Capítulo 1

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O som que ecoou quando o molho de chaves de Becky Felton caiu sobre o piso do corredor, não pareceu ter causado um grande baque, embora o som que estrondou em seus ouvidos foi fora do comum ao captar aquilo. Ela estremeceu, fechando os olhos, um lampejo de dor lhe atingiu com isso, o suor em seu corpo deixava sua pele grudenta, a coceira incessante no corpo a fazia querer rasgar a pele, sem contar naquele calor inflamável que ardia como se estivesse banhada por chamas, não seria uma febre comum, Becky sabia que sua imunidade era alta para doenças, sempre se considerou forte, desde criança, ela era a única dos cinco irmãos a não se adoecer tanto, então pelos infernos, que diabos ela estava sentindo?

Ela apoiou uma mão contra sua porta, bufando, o barulho fora do prédio era ensurdecedor, ela podia ouvir o barulho de cachorros latindo em algum maldito canto da rua, pudera talvez alguém ter acionado o alarme de algum carro, porque seus ouvidos zumbiam com o barulho abrasante.

Esfregando sua têmpora, curvou o corpo, abaixando-se para apanhar suas chaves.

Um banho. Pensou, ela precisava relaxar, descansar um pouco. Seu dia havia sido exaustivo, segunda nem sempre era seu dia favorito da semana, outrora, essa houvesse sido terrível. Sua manhã havia sido horrível. Tinha passado a maior parte do dia com  pequenas dores no corpo e uma enxaqueca leve, tinha que agradecer aos céus o expediente de hoje ter sido calmo, a passagem de pessoas na loja de variedades em que trabalhava era pequena em Greenlack, uma cidadezinha pequena enterrada no Alaska.

Beck grunhiu algo quando um som titubeou, parecia o barulho de madeira rangendo, aquilo estremeceu cada parte do seu corpo em incômodo.

Ouviu uma barulheira de vozes, vindo de algum lugar distante, algum casal parecia discutir enquanto mais e mais sirenes ecoavam.

Pac. Pac. Pac. Cada mero som, era um latejo perfurante. Os cachorros continuavam ao longe, mesclando com o barulho do trânsito que estava se tornando cada vez mais alto.

Junto com as dores.

Ela inalou fundo, respirando em seguida, a forte onda de aromas que capturou foi nauseante, causando uma leve tontura.

Pondo uma mão sobre sua face, deixando um resmungo escapar, Beck se encostou sobre a parede, tentando acalmar seus sentidos.

Suor. Muito suor.

Batidas aceleradas. A respiração pesando. O corpo esquentando. Santo inferno. O que diabos a estava acontecendo?

Ela estava tendo um ataque fulminante?

— Você está bem? — Uma voz rouca vibrou em ondas sonoras para ela, pareceu ter eco por um momento, com seu olhar se erguendo em velocidade para sua frente, vendo um homem de regata surgir no corredor a frente, ainda segurando o corrimão da escada.

O homem, a fitava com um olhar neutro, os olhos eram grandes, ou sua visão estava meio embaraçada,  para distinguir isso, mas ela notou que eram claros, pelo reflexo da luz do corredor.

Piscando os olhos, o fitou com atenção.

Era seu vizinho, notou, um cara enorme, de pele marcada por tatuagens, com um tom bronzeado, dono de um corpo musculoso, exposto sobre a regata cinza que usava e os jens surrados, que apertava as pernas torneadas.

Os cabelos negros, em fios lisos, tinha uma tonalidade meio clara, quase castanha, se analisasse com mais profundidade.

Tinha tatuagens nos braços, notou tambem que no peitoral possuía símbolos e marcas estranhas para ela.

Ele era muito bonito, Beck sempre o tinha notado nas vagas vezes em que ambos se esbarraram pelo prédio. Bom, ela era orgulhosa demais para admitir, embora pudesse constatar naquele instante, o quanto o homem era quente.

Beck só não sabia seu nome, e qualquer outra coisa relacionada ao homem, apenas que ele deveria ser alguma espécie de motoqueiro, já que possuía uma motocicleta nesse estilo e um cachorro, apesar de nunca o ter visto, ela já ouviu alguns sons semelhantes a latidos vindo de seu apartamento, portanto supôs que houvesse um.

— Uhum. — Resmungou em uma resposta incoerente, ainda o fitando.

— Não parece. — Exclamou sério, semicerrando os olhos para ela, parecendo averiguar cada mínimo traço seu.

Beck sentiu uma gota de suor deslizando por seu pescoço, para o caminho entre seus seios.

O formigamento em sua pele parecia se tornar cada vez mais insuportável, ela provavelmente causaria marcas feias em seu corpo se usasse suas unhas para aliviar aquela inquietação.

Engoliu em seco, a falta de saliva poderia ser o seu último problema em meio aquelas sensações ruins.

Um sobressalto a tomou, quando em um piscar de olhos, o homem estava a um passo de distância de seu corpo, próximo o suficiente ao ponto em que ele pudesse tocar-la, e assustou o fato de que ela não havia notado ele se aproximando.

Quão ruim ela estava?

Sentiu quando ele tocou seu rosto, com a palma de sua mão acalentando sua bochecha, o mais estranho, foi como seu corpo reagiu a isso, gritando em ondas de erupção de calor, parecendo expandir aquela ardência grotesca, contraindo os dedos dos pés, Beck arfou com aquilo.

— Olhe para mim. — Ouviu um brando, entretanto, estava focada demais naquele misto de sensações que giravam em seu estômago. Pensou por um instante em pavor, que estaria contaminada com alguma virose atual.

Seu rosto foi tomado por dedos firmes, sendo obrigada a fitar grandes olhos azuis claros.

Foi como se adentrasse em um lugar escuro, sendo puxada por algo, quando aquelas íris opalas a instigaram, tomando controle de seu foco.

Em minutos, sua respiração fraca, travou.

— Foi como imaginei. — O cara chiou. — Você está em transição. Seu corpo está despertando seus instintos.

O que? Que merda...

Sua linha de pensamentos foi tomada, quando a mão dele desceu para seu pescoço, acariciando com um cuidado zeloso.

Mesmo o mísero fiapo de cabelo de Beck se arrepiou, quando assistiu o cara enterrar o rosto em seu pescoço, inalando seu pescoço com esmero.

Ela jogou um grunhido para fora de seus lábios, assim que sentiu o toque dele se chocar contra si.

O homem era louco?

Que merda estava fazendo?

Pronta para gritar com o desgraçado, sua fala falhou, quando um rosnado afiado ecoou por seus ouvidos, seu corpo estremeceu por inteiro quando se deu conta que aquilo tinha vindo dele.

Sua cabeça se ergueu, ele olhou fixamente para ela, os olhos diferentes, com um brilho incomum sobre eles.

O homem fechou os olhos, inspirando fundo, parecendo disposto a inalar todo o ar entorno de Beck, abrindo seus olhos depois de alguns minutos, a fitando com ferocidade.

Você precisa acasalar.

Putz.

NAS GARRAS DO ALFAOnde histórias criam vida. Descubra agora