01

198 29 35
                                    

"O garoto que conhece a garota dos seus sonhos. Essa é a história deles. Mas, você deve saber, não se engane. Não é uma história de amor."

Aprendi a um tempo atrás, que uma mera decisão é capaz de mudar nossas vidas num simples piscar de olhos. Da mesma maneira que existem pessoas destinadas a desequilibrar nosso mundo, como perfeitos furacões.

Tanto na questão das escolhas quanto na questão das pessoas, vai depender de cada um. Podemos fazer disso uma tragédia ou seguir em frente na tentativa de concertar os erros cometidos. Isso chega a ser engraçado. Pois as vezes não damos a mínima para as decisões que tomamos e muito menos para quem entra ou sai das nossas vidas.

Quando eu era pequeno costumava me imaginar no futuro, como um famoso advogado. Para meu azar, sempre existiu pessoas para dizer que aquilo não passava de um sonho bobo de criança. Típico das pessoas que por algum motivo não foram capazes de realizar seus próprios sonhos e que, agora sem esperanças, vivem tentando destruir os sonhos das outras pessoas, era isso que minha mãe dizia. Nunca liguei muito para esses comentários, afinal, meus pais sempre foram bons em me consolar. Ok, acho que realmente tenho os melhores pais do mundo, e isso é muito bom. Só existe uma coisinha que vêm me intrigando ultimamente, o fato de me sentir vazio.

Sempre acreditei que houvesse alguma razão pras coisas acontecerem. Sei que meu modo de pensar é um pouco estranho, principalmente nos dias atuais. Mas, acredito que cada um de nós está conectado a uma pessoa especial. Irei assumir, sou um clichê sem salvação, por realmente achar que em algum lugar lá fora exista uma garota que se encontra perdida e confusa, assim como eu. Sou mais clichê ainda por cogitar a ideia de que, se eu a encontrá-la talvez este meu vazio finalmente será preenchido. Bobagem! Sonhos de um garoto iludido.

— Terra chamando Charlie. Terra chamando...

Saio de meus pensamentos com os estalar de dedos da minha irmã, Polly. A encaro assustado inicialmente, tenho uma certa facilidade de me perder em pensamentos. Vejo seus cabelos bagunçados preso num coque sustentado por suas velhas baquetas, da sua ainda mais velha bateria. Demoro alguns segundos para perceber que seus dedos permanecem estalando frenéticos a pouco centímetros do meu nariz.

— Quê diabos! Quantas vezes tenho que dizer para não fazer isso? — pergunto empurrando sua mão.

— Ótimo, ele voltou! — exclamou aliviada ignorando a minha pergunta. — É a sua vez agora irmãozinho. Mãe, pai, perguntem ao Charlie como foi o dia dele. Chega desse maldito interrogatório. Todo santo dia é a mesma coisa. — era evidente o nervosismo na sua voz.

— Pollyana. — repreendeu nosso pai com a voz alterada, minha irmã sempre o tirou do sério com uma facilidade assustadora. — Você ainda não nos disse como estão suas aulas de música e nem as de dança.

— Estão ótimas, pai. — responde desgostosa, com a mesma expressão de melancolia que sempre fazia quando tinha que falar das aulas de dança. — Ei, Charlie, que tal uma ajudinha aqui, hein? — em um gesto que acho que era para parecer discreto ela aponta para nossos pais.

Com a maior ousadia do mundo Polly retribui e ainda sorri enquanto papai lhe olhava com completo desgosto.

— Não ligue para os comentários da sua irmã. Contudo, não posso negar que estou curiosa para saber como foi o seu dia. — a voz calma da minha mãe suaviliza o clima pesado que se formava na pequena mesa de jantar.

— Foi interessante.

Em questão de segundos toda atenção se voltou exclusivamente sobre mim. É o jeito deles. Desde que Polly e eu nascemos os dois ficaram obcecados para estarem presentes em cada momento. Cada suspiro, cada palavra que dávamos era um motivo de alegria para ambos. Entretanto, minha irmã não suporta todo esse "amor" dos nossos pais. Ela enlouquece em todos os interrogatórios, que para mim sinceramente já são rotina.

Promete Que Amanhã Vai Estar Aqui? [EM PAUSA]Onde histórias criam vida. Descubra agora