Devaneios

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Terceira Pessoa

Os olhos verdes estavam pregados na tela do computador, aprisionados no show de carros em alta velocidade em meio aos prédios enormes de Nova York.

Lydia já se considerava refém de filmes de ação a muito tempo. Entretanto, poder apreciá-los em seu trabalho pacato e entediante a tornava ainda mais fã.

A biblioteca antiga estava vazia e silenciosa, cada vez mais inabitável. Os únicos sons notáveis eram o ventilador velho que girava no teto e os estrondos que escapavam do fone de ouvido de Lydia.

Concentrada nas cenas explosivas, a ruiva não escutou quando o sino da porta – depois do que era considerado por ela uma eternidade – finalmente tocou, denunciando que alguém havia entrado na biblioteca.

Martin só desconcentrou-se do filme quando um vulto surgiu em sua frente. Os olhos surpresos ergueram da tela, deparando-se com um jovem magro, alto e de semblante sério.

Próximo a mesa dela, ele a olhava em silêncio. A atmosfera que ele carregava fez Lydia sentir-se nervosa, desejando levar as mãos aos cabelos para arrumá-los.

Ela se afastou do computador, ainda sentada, e lutando contra a agitação enlouquecida dos hormônios, levou as mãos aos fones e os retirou.

O barulho da produção cinematográfica preencheu o pequeno espaço entre eles, atraindo a atenção do rapaz que juntou o cenho, aparentando confusão ao ouvir os sons de pneus freando e tiros ecoando.

– Eu poderia apostar que você estava assistindo Titanic.

O comentário bem-humorado fez Lydia soltar uma pequena risada em meio ao alívio que afogou as borboletas no estômago.

Nervosa, ela negou ligeiramente com a cabeça ao fechar os olhos, se concentrando no que deveria dizer.

– Me desculpe, eu estava distraída. Como posso ajudá-lo?

Ela se recompôs na cadeira, escorando-se e respirando fundo, olhando-o nos olhos. Observou com atenção o topete do cabelo bem cortado, a barba que ameaçava preencher o maxilar e como os olhos castanhos eram firmes nos dela.

O jovem lambeu os lábios finos, suspirou baixinho e passeou a visão pelo colo feminino. Algo nele fez Lydia desejar apertar as pernas.

– Preciso de livros técnicos sobre pintura.

Martin agitou nervosamente o pé escondido em baixo da mesa. Concentrada em respirar, ela acenou com a cabeça e voltou a atenção para o computador. Sob observação dos olhos castanhos, abriu o histórico da biblioteca e buscou pelo gênero.

– Alguma preferência?

– Não.

Lydia acenou novamente com a cabeça e após mais alguns cliques, se levantou e ao estender um braço rumo as estantes, pediu:

– Me acompanhe, por favor.

Ela caminhou, escutando passos a seguirem rumo as estantes lotadas de livros. Ao entrarem no corredor correspondente ao gênero desejado, a voz masculina a atingiu:

– Como você se chama?

Lydia lançou um curioso olhar para trás, sendo retribuída por ele. Ela lutou contra o esboço de um sorriso, comprimindo os lábios grossos.

– Estou cansado de imaginá-la apenas como atendente.

– Isso faz, no máximo, cinco minutos.

– Já é tempo o suficiente.

Ela encheu os pulmões de ar, sentindo o rosto arder e grata por estar fora do campo de visão dele. Intimidada com a firmeza e o misto de humor na voz masculina, tentou distraí-lo:

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