— Mike... Droga, Mike... — Samuel sussurrou, sua cabeça latejando com o choque de adrenalina, enquanto fechava os olhos do amigo.
Aquele tipo de coisa era risco ocupacional, mas nunca deixava de doer.
Agora, Samuel sabia que havia um passageiro a mais naquele navio.
Ele fechou os olhos, tentando se concentrar, e conseguiu distinguir o som que estava procurando. Passos, distantes, mas velozes, como o galope de uma presa assustada.
Lentamente, Sam pegou o revólver Colt de sua cintura e adentrou nos corredores escuros e fechados da sala de máquinas.
Fez uma, duas, três curvas e, quanto mais o tempo passava, mais ruidosa sua respiração ficava.
Só faltam o quê, vinte minutos até chegarmos na costa?, pensou. Ele não tem como sair vivo desse barco.
Não com a amostra do Toxoplasma.
Os olhos de Sam corriam pelo chão, procurando alguma pista do paradeiro do assassino, enquanto apertava com força o cabo da Colt. O lugar era um labirinto de paredes cinzas e placas de aço, rodeado por canos barulhentos e manivelas úmidas, e o cheiro de ferrugem era tão forte que preenchia seu olfato e seu paladar.
O gosto era familiar.
O mesmo gosto da água.
Sam parou por um instante. Não podia se lembrar, não agora, tão perto de concluir sua missão. Só faltam vinte minutos, droga.
Entretanto, ao passar por uma escotilha aberta, encontrou algo que o atingiu como um murro no estômago.
Jogada de forma violenta no chão estava uma maleta preta, aberta — uma maleta que deveria estar trancada no cofre da fragata — e um tubo de ensaio fechado, manchado de azul.
Aquele tubo.
Não havia muito que Samuel zarpara do Marrocos, junto a sua pequena tripulação. Fora uma missão simples, para duas pessoas — Samuel e Michael, enquanto os outros ficavam no porto — e tudo o que precisavam fazer era dirigir um caminhão-pipa e levar um carregamento de água para uma pequena vila, afetada pela seca de 1973 no norte da África. Ele ainda lembrava dos sorrisos daquele povo de olhos castanhos, de homens, mulheres e crianças, enquanto ele e Mike distribuíam as garrafas azuis. Eles ficaram eufóricos — tanto que nem perceberam o gosto de ferrugem na água, ou a bateria de exames de laboratório que os dois agentes estavam fazendo nos aldeões.
Agentes, porque Samuel e Michael não trabalhavam pra ONU.
Trabalhavam pra CIA, e a CIA não faz serviço voluntário, nem caridade.
Após uma semana, metade do vilarejo estava tendo vômitos profusos e hemorragias espontâneas. Após duas, todo o vilarejo estava em estado vegetativo, completamente desprovidos de qualquer função neurológica. Naquela água estava o protótipo do Toxoplasma sektor, a primeira arma 100% biológica dos Estados Unidos.
Muito mais insidiosa que qualquer bomba atômica, a bactéria de rápido contágio poderia mudar os rumos da guerra fria — e, talvez, salvar alguns de seus irmãos-de-armas no Vietnã.
Poderia, Sam pensou, se a maleta que continha a última amostra não estivesse jogada no chão e completamente vazia.
Meu país precisava de mim. O que mais eu poderia fazer?
Ele suspirou fundo e se levantou, mas já era tarde demais — os segundos de distração haviam lhe custado caro.
Mal conseguiu reagir à coronhada na testa.
Ele cambaleou, dando alguns passos para trás, recobrou a postura e abriu os olhos.
Na sua frente estava a Tenente Mallory Oakes, oficial de comunicações do navio, sorrindo para ele, segurando um tubo de ensaio azul em uma mão e uma pistola prateada na outra.
Águia.
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Águia e Gavião
ActionEle achava que o Águia era uma lenda... Agora, vai ter que enfrentar a realidade. No auge da Guerra Fria, o agente da CIA Samuel Thompson achava que havia completado sua missão. Entretanto, alguns minutos antes de chegar a seu destino, ele descobre...