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Continuo colocando os produtos nas prateleiras, mesmo que minhas mãos estejam visivelmente tremendo. Silenciosamente me amaldiçou por ter sido tão estúpido. Não devia ter levado aquele caderno para casa. Em minha defesa apenas esqueci que segurava o mesmo e quando dei por mim, simplesmente o guardei na mochila. Por que diabos eu fui ler ele? Maldição. Minha curiosidade falou mais alto e agora olhe para meu estado. Talvez, de fato, eu seja um pouco medroso mas o que eu vi naquele estranho caderno me deixou realmente assustado.

Pela aparência da capa era óbvio que se tratava de um caderno velho, entretanto, seu conteúdo era bastante atual. As folhas amareladas estavam repletas de fotos de vários lugares da cidade, em baixo de cada uma, havia uma discrição de como foi invadir aquele local. Uma folha em especial me fez sentir gotas de suor escorrer pela testa, de algum modo ela conseguiu uma planta do colégio que frequento e lá estava, colada e marcada com o caminho que a delinquente usaria. Digo "ela" por causa da bela caligrafia, nem mesmo se eu me esforçasse o triplo conseguiria ter uma letra tão bonita quanto aquela.

Outra coisa que me deixou interessado foi o modo que ela descreveu seus atos, utilizando frases de autores não muito conhecidos, mas que ao ver aquelas palavras reconheci no mesmo estante. Aquilo até fez meu coração por uma fração de segundos bater desgovernado. Mas, ainda me pergunto quem é C.M.

Ok, talvez eu tenha me interessado um pouquinho. Contudo, meu interesse é apenas por sua caligrafia e seu gosto por livros. Nunca conseguiria me envolver com pessoas que gostam desse tipo de "diversão". Claro que respeito quem curte, só que não é para mim.

Para deixar mais claro, nem vida amorosa eu tenho, minha última namorada durou cerca de duas semanas até que decidimos juntos que o melhor era terminar. Foi aí que comecei a pensar que estamos ligados a uma pessoa especial, me pergunto se um dia irei encontrar a minha. Não sou o tipo preferido das garotas, a única razão de chamar a atenção de algumas é apenas por causa da minha altura. Não sou capaz de me comunicar perfeitamente com quase ninguém, sempre preferi ficar calado, observando e isso dificulta muito em um encontro.

— CHARLIE WAGGNER! COMO VOCÊ CRESCEU!

Assustado dou um pulo para trás deixando a caixa vazia de madeira cair no chão, fazendo um gigantesco barulho atraindo olhares de vários clientes que passavam. Com o coração acelerado dou um curto suspiro de alívio por saber que a caixa estava vazia, se algum produto fosse danificado no mesmo segundo eu perderia meu emprego. Meu chefe não é o cara mais amável do mundo, perto dele o senhor Watson é um homem simpático.

— Droga, foi mal aí Charlie. — Tom corre para pegar a caixa e me entregá-la um pouco sem graça.

— Não atormente o irmão da líder, Tomas. Você sabe que ela fica maluca quando mexem com ele. — diz um garoto, o qual nunca vi antes, dando uma cotovelada nas costelas de Tom. — Ah, que cabeça a minha, nem me apresentei. Prazer, sou Vitor, estudo com a sua irmã. — fala olhando para mim, com um sorriso cínico.

Polly não estuda mais no colégio principal da cidade. Na verdade, inicialmente, não frequentavamos nenhuma escola. Estudamos em casa por 7 longos anos. Mamãe é professora e meu pai adorou a idéia em nos manter confinados em casa como se tivéssemos alguma doença contagiosa. Mas o verdadeiro motivo era que os dois nos queriam exclusivamente para eles.

Já faz dois anos que Polly começou a estudar no colégio especial, aquele tipo aonde as aulas são mais avançadas e a maioria é prática. Por isso ela já conseguiu uma vaga na universidade. Meus pais também tentaram me matricular nele, mas, eu não consigo acompanhar o ritmo. Então, permaneci no colégio da cidade, o mesmo aonde Polly vai às vezes me visitar ou apenas para irritar os professores. Minha irmã não liga para nada que não seja seu carro e os seus bens mais valiosos (seus materiais de pintura e sua bateria).

Promete Que Amanhã Vai Estar Aqui? [EM PAUSA]Onde histórias criam vida. Descubra agora