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Eunji caminhava pelo palco segurando o microfone em mãos, vez ou outra rindo baixinho sobre qualquer coisa murmurada para ou por seus colegas de banda. Fechou os olhos com força, logo os abrindo novamente e aproveitando a melodia simples que saía da guitarra de apoio,  deixando-se levar e realizando leves movimentos de vai e vem com a cabeça.

O som da guitarra acabou, e a mulher voltou a olhar para a platéia. Celulares apontados para si, ela respirou fundo, dispensando a banda de apoio para uma pequena pausa. Era uma costume de Han ter o palco só para si e desenvolver longos monólogos enquanto seus colegas descansavam por alguns minutos. Naquela noite, no entanto, o monólogo seria especial, por que ela estava ali.

Faziam anos que não se falavam, e Eunji não podia culpá-la por isso, não. Na verdade,mais do que a amava, Eunji a respeitava e, se era espaço que Jiwon precisava, era o que ela teria. Cinco anos após um término repentino e turbulento, após novos protótipos de relações falhas e músicas e mais músicas escritas, no entanto, Eunji sentia que era a hora de finalmente lembrar Jiwon que a amava, mais do que em músicas que ela não teria tanta certeza de que eram para ela.

-Hm...Vocês estão se divertindo? -A platéia gritou, mais alto do que havia gritado antes, fazendo Han gargalhar baixinho. Ela se sentou na beira do palco, as pernas pendendo para fora dele, as balançando levemente.- Faz muito tempo desde a última vez que estive aqui, hm? Vocês devem saber que eu estive em turnê fora, passei os últimos três meses falando em inglês o tempo todo e é um tanto quanto difícil para mim voltar a falar minha língua nativa agora, não sei muito bem como me expressar. Mas é muito bom estar de volta em casa!

A platéia gritou novamente, e Han correu seu olhar por toda ela, procurando um rosto familiar que não encontrou. Suspirou frustrada, antes de prosseguir:

-Bom, eu vou cantar uma música para vocês hoje. Uma música que nunca cantei em lugar algum, por que aqui é especial. A pessoa para quem ela foi escrita está aqui e, embora mais de uma pessoa aqui talvez ache que a música é para si, ela terá certeza de que é para ela. -A mulher respirou fundo, repousando a mão destra sobre a coxa e passeando mais uma vez seu olhar pelo local lotado, completamente em vão.- Há alguns anos, eu passei por um término que me destruiu. De verdade, eu nunca mais fui a mesma depois dele. Não digo que ela era uma pessoa ruim, sabe? Nenhuma de nós era. Era só....Nós nos amávamos demais, mas acho que naquele momento, só amor talvez não fosse o suficiente. Nós terminamos mesmo ainda nos amando, mesmo sem uma ter machucado a outra, mesmo tendo todas as razões do mundo para ficarmos juntas por que, naquele momento, só amor não era o suficiente. 

O público se colocou em silêncio, exceto por muxoxos baixinhos escutados vez ou outra.

-O ponto é que....Após esse término, eu me coloquei escrevendo músicas de amor para ela e, logo em seguida, escrevendo músicas de amor para mim, para tentar me convencer de que o amor não existe. Mas existe, por que com todas as razões que eu tinha para insistir, com toda a minha vontade de nunca sair de perto dela, eu fui embora. Por que ela ficaria melhor sem mim. Pelo menos naquele momento.

Quando Eunji se levantou novamente, pôde sentir os olhos mais grudados em si do que nunca. Caminhou até o pedestal, fixando novamente o microfone ali e pegando a guitarra, a pendurando em seu pescoço. Dedilhava as cordas de forma delicada, formando uma melodia calma, e então voltou a falar:

-Se o amor não existe, se o amor é coisa de livros, como vocês me ouviram cantar mais cedo, por que em vez de ser egoísta e insistir eu escolhi ir embora e a deixar ser feliz? Nada nunca doeu tanto em mim. Nenhuma injeção no mundo. Eu acho que trocaria todos os prêmios que ganhei por músicas tristes escritas sobre ela se fosse para a ter de volta, com a certeza de que daríamos certo.

Seus olhos se encheram de lágrimas, e Han largou a guitarra por alguns segundos, passando as palmas das mãos por eles a fim de secá-los. Se sentia vulnerável como jamais havia sentido. Sentia seu corpo todo suar frio quando sua voz escapou falha, quase num sussurro, cantando a música que escrevera para Park Jiwon.

all these years - eunjiwonWhere stories live. Discover now