Meu sobrenome não é Smith

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    A irritação da vampira de 700 anos era tanta que quase chegava a ser palpável... Ela entendia o medo e pudor de sua menina, mas, os xingamentos não tinham espaço em sua lista de relevância. Para ela, a vampirinha que tentava fugir a todo custo pela porta trancada, precisava urgentemente de limites, e Melissa estava disposta a dar-lhe esse incentivo. A mulher alta de cabelos ondulados e aparência bonita caminhou com calma até a pequena criança que quase quebrava a maçaneta de sua entrada; afoita para fugir. Mel sabia que antes de qualquer coisa precisava explicar como tudo funcionava ali na pequena cidade, ela tinha que dizer a Kimberly que a partir de agora a mesma e Mia eram suas responsáveis, que ali em Mitshat ela e Emanuelle não passavam de duas criancinhas aos olhos dos adultos, e que mesmo a contra gosto, teriam que se acostumar com a nova vida. Não... Não era nada fácil mudar de casa, hábitos e tudo mais, Melissa sabia muito bem disso, entretanto, não tinha outra forma das coisas acontecerem; ao menos não ali em Mitshat.

    - Não precisa ser assim Kimberly... Mesmo com toda essa cena, estou disposta a fingir que nada aconteceu e ainda te explicar como as coisas vão funcionar daqui em diante, sem antes lhe dar uns tapas. Mais uma vez, é você quem decide.- Ofereceu Melissa com calma na voz, já próxima de sua cria, que mal lhe dava ouvidos, se ocupando apenas em socar a porta com força; enfurecida por não conseguir abri-la.

    - Eu só quero ir embora... Me deixa sair daqui!- Pediu a menina com voz de choro em tom alto, se virando para a mulher mais velha, percebendo então o quão ferrada estava ao vislumbrar seu semblante sério.

    - Vamos conversar, garanto que tudo que está acontecendo fará sentido.- Prometeu Melissa tentando não parecer a sequestradora que possivelmente era aos olhos da menor.

     - Eu não quero conversar porra!- Xingou em tom alto, socando novamente a porta atrás de si. A adolescente de 18 anos nunca fora boa com diálogos, normalmente resolvia suas questões a base de socos e pontapés; não seria agora que perderia tempo com palavras.- Apenas quero ir embora! E quero agora!- Exigiu em tom forte, novamente se colocando em posição de ataque; pronta para lutar por seus direitos.

    Estava claro o que Melissa precisava fazer... A pequena menina praticamente implorava por uns tapas. A vampira maior não podia deixar que sua criança tomasse as rédeas da situação, ela era a mãe ali, não o contrário; Kimberly não estava em posição de exigir nada.

    - Quer mesmo ir por esse caminho?- Questionou a maior, realmente tentando oferecer uma segunda chance para a adolescente, que apenas lhe encarou com fúria e rosnou; imitando lobos quando estão chateados.- Ok Kimberly... Depois não venha me dizer que não tentei.

    A cena que veio a seguir fez o coração da menor disparar por medo e adrenalina. Melissa novamente lhe agarrava o braço com força, entretanto, dessa vez, a menor não se deixaria ser arrastada. Sem pensar duas vezes, Kimberly, com a mão que lhe sobrara, se pôs a bater com força contra o estômago da maior, que sentia os impactos dos punhos fechados da filha, porém, não era capaz de sentir dor alguma. A mulher de sete séculos não podia acreditar que a pirralha recém chegada estava a lhe bater... Aquilo foi o pingo que faltava para sua paciência transbordar e ir direto para o ralo.

    Melissa então, sabendo de seu dever, apertou com força a mão que segurava o antebraço de sua cria, e com a firmeza de um ditador, arrastou o corpo miúdo preso a si pelo pequeno percurso que existia da entrada até o sofá; ao que também ouvia a menor soltar xingamentos nada agradáveis direcionados a sua pessoa. Notando que a menina de cabelos praticamente brancos não lhe daria ouvidos, Melissa deu a volta no grande acento de couro de sua sala, e se colocou sentada sobre o mesmo; não perdendo tempo ao também puxar Kimberly para si. A adolescente que caiu deitada de bruços no colo da mais velha, sentiu suas bochechas queimarem pela posição desagradável em que fora colocada, e para se expressar, socou o móvel enfurecida; por novamente não conseguir se soltar.

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