais de Margarina. Porém com...